
Rio - Na época da Jovem Guarda, ele era uma brasa tanto quanto Roberto Carlos, também fez um baita sucesso, vendeu milhares de discos, além de ser ainda mais bonito, sofisticado, inteligente e causar uma catarse coletiva entre os brotos. Significa, portanto, que o “príncipe” Ronnie Von (o apelido foi dado por Hebe Camargo) poderia ter sido o rei da música pop brasileira? Significa! Mas não foi bem isso o que aconteceu, conforme é narrado em sua recém-lançada biografia ‘O Príncipe Que Podia Ser Rei’ (Ed. Planeta, 192 págs., R$ 34,90).
“Ah, esses apelidos... isso não veio de mim. Existem países que não têm rei e quem manda é o príncipe!”, brinca Ronaldo Lindenberg Von Schilgen Cintra Nogueira (seu nome de batismo). “O Brasil é um país rotulador, temos essas propensões a principados, reinados, mas são apenas subtítulos. Eu nunca pensei em ser coisa nenhuma, o que eu queria era cantar rock and roll. Me tornei amigo do Roberto Carlos, mas me incomodava muito ser comparado a ele. Eu nem fazia parte da Jovem Guarda, só surgi na mesma época. Minha visão era outra, meu sonho era fazer algo mais underground, experimental.”
Ao contrário de seu amigo Roberto Carlos, Ronnie Von é a favor de biografias não autorizadas, e em nenhum momento foi contrário à empreitada dos autores, os jornalistas Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel. “Não posso tolher a liberdade de quem escreve, isso seria o fim do mundo! Sei que, com essa opinião, estou contrariando de certa forma meus pares de profissão, mas eu escolhi isso, meu ofício é de vitrine, e vitrine está sujeita a pedradas”, posiciona-se.
“Biografado, geralmente, é alguém que já está no andar de cima, isso até me deixou um pouco resistente a essa história de biografia. Pensei que estivesse com algum problema de saúde que não sabia e queriam me homenagear ainda vivo! Não achava que teria vocação para ser biografado, acho minha vida tão comum. Mas o lançamento em São Paulo foi um escândalo, eu não tinha noção que pudesse acontecer aquilo, parou a Avenida Paulista, 4 mil pessoas em um lugar em que cabiam 200, gente saindo de maca, velhinhas desmaiando, uma maluquice. Foi muito divertido ver que o livro, que imaginei que fosse sobre uma história sem graça, podia ter graça.”

Na publicação, o produtor Arnaldo Saccomani (velho chapa de Ronnie, seu parceiro em composições, mais conhecido como um dos jurados dos programas ‘Ídolos’ e ‘Astros’ e atual produtor musical da novela ‘Chiquititas’), atesta que o Príncipe era “o homem mais bonito do Brasil” e que “não tem nenhum Gianecchini da vida nem ninguém que chegue perto do que ele foi”.
“Elogio de amigo não vale!”, descarta Ronnie, que completou 70 anos em julho e, apesar de estar sempre bem alinhado e parecer um cara bem certinho, jura não ser vaidoso. “A minha vaidade hoje está no seguinte: tenho que estar bem apresentado, roupa limpa e bem cortada. Falam que eu fui o primeiro metrossexual, e eu nunca soube nem o que é isso, nunca fui desses de usar creminhos...
O cabelo está grande? Eu corto. A roupa esta suja? Mando lavar. Elegância é uma atitude, vem de dentro, tem gente que usa roupa rasgada e é elegante. Não faço academia, de ano em ano faço exame de sangue, ultra e um toque, para ver a história da próstata, e mais nada. Eu gosto é de ficar em casa, com meus amigos e meus vinhos. Tenho 4.500 garrafas e, com a minha idade, não vou ter tempo de tomar todas, então tenho que ter os amigos sempre por perto.”
CULT, AOS 70
Ronnie Von está de volta aos holofotes. E não só pelo sucesso do programa ‘Todo Seu’, que apresenta há dez anos na TV Gazeta e de onde veio o bordão “significa!”, que viralizou, inspirando até campanha da Pepsi (na atração, ele lê uma longa carta de um jovem que, no fim, pergunta: “Isso significa que sou gay?” A resposta de Ronnie é sucinta: “Significa!”).
O lançamento da biografia é mais um fato que atesta essa volta, além do documentário ‘Quando Éramos Príncipes’, de 2013, e do recente relançamento em vinil de seus discos experimentais, o que o aproximou de uma moçada antenada. “Foram um megafracasso na época, mas a minha essência está ali. Sou um rato de galerias de arte, gosto de surrealismo e queria fazer um Salvador Dalí em forma de música, mas ninguém entendeu”, resigna-se.
Hoje, Ronnie não canta mais. “Fiz uma cirurgia nas cordas vocais, mas isso foi mais uma desculpa, porque esse mercado ficou uma tragédia completa. Sou filhote de gravadora e sei do que estou falando. Às vezes me dá saudade e, se eu consegui tudo através da música, não posso dizer que não tenho mais vontade de cantar. O que não quero é deslocamentos, viajei toda semana durante 35 anos. Hoje, só de falar a palavra ‘check in’, começo a passar mal. Mas estou adorando essa redescoberta, me devolve a juventude. Não tenho vocação para ser Van Gogh, antes virar cult aos 70 do que depois de morto!”