Por daniela.lima
Rio - Fio extremo, paisagens brancas e telhados cobertos de neve. Na Moscou natal de Wassily Kandinsky (1866-1944), o clima e o ar gelado que castigava — e sempre castigará — a capital russa eram seus companheiros constantes. No entanto, as cores intensas que marcam sua obra lembram bem mais as paisagens de outra cidade — uma que fica no sudeste do Brasil, conhecida pelo Carnaval e pela beleza de sua natureza. Essa afinidade visual entre as criações do maior nome do Abstracionismo e as tonalidades que formam a paisagem carioca poderão ser vistas bem de perto, de amanhã até o dia 30 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na exposição ‘Kandinsky: Tudo Começou Num Ponto’ — mais uma mostra que promete fazer com que as filas lotem as calçadas no entorno do CCBB. 
Na mostra%2C estão obras como ‘No Branco’ e uma das muitas imagens de São Jorge feitas pelo artistaReprodução Internet


“Trazer essa exposição até o Brasil foi bem difícil. Foram cinco anos de negociações com os responsáveis pela obra de Kandinsky. Eles tomaram todos os cuidados até permitirem que o acervo saísse da Rússia. Agora, finalmente, temos os quadros no Brasil, por um período de 11 meses”, explica o diretor-geral da exposição e responsável pela concepção do projeto, Rodolfo de Athayde. A mostra já passou por Brasília e, após o Rio, as obras seguem para Minas Gerais e São Paulo. Ficarão lá até setembro, quando serão levadas de volta à Rússia.
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As dificuldades têm uma razão de ser. Um dos maiores nomes da pintura em todos os tempos, Kandinsky é considerado o fundador da arte abstrata ou daquilo que se convencionou chamar de Abstracionismo — corrente das artes visuais que busca representar a realidade de maneira não objetiva. Nela, os artistas utilizam formas geométricas, cores e traçados para retratar o que veem ao redor — os quadros feitos a partir dessa abordagem costumam mostrar uma forma bem mais subjetiva de interpretação do real.
O artista nasceu em 1866. Ainda criança, demonstrava interesse pelas artes, em especial pela pintura. Ao completar 20 anos, começou a estudar Direito. No entanto, nove anos depois, ao visitar uma exposição de impressionistas franceses, decidiu mudar o rumo de sua vida e se dedicar à pintura de forma integral. Foi viver na Alemanha, onde passou a estudar na Academia de Artes de Munique — a mudança de países seria um elemento visível na primeira fase de seu trabalho.
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“Aexposição está dividida em cinco blocos, com mais de uma centena de obras e objetos pessoais. Cada um deles ajudará o visitante a entender o legado do artista”, explica a diretora científica do Museu Estatal Russo de São Petersburgo, Evgenia Petrova, que finaliza: “Além disso, quem for à mostra no CCBB vai conhecer detalhes da vida de Kandinsky e também todas as circunstâncias e situações que influenciaram seu trabalho. É importante conhecermos tudo o que o influenciou — desde os aspectos artísticos até os musicais e espirituais — para que possamos compreender sua arte da maneira mais ampla.” 
AS EXPOSIÇÕES E A CIDADE

O Rio de Janeiro tem dado uma nova dimensão à expressão ‘arte popular’. Basta fazer uma pequena análise das exposições realizadas na cidade no ano passado para perceber que as artes visuais andam cada vez mais em alta por aqui.
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Nesse sentido, uma das que mais chamaram a atenção foi a do escultor australiano Ron Mueck. Em maio do ano passado, sua mostra no Museu de Arte Moderna (MAM) atingiu um público de 210 mil pessoas — 30 mil a mais que a exposição dedicada ao pintor espanhol Pablo Picasso, ocorrida em 1999, até então o recorde de público do museu.
No entanto, nenhuma outra exposição surpreendeu tanto quanto ‘Salvador Dalí’, mostra dedicada ao artista, igualmente espanhol, no CCBB. Entre os dias 30 de maio e 22 de setembro, 978 mil pessoas estiveram no espaço para visitar suas obras. A versão carioca do evento teve mais visitantes que as edições realizadas em Paris e Madri.
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