Por daniela.lima

Rio - Em janeiro, o Padre Jorjão recebeu os restos mortais do surfista, seminarista, médico e — talvez — futuro santo Guido Schaffer (1974-2009) na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, onde celebra missas. “As pessoas passaram a trazer flores, testemunhos, placas e até cabeças e pés feitos de cera. Imagino que sejam de pessoas curadas de males nesses membros”, diz Jorjão, que conta a história do amigo no livro ‘Guido — Mensageiro do Espírito Santo’ (Ed. Leya/Casa da Palavra, 274 págs., R$ 34,90) em meio aos processos para sua beatificação, iniciados em 17 de janeiro. 

Padre Jorjão mostra o livro na Igreja Nossa Senhora da Paz%2C em IpanemaMaíra Coelho / Agência O Dia


Milagres atribuídos a Guido (cuja história hoje é conhecida em países como Canadá, Estados Unidos, Polônia e Suíça) não faltam. O livro recorda o dia em que, trabalhando como clínico geral, ele teria feito um policial paraplégico recuperar os movimentos das pernas. E as vezes em que, de cor, recitava versículos da Bíblia para quem lhe pedia conselhos. “Ele tinha a Bíblia no coração, era como se a palavra de Deus já estivesse nele”, conta o padre, que misturou as histórias do amigo com as vidas de santos, além de incluir textos religiosos deixados pelo próprio Guido.

O dinheiro arrecadado com as vendas do livro irá custear o processo de beatificação, ainda sem data para terminar. “Pode não demorar. Guido deixou muitos textos, temos acesso a documentos”, conta. Ele não sabe ao certo o quanto será gasto. “Há despesas com passagem, hospedagem para pessoas que vêm de Roma, de São Paulo. O Guido morou em Queluz (SP), e as pessoas que conviveram com ele lá precisam ser entrevistadas. A urna com os restos mortais dele teve um custo. Tudo precisa ser feito de maneira profissional. E a assinatura final não é minha, nem do Papa Francisco, é de Deus!”

Guido já tinha tido sua vida romanceada em outro livro, ‘O Anjo Surfista’, do escritor e novelista angolano Manoel Arouca. Jorjão diferencia seu trabalho ao incluir relatos de sua convivência com Guido e a família.

“Ele me chamava de Big George”, diz, lembrando de Guido como um garoto que adorava pegar onda e falava gírias, e era dono de uma fé profunda. “Ele virava a noite em oração. Tinha esperança de vê-lo trabalhando com drogados e alcoólatras. E ele não era aquele cara chato, carola, de estereótipo. Todos o adoravam. Os amigos brincavam que, quando ele ia à praia, vinham as melhores ondas”, graceja.

Locomovendo-se temporariamente com uma cadeira motorizada (“operei o pé há quatro meses e o médico pediu”, conta), Jorjão crê que o amigo saberia a hora de morrer. “Uma vez ele ia a uma palestra e queria surfar antes. Pediu a Deus que não o deixasse se atrasar. Aconteceu algo no mar, ele viu e foi para a palestra a tempo”, conta. Guido morreu afogado após sofrer uma contusão na nuca, provavelmente com a própria prancha, ao surfar com amigos na Praia da Reserva. “Ele dizia que iria chegar perto de Deus quando se permitisse isso, e que estaria feliz quando isso acontecesse. Guido transformava vidas e, hoje, continua transformando.”

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