Rio - No palco vale tudo. Mas entre quatro paredes, para Camilla Camargo, não. Cristina, sua personagem na peça ‘Senhorita Júlia e a Despedida de Si Mesma’, em cartaz no Teatro dos Quatro, vive uma contraditória relação entre fé e luxúria. Católica fervorosa, ela faz ménage à trois, beija mulher e é a favor do casamento aberto. “Para mim, não funciona. Sou mais tradicional. Mas respeito pessoas de mente aberta, que têm esse desprendimento. Só tem que ser muito segura de si, evoluída”, diz Camilla.
A religião, no caso da personagem, não reprime sua sexualidade. “Cristina é uma mulher de fé, reza o tempo inteiro, mantém a relação dela com Deus, mas não é hipócrita e conhece bem o cara com quem está casada. Eles têm um amor muito forte, mas ela sabe que ele cede aos prazeres carnais, e é bem resolvida com isso. Em vez de se enganarem, eles são esclarecidos, jogam limpo um com o outro e vivem bem assim”, explica a atriz, que deixa para a ficção esse tipo de modernidade: “Não me envolveria em um triângulo amoroso, não conseguiria ser tão bem resolvida a ponto de estar numa relação e saber que existem outros desejos. Sou ciumenta.”
No espetáculo, Cristina sabe do caso que o marido, Jean (Eduardo Pelizzari), mantém com Júlia (Luciana Pacheco) e isso é liberado. Vale esse tipo de acordo entre o casal. Já Camilla não sabe lidar com infidelidade. “Eu já fui traída. É muito complicado, porque acho que ninguém é obrigado a ficar com ninguém. É uma questão de respeito. A partir do momento em que você trai, está dando oportunidade para que outra pessoa possa falar mal ou criticar quem você gosta. E isso é errado. É uma quebra de confiança no parceiro. No meu caso, quando eu descobri a traição, a gente já tinha terminado. Mas também não sou radical de dizer que nunca perdoaria. Cada caso é um caso. Eu nunca traí.”
Em cena, acontece o tão falado beijo gay entre Cristina e Júlia. Mas, na vida real, Camilla deixa claro: “Nunca tive experiência com mulher. Na história é natural, a Lu é uma atriz incrível, a gente criou uma amizade. O beijo é técnico, porque existe uma coreografia para ficar esteticamente bonito. Na maioria das vezes, não tem língua. E essa foi a cena que a gente menos ensaiou. É carinho de verdade.”
Dirigida por Heitor Saraiva e Beto Bellini, a peça também debate, entre outras questões, a desestrutura familiar. Na semana passada, os pais da atriz, Zezé Di Camargo e Zilu, foram alvo de mais uma polêmica, por conta das trocas de farpas pelas redes sociais, desde que se separaram. Camilla é contra a superexposição na mídia. “Cada um tem o direito de ir até onde acha conveniente, é democrático. As redes sociais estão aí para as pessoas se colocarem e se expressarem da maneira que acharem plausível. Eu mantenho um contato bacana e mais próximo com quem me admira, mas coloco um limite de não expor certas coisas que não acho necessário. Se a gente expõe demais, depois não adianta cobrar que os outros queiram invadir certas privacidades. É preciso dosar”, salienta.
Zezé assumiu o relacionamento com Graciele Lacerda, com quem começou a ter um caso quando ainda era casado. Zilu também seguiu em frente e namorou por três meses o sertanejo Zé Henrique, mas o romance não vingou. Sobre as escolhas dos pais, Camilla se mantém neutra, diz apenas que respeita e os apoia incondicionalmente: “Eles são maiores de idade, vacinados e eu os amo muito. Eles sabem o que fazem. Eu conheço o caráter e o valor de cada um. Respeito do mesmo jeito que eles me respeitam, me apoiam e me dão todo amor. É claro que todos os filhos sofrem com a separação dos pais, é natural, mas a única coisa que eu quero, de verdade, e que eu peço todos os dias nas minhas orações, é ver meus pais felizes e com saúde. Eu preciso disso para estar bem”, desabafa.
E nada de trauma por conta do divórcio. Camilla sonha se casar como manda o figurino. “Acredito em casamento, acredito na família, mais do que tudo. Eu quero acreditar, vejo minha irmã (Wanessa) num casamento lindo, com os filhos dela, minhas amigas... Agora, estou focada no trabalho, mas quero me casar, sim. Foi tão importante para mim essa questão da família que eu quero dar continuidade com meus filhos”, destaca.
Independente, a atriz saiu do aluguel e comprou seu primeiro apartamento, financiado, na Barra. “Consegui comprar com meu dinheirinho, financiei e estou pagando aos poucos. Adoro morar sozinha, tenho liberdade de fazer as coisas no meu tempo, de cuidar da minha casinha do meu jeito. É gostoso.”
