Por daniela.lima

Rio - Quem vê o Monobloco arrastando multidões nos Carnavais nem imagina, mas o começo do bloco foi duro. “Quando eles fizeram a primeira festa, no Clube Malagueta, em São Cristóvão, não foi ninguém”, conta o jornalista e percussionista Leo Morel, que repassa a história da turma na biografia ‘Monobloco — 15 Anos’ (Editora Azougue, 300 págs., R$ 50). E recorda que, incrivelmente, o embrião do bloco surgiu em São Paulo. “É porque o Pedro Luís e a Parede (fundadores) tinham criado uma oficina de percussão no Sesc Vila Mariana. Deu tão certo que resolveram fazer no Rio”. 

Monobloco%3A a turma que toca em CDs e shows pode chegar a 200 músicos no CarnavalDivulgação


O jogo começou a virar quando outro bloco mais antigo, o Suvaco do Cristo, deixou de fazer ensaios no Clube Condomínio, localizado no distante Horto, para lá do Jardim Botânico. “E o Monobloco foi convidado para a vaga deles. Já era um lugar pouco usual, né?”, brinca Leo, que estava na plateia e nem lembra direito como foi parar lá. “Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso), que até hoje é padrinho deles, fez uma participação e o local lotou. Ninguém sabia se era um show dos Paralamas, do Suvaco do Cristo, do Monobloco”. Dessa vez deu certo: duas mil pessoas se divertiram na festa. “E ainda tinham mais duas mil lá fora que não conseguiram entrar”, lembra o jornalista.

Os 15 anos do Monobloco serão comemorados no ano que vem, mas Leo — que costuma engrossar a bateria do bloco no Carnaval — já adianta a biografia para dezembro. O jornalista fez mais de 50 entrevistas, com músicos que passaram pelo bloco e amigos como Elza Soares, Lenine e Fernanda Abreu.

Leo explica no livro o quanto o Carnaval carioca deve ao Monobloco. “Ele misturou samba com Tim Maia, Jorge Ben Jor, Paralamas e atraiu jovens que nem gostavam do estilo. Eles passaram a querer tocar na bateria. Isso parece natural, mas é um fenômeno recente”, conta. “Antes, muitos blocos contratavam percussionistas de escolas de samba para os desfiles. O Monobloco criou a própria bateria e os próprios mestres. E foi aí que surgiram esses blocos que têm uma proposta mais pop”. 

Pedro Luís, orgulhosíssimo, fez o prefácio do livro. “O Leo contextualizou tudo historicamente e pré-historicamente. Deu nomes aos bois tanto quanto foi possível. E a boiada é grande!”, brinca. Grande, não — enorme. Num Carnaval, o bloco pode ter 200 integrantes.

“O bloco desfilava na Gávea, aí a Gávea ficou pequena para eles. Foi para Copacabana e Copa ficou pequena!”, espanta-se Leo. No Centro, onde desfilam, arrastaram 450 mil pessoas em 2014. “Eles divulgam um horário e chegam antes para despistar. No Carnaval, preciso chegar às 6h, 7h para passar o som”.

Nas turnês, a turma é mais compacta e gira em torno de 30 músicos. Mesmo assim, sobra trabalho. “Não é como um trio de jazz, né?”, zoa Leo, lembrando que o bloco funciona como uma empresa e os músicos que tocam no Carnaval têm até seguro.

Quando começaram as turnês internacionais, as histórias engraçadas aumentaram. “No começo, nem todos os músicos falavam inglês. Na primeira turnê pela Inglaterra, eles chegaram com os instrumentos, aquela multidão, e todo mundo estranhou. Deixaram o mestre (de bateria) Maurão esperando numa sala e ele estava morrendo de fome. Começou a berrar em português: ‘Meu irmão, tô com fome! Me dá comida’”, brinca. 

BATERIA JOVEM

‘Monobloco — 15 Anos’ ainda está sendo concluído e está em pré-venda. Leo pede que quem tiver fotos raras do bloco, o procure. Ele e a editora Azougue estão fazendo um crowdfunding (www.catarse.me/pt/Monobloco) para ajudar nos custos de produção e distribuição. “O livro tem muitas fotos, muito material clicado por vários fotógrafos que acompanharam o bloco pelo Brasil”, conta o autor.

O Monobloco ainda planeja comemorações ao longo de 2015 para celebrar os 15 anos, mas nada certo ainda. Por enquanto, a agenda do bloco inclui eventos como os shows de Réveillon — a turma se divide em duas e toca ao mesmo tempo em Manaus (AM) e no Recife (PE). A partir do dia 30 de janeiro, ocupa a Fundição Progresso todas as sextas até o Carnaval. No dia 22 de fevereiro, domingo de Carnaval, acontece o grande desfile pelo Centro do Rio. “É o grande cartão de visitas do Monobloco. Muita gente tem a primeira oportunidade de conferir o som deles gratuitamente ali”, alegra-se Leo.

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