Fortaleza - Fama, sucesso e dinheiro Deborah Secco já tem. Mas depois de 26 anos de carreira, a atriz sentia que era preciso fazer o seu coração bater forte de novo. Lançou um desafio a ela mesma e encontrou em papeis intensos no cinema a solução. Depois de ter interpretado uma soropositiva em estado terminal em ‘Boa Sorte’ (que estreia dia 20) e ser homenageada no 24º Cine Ceará, ela revela que adoraria interpretar Suzane Von Richthofen, em filme que será rodado por Fernando Grostein. Além disso, a atriz também se dedica a escrever argumentos e produzir para a telona.
“Gosto desses papéis que me fazem pensar e repensar sobre as minhas opiniões”, diz ela, que prefere não julgar Suzane. “Eu tinha a minha opinião muito fechada. Quando fiz a Bruna (em ‘Bruna Surfistinha’, de 2011), minha mente se abriu. Na época, conversei com uma menina que me contou que era estuprada todos os dias pelo padrasto. Quando disse para a mãe dela, ouviu que da próxima vez não deveria reclamar e ficar quieta. Então, aos 12 anos, resolveu fugir de casa e se prostituir, para, pelo menos, receber pelo estupro”, conta a atriz sobre uma das situações que a fizeram rever seus conceitos e ter cautela na hora de falar do próximo.
“Ninguém é dono da verdade do outro, ninguém vive a verdade do outro, ninguém sabe o que leva as pessoas a chegarem a pontos extremos. Nós temos as leis dos homens e elas precisam ser cumpridas. A Suzane está fazendo isso. As pessoas ainda insistem muito em condenar alguém que já teve sua vida completamente dilacerada. Não fazemos ideia do que ela passa dentro da cadeia. E eu gostaria de ter essa ideia e conhecer essa realidade, que imagino que deve ser tão dura”, reflete Deborah, que revela estar tentada pela possibilidade de ser a protagonista do futuro longa-metragem dirigido por Grostein.
“Quero me sentir insegura, me perguntar se consigo mesmo fazer aquele papel. Estou guiando a minha carreira não só para o cinema, mas para personagens que me façam acreditar que vão mudar a vida de alguém”, define Deborah. Essa certeza nasceu de experiências e conversas como a que teve com uma menina de 8 anos com câncer, durante suas pesquisas para compor Judite, de ‘Boa Sorte’. “Ela me perguntou: ‘Está triste porque vou morrer?’ Eu disse que sim, e a resposta foi: ‘Não fica, não, você também vai e pode até ser antes de mim. A diferença é que eu estou fazendo tudo o que eu gosto e você não”, conta a atriz, que emenda: “Aí fui me tocando de que a gente vai morrer e virar só uma lembrança. Então, por que a gente se leva tão a sério e se julga tão importante?”
Mas quem acha que, para a atriz, ser escalada para fazer tais personagens é fácil, ela desmente. “Eu corri atrás da Carolina Jabor (diretora de ‘Boa Sorte’) e do Marcus Baldini (diretor de ‘Bruna Surfistinha’). Ele não queria me dar o papel de forma nenhuma. Dizia que não queria uma atriz midiática e achava que eu era muito velha. Aí marquei um jantar com ele na minha casa. Botei a minha camisola de bichinho e atendi ele assim, tomando um sorvete e falando como uma adolescente!”, recorda ela, sobre como conseguiu convencer o diretor a lhe deixar interpretar a cinebiografia da ex-prostituta que ficou famosa em todo o país após escrever sobre sua vida em ‘O Doce Veneno do Escorpião — O Diário de uma Garota de Programa’.
“O conto ‘Frontal com Fanta’ (que deu origem ao filme ‘Boa Sorte’), eu conheci na casa de Jorge Furtado (autor da história). Foi aí que me dei conta da arte. Pensei: ‘A arte é tão maior do que ser atriz, fazer música ou ser cantora. A arte é uma forma de expressão.’ E você não entende isso porque isso te engrandece ou te emociona. Simplesmente acontece”, descreve ela sobre o que sentiu quando leu o conto que se tornaria o filme em que vive Judite, uma mulher de 30 anos com HIV, que se apaixona por um garoto de 17 (Pedro Zappa), viciado em calmantes com Fanta laranja, em uma clínica de reabilitação.
“Como dizia o grande Mário Lago: o ator não tem que escolher o personagem. O personagem que tem que escolher o ator”, cita Deborah, que diz ainda não ter sido ‘escolhida’ por um novo papel e logo se desmente. “Quer dizer, ainda não, não. Porque eu estou começando a produção de um filme, que pretendo filmar ano que vem. Ele vem de um microargumento meu, em cima de uma personagem que eu queria fazer. Quero fazer uma mulher coadjuvante, que não seja nada: nem feia, nem bonita, nem magra, nem gorda, nem rica, nem pobre... Pois fiz personagens de grandes rótulos”, revela.
HOMENAGEM NO CEARÁ
Homenageada no 24º Cine Ceará deste ano, Deborah Secco conta que esse troféu não vem somente no momento em que ela mais foca sua carreira no cinema. Vem também com o sabor especial de ser reconhecida na terra de sua família materna. “Minha mãe é de Fortaleza. Venho muito aqui desde criança. Minha férias eram sempre na casa das minhas tias-avós. Tenho saudade de poder andar pela orla da cidade, de tomar sorvete em uma sorveteria daqui que lembra minha adolescência. Às vezes, boto um boné e uns óculos escuros e tento ir lá tomar aquele sorvete, que é o melhor do mundo!”, diz a atriz.