Por clarissa.sardenberg

Rio - Com shows confirmados no Brasil em 2015, os Rolling Stones venceram o tempo, os excessos, os altos e baixos do rock. E também não estão sujeitos às leis deste planeta. Boa parte de ‘The Rolling Stones — A Biografia Definitiva’ (Ed. Record, 532 págs., R$ 50), de Christopher Sandford, é tomada por prisões, uso abusivo de drogas, mentiras contadas para policiais e juízes, armas de fogo, amizades com traficantes, traições, deslealdades, cenas de pugilato entre os integrantes e até entre eles e suas mulheres. Uma história de crueldades e pequenos (e grandes) crimes que não interrompeu a trajetória do grupo e a máquina de composição de Mick Jagger (voz) e Keith Richards (guitarra).

“No começo da carreira, os Stones eram focados em vencer, não importava como”, lembra Sandford em entrevista ao DIA. “Em abril de 1963, eles tiraram o pianista Ian Stewart da banda porque ele era comum demais para os padrões deles. E ele era um dos membros fundadores! Ian nunca reclamou disso, só disse que, se visse Andrew Oldham (primeiro empresário do grupo) envolto em chamas, nem sequer faria xixi nele para apagar o incêndio.”

O autor já havia biografado anteriormente Mick e Keith e conhece bem o lado sombrio do grupo. “Eles fecharam os olhos para as tragédias de vários amigos próximos. Poderiam ter feito mais para ajudar Brian Jones (primeiro guitarrista da banda, morto em 1969 afogado na piscina de casa, após vários problemas com drogas), por exemplo. O saxofonista Bobby Keys, depois de uma turnê lotada de drogas em 1973, foi chutado do grupo com direito a um ‘nunca mais volte aqui!’. Mick Taylor (guitarrista que substituiu Brian) foi destratado e nunca teve reconhecimento. Pode ser uma experiência trágica fazer parte do círculo dos Stones, disso não há dúvidas.”

No livro, Keith Richards surge ameaçando pessoas com armas, intimidando jornalistas e agredindo fisicamente o guitarrista Ron Wood. O clima pesado atingiu também familiares dos músicos. Christopher revela que, durante os anos 80, o irmão de Mick, Chris Jagger, após tentar as carreiras de ator e cantor sem sucesso, chegou a virar motorista de táxi — e falava para todos que sua família “não tinha a obrigação” de sustentá-lo.

O problemático Brian Jones vivia nessa dualidade claro-escuro. Christopher fez várias entrevistas com o caseiro do Stone morto, Frank Thorogood, acusado de tê-lo assassinado. E aposta em morte acidental.

“Brian era um cara polido e educado, mas a fama subiu à sua cabeça de uma forma bem mais negativa. Ele abusou das drogas, do álcool e das outras distrações, e abandonou suas ambições criativas. Dizem que Mick e Keith o proibiram de compor, mas ele nunca o fez de maneira significativa”, conta Sandford. Ele entrevistou também os pais de Mick Jagger. E a ex-mulher de Keith Richards, Anita Pallenberg, que, dizem os boatos, teve um caso tórrido com Jagger durante as filmagens de ‘Performance’ (1968), em que ela e Mick atuaram, com direito a muitas cenas de sexo. “E Keith passou uma noite com Marianne Faithfull, então mulher de Jagger, nessa época. Um filme sobre ‘Performance’ seria mais interessante do que ele próprio”, graceja. Só para registro: após o filme, diz o livro, os dois casais passaram o Natal juntos.

Sandford, que também biografou o cineasta Roman Polanski, diz ter acompanhado as brincadeiras recentes feitas com Jagger, chamado de pé-frio durante duas Copas do Mundo, já que todas as seleções para as quais torceu foram eliminadas das competições. E revela que o stone está longe de ser fã de futebol. “Ele é apaixonado por críquete. Seu pai me disse que sempre quis que ele fosse jogador profissional de críquete ou, se tudo desse errado, um político. Quem sabe ainda não esteja em tempo, pelo menos para a segunda opção?”, brinca.

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