Rio - Não houve convite, nem teste de elenco. Deborah Secco já tinha se apropriado de Judite (uma jovem viciada em drogas e portadora do vírus HIV) muito antes de saber que o conto ‘Frontal com Fanta’, de Jorge Furtado, servira de inspiração para um filme. Quando descobriu que a cineasta Carolina Jabor estava à procura de uma atriz para dar vida a Judite no longa ‘Boa Sorte’, que estreia dia 20, Deborah não pestanejou. Pegou o celular, ligou para a cineasta e se convidou para o papel. O argumento foi só um: Judite era ela.

“Não sei o que nela me fazia acreditar que era eu. Judite precisava entrar na minha vida para me ensinar um monte de coisa. Quando acabei de filmar, até fiquei internada. Judite ainda estava muito dentro de mim e eu estava achando tudo sem sentido e que nada valia a pena. Eu estava apegada à morte”, conta Deborah. Mas tudo não passou de um efeito ‘desintoxicação do personagem’. A atriz garante que nunca pensou em suicídio. “A vida sempre foi tão mais importante. Perdi uma irmã quando eu ainda era criança e só descobri que um dia vou mesmo morrer com a Judite. Quando a morte me encontrar, vai me encontrar mais viva do que nunca.”
Deborah não perdeu apenas 11kg para o filme, a atriz também deixou para trás o casamento com o ex-jogador Roger Flores e coisas que não fazem mais diferença em sua vida, é o que ela garante. Foi tudo tão novo que até a nudez de Deborah, que já pôde ser vista em outras produções, foi mais marcante. “A personagem era tão maior que aquele corpo. Com toda certeza eu te falo, se eu pudesse escolher uma das minhas personagens para passar uma noite de amor, seria a Judite. Ela é, de fato, a mulher mais apaixonante que eu já fiz na minha pior forma física”, avalia Deborah. “Com isso, a gente pode comprovar que a beleza não está no que a gente tem de fora. No filme, eu nem vejo essa magreza excessiva e acho a Judite linda, uma beleza quase que poética. A nudez da Bruna Surfistinha era pra agredir. Essa, não”, continua.
‘Boa Sorte’ conta uma história de amor transformadora entre João (interpretado pelo ator João Pedro Zappa), um jovem de 17 anos, inexperiente e tímido, e Judite, uma mulher de pouco mais de 30 anos, que já experimentou de tudo na vida e, como ele, está internada em uma clínica de reabilitação.
Fernanda Montenegro e Cássia Kis Magro também enriquecem o longa com suas atuações. Fernanda, que já viveu uma prostituta no filme ‘A Dama do Estácio’ e vai viver uma lésbica na próxima novela das 21h, ‘Rio Babilônia’, provou, aos 85 anos, que usa a arte para quebrar tabus. Em uma das cenas do longa, em que vive Célia, avó de Judite, ela aparece apertando e fumando um baseado enrolado com uma folha da Bíblia. “O foco é a história de amor, mas também existe uma crítica ao comportamento contemporâneo em relação às drogas”, explica Carolina Jabor.
“Judite quis mostrar ao João que ele tinha que conhecer as drogas, mas que tinha que saber parar. Eu acho que as pessoas nem devem experimentar. Eu nunca experimentei, nem nunca bebi um chope”, jura Deborah.