Rio - Foi na quarta-feira passada que minha ficha caiu. Sempre fui um ser político, sempre gostei das discussões sobre questões sociais e de pensar em como construir um futuro melhor para todos. Em suma, sempre fui e continuo sendo um sonhador. Respeito as diferenças, e também os defeitos e qualidades dos outros como gosto que respeitem os meus. E olha que os defeitos são inúmeros.

Pois, na quarta, recebi sinais, de pessoas próximas, que a homofobia, tão presente ultimamente na política, está logo ali, batendo à nossa porta, quase que diariamente. Sou heterossexual porque simplesmente sou. Como poderia não ser. É algo natural, que não me faz sentir melhor ou pior que ninguém. Não fui criado em um lar libertário, meus pais não tiveram essa criação, não comungaram com a geração paz e amor, portanto a minha cabeça é a minha cabeça, foi feita também pelos livros, pela vida, pelas ruas e por muita gente bacana que cruzou o meu caminho.
Sabemos que há o preconceito velado, ridiculamente disfarçado. Esse, por incrível que pareça, é o que sempre me deixou mais estarrecido. Do tipo “ah, o cara é veado, né?”, rapidamente corrigido com um “não tenho nada contra, inclusive tenho até um amigo gay”. Quase um bichinho de estimação! Mas, depois de ouvir atrocidades como as ditas por um idiota, candidato à Presidência da República, apenas mais um dos que, recentemente, se manifestaram publicamente homófobos, vi que a coisa anda feia.
Tive um irmão, o melhor que eu poderia ter, gay. Nunca, diante de meus pais ou de mim, ele assumiu a sua homossexualidade. Acho compreensível, mas também acho terrível você não conseguir, ou poder, ser você, não poder expressar seu afeto publicamente, ser visto por um bando de hipócritas como alguém antinatural, como alguém de quem se deve manter distância.
Pois li em um e-mail de um colega de pelada que este iria votar em um desses candidatos, porque, “apesar de não me incomodar com os que gostam de dar o furico”, acho que “para lutar com extremistas só com extremismo”. Não respondi, pedi para me excluírem da conversa. Fim de papo.
Já tive amigos espancados em porta de boate por um monte de babacas, filhinhos de papai encobertos pela impunidade. Já tive amigos perseguidos nas ruas, ameaçados. Amigos que mudaram de cidade, traumatizados. Não vivemos no início do século passado como meus avós, mas vivemos em uma era repleta de intolerância, de estupidez, de covardia. O que explica esse retrocesso?
Em um texto, o Doutor Dráuzio Varella lembra que “Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência à existência de mulheres e homens homossexuais”. E mais, que “se a homossexualidade fosse apenas perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de espécies, como répteis, pássaros e mamíferos”.
Me confesso desiludido com a raça humana. Lembro a frase de Woody Allen: “Se Deus existe, ele nos deve desculpas.” Sim, porque a turma do “furico” ou do “aparelho excretor” não deve ser obra de um Deus, seja ele da forma que acreditamos ou não.
Em uma entrevista fabulosa dada à revista ‘Playboy’, Jean Wyllys, criado desde cedo na Igreja Católica, expôs sua definição de Deus:“É aquilo que a razão humana não explica. É um princípio, uma energia feminina, masculina. Uma energia inspiradora, criadora. A energia das artes, da inspiração artística. É a energia do transe, do êxtase. E na minha relação com esse Deus, a minha homossexualidade não é julgada, não é condenada, não é dita como errada.” É por aí.