Por tamyres.matos

Rio - Com dois curta-metragens de muito sucesso no currículo, Daniel Ribeiro pode afirmar que sua carreira começou com o pé direito. Nesta sexta-feira, seu primeiro longa, "Hoje eu quero voltar sozinho", venceu a categoria Melhor Filme no Prêmio da Federação Internacional dos Críticos de Cinema (Fipresci) no Festival de Berlim. A previsão de lançamento do filme, que integra a mostra Panorama em Berlim, no Brasil é 28 de março. A obra concorre ainda ao prêmio oficial da categoria, que será escolhido por um júri oficial e entregue no sábado.

Protagonistas Fábio Audi%2C Ghilherme Lobo%2C Tess Amorim ao lado do diretor Daniel RibeiroDivulgação

"Foi tudo tão rápido desde o curta 'Eu não quero voltar sozinho'... Tivemos uma recepção muito positiva e acho que conseguimos entender o que o público gostava no filme. Nós nem imaginávamos que íamos receber esse prêmio aqui. Estou muito contente, é incrível", celebra Ribeiro.

A base de fãs do filme, mesmo antes do lançamento no país, é grande devido à repercussão do projeto na Internet. "Eu não quero voltar sozinho" foi assistido por mais de 3 milhões de pessoas. A página do longa no Facebook foi curtida por mais de 58 mil pessoas e o número não para de subir. Os internautas tecem elogios entusiasmados e reiteram a ansiedade para assistir o filme, que será como uma versão estendida do curta.

"Hoje eu quero voltar sozinho" conta a história Leo (Ghilherme Lobo), um adolescente cego que leva uma vida normal e não desgruda de sua melhor amiga Giovana (Tess Amorim). Tudo vai bem, até que Gabriel (Fabio Audi), um novo estudante, entra para a escola, desequilibra a amizade entre os dois e provoca em Leo sensações que ele nunca havia experimentado.

Além de ter de aprender a lidar com o que sente por Gabriel, Leo também começa a querer lidar com o mundo de uma nova forma. Ele, que é cego, já não quer mais ser levado pelo braço para casa, quer viajar, ficar sozinho, beijar, beber.

Amor e preconceito

Com seu primeiro curta, "Café com leite" (2008), Daniel já recebeu diversos prêmios, entre eles o Urso de Cristal de Melhor Curta-Metragem no Festival de Berlim. Seu segundo trabalho, "Eu Não Quero Voltar Sozinho" foi exibido em mais de 100 festivais onde recebeu 82 prêmios, como o de Melhor Curta Metragem, na votação do Júri Popular, no Festival Rio Gay.

Imagem do cartaz internacional do filme 'Hoje eu quero voltar sozinho'Divulgação

Em 2011, o curta foi protagonista de uma polêmica no Acre. Incluído no programa Cine Educação, em parceria com a Mostra Latino-Americana de Cinema e Direitos Humanos, o filme foi selecionado por uma professora e exibido em sala de aula. Um grupo de alunos confundiu o trabalho com o kit anti-homofobia e levou o caso a religiosos locais.

Estes resolveram acionar os políticos da região exigindo a interrupção do exibição do curta para os jovens do Acre. Após isto, além da censura ao curta, o programa Cine Educação foi inteiramente proibido no estado. Em carta divulgada no site do filme, os produtores desabafaram: "Mais uma vez no Brasil, a educação perde a batalha contra o poder assustador das bancadas religiosas e conservadoras".

A discussão da homossexualidade - e, consequentemente, da homofobia - segue no olho do furacão no Brasil e no mundo. "Hoje eu quero voltar sozinho" vem a reboque disto, mas sem levantar bandeiras. "Costumamos insistir na discussão política da homofobia, o que é importante, claro, mas desta vez estamos falando de amor. É tanta violência no nosso cotidiano, acho que o filme ajuda a lembrar que o mais especial é o amor. E que este sentimento devia vencer qualquer tipo de preconceito".

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