Por daniela.lima

Rio - O tema desejo é recorrente na obra de Deborah Colker. Mas foi preciso completar 21 anos de companhia para encarar ‘Belle’, que estreia amanhã, no Theatro Municipal. “No Carnaval está todo mundo pelado aqui, mas falar sobre esse assunto ainda é um tabu”, diz a coreógrafa, que teve como inspiração para seu novo espetáculo o romance ‘Belle de Jour’ (1928), de Joseph Kessel, sobre uma mulher casada que passa as tardes em um bordel. 

A coreógrafa carioca Deborah Colker no Theatro Municipal%2C onde estreia temporada de ‘Belle’%2C espetáculo inspirado no romance ‘Belle de Jour’ João Laet / Agência O Dia


“Acho que tenho obsessão em saber o que é o amor, desejo, instinto, a condição e a alma humana”, comenta Deborah. Ainda meio perdida após o fim da turnê de ‘Tatyana’, balé baseado em ‘Evguêni Oniéguin’, de Alexandr Púchkin, em 2011, ela se deparou com Catherine Deneuve na pele da protagonista Séverine, do famoso filme ‘Belle de Jour’ (1967), de Luis Buñuel. Desse momento em diante, não parou de pensar naquela mulher.

“Falei com o João Elias (diretor executivo da Cia. Deborah Colker): quero fazer a ‘Bela da Tarde’. Ele levou um susto, por vários motivos”, lembra-se a coreógrafa. As dificuldades começaram na busca pelo livro de Kessel (“Catei em tudo quanto era lugar e não achava. Só encontrei em um sebo, em São Paulo”) e seguiram até o espetáculo já concebido, que é o único do grupo sob censura (14 anos).

Com cenário de Gringo Cardia e trilha de Berna Ceppas, ‘Belle’ é dividido em dois atos. O primeiro aborda a insatisfação de Séverine com a falta de prazer sexual em sua vida conjugal e sua ida ao bordel. Os bailarinos usam roupas elegantes com perfume vintage. O segundo mostra a sua chegada e aventura dentro do lugar. No figurino, cintas-ligas, espartilhos e até salto alto. “Para mim, o que importa é ela ter ouvido esses chamados do instinto. Não quis julgar, quis dizer que o ser humano é assim e o desejo está dentro de nós todos”, explica Deborah.

O desejo também está nos espetáculos da companhia de forma bem latente. Os exemplos mais marcantes disso para a bailarina carioca são ‘Nó’, de 2005, que trabalhava esse tema; ‘Cruel’, de 2009, que retratava a crueldade do amor, e ‘Tatyana’, espetáculo que antecede ‘Belle’ e estreou há três anos, sobre uma mulher subversiva do século 19.

“Fiquei pensando: será que vou continuar contando histórias? Porque ‘Tatyana’ foi o primeiro livro que eu adaptei”, recorda Deborah, que emenda: “Li ‘Belle de Jour’ e foi como uma bomba-relógio, um meteoro na minha cabeça.” Ao seguir pela segunda vez o caminho das adaptações literárias para o universo da dança, hoje, a carioca consegue classificar com mais clareza os desafios dessa empreitada.
“O mais importante é escolher o que contar da história, o que trazer para o palco que aproxime o público da história e dos personagens”, define a coreógrafa.

Ao transformar literatura em dança, para ela o centro da questão passa a ser o movimento e a atmosfera criada pelo conjunto do espetáculo. “As cadeiras são as mesmas do primeiro e segundo ato. Elas são altas, têm uma coisa de fálica, sabe?”, adianta Deborah, que se mexe o tempo todo ao descrever ‘Belle’.
Após a estreia no Municipal, o balé segue turnê pelo Brasil e América Latina. ‘Nó’ será encenado na França, com bailarinos da Ópera de Rhin. No fim do ano, ‘Tatyana’ estreia no Opera House de Tel Aviv, em Israel, e, a coreógrafa já estuda como será sua participação nas homenagens aos 400 anos da morte de Shakespeare, em Londres, daqui a dois anos. Além disso, Deborah acaba de estrear como apresentadora de TV, na série ‘Destino Brasil Dança’, no Canal Brasil. 

THEATRO MUNICIPAL. Praça Floriano s/nº, Centro (2332-9191). De 13 a 16 de junho. Amanhã, às 21h. Sáb, às 17h e 21h. Dom, às 17h. <CW-1>R$ 20 a R$ 100. 14 anos.

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