Por daniela.lima

Rio - A lista dos selecionados para a 14ª Mostra do Filme Livre (MFL) faz lembrar o verso cantado por Raul Seixas: “Faça o que tu queres, pois é tudo da lei”. Bem que esse poderia ser o slogan do evento que ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) por um mês, a partir de hoje. Mas, afinal, o que é um filme livre? “Não necessariamente quer dizer que o filme é bom. Pode ser uma total loucura”, diz um dos seis curadores do evento, Christian Caselli. 

Paulo Cesar Pereio em cena do filme ‘Harmada’%2C de Maurice CapovillaDivulgação


Vale tudo, ou quase tudo — já que, dos 1.460 inscritos, só 209 entraram para a programação da MFL. “Tem que ter liberdade financeira, formal e narrativa”, explica Caselli. O que isso significa? Pular a cerca dos padrões cinematográficos, financeiros e mercadológicos. A meta é transformar ideias em imagens da maneira que bem entender.

“Aceitamos filmes de todos os formatos, durações e temas. Temos espaço para muitos títulos, em um período maior do que o normal — a MFL fica um mês em cartaz no CCBB. Fora a troca entre público e cineastas durante debates após as sessões, que é muito rica”, completa o curador. 

Aliás, um dos convidados para debater a liberdade de sua cinebiografia é o diretor Maurice Capovilla. Homenageado da 14ª edição do evento, ele também terá alguns de seus filmes exibidos, como ‘Harmada’, ‘O Profeta da Fome’, ‘O Último Dia de Lampião’ e ‘Subterrâneos’, entre outros. 

“Capovilla transitou em todos os períodos do cinema brasileiro e, ao mesmo tempo, não ficou estigmatizado como cineasta marginal ou documentarista, por exemplo”, diz Caselli, que também avalia a evolução dos filmes livres que tem visto passar pela mostra. “Houve uma melhoria absurda no campo tecnológico e na qualidade dos filmes. Isso fez com que o número de inscritos aumentasse muito também, o que é ótimo para a democratização desse espaço”, comemora ele.

Outra característica que também tem chamado a atenção dos curadores é a recorrência de certos temas nos últimos anos. “As histórias estão muito sérias, têm pouco humor e falam muito de solidão, principalmente de jovens solitários. Talvez seja um sintoma dessa geração”, arrisca ele. “Isso é estranho para mim. Com 42 anos, me acho muito mais alegre do que muitos de 23. Acho que o mundo está um pouco estranho. A MFL é uma oportunidade para refletirmos sobre o assunto”, sugere Caselli.

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