Por roberta.campos

Rio - Engana-se quem pensa que blocos de Carnaval são movidos apenas pelo desejo de fazer farra. Mesmo com a Festa de Momo já encerrada, grupos como Terreirada Cearense e Orquestra Voadora vão se reunir hoje, no Parque do Flamengo. O motivo do encontro não é só pelo batuque, mas em prol de reivindicações políticas e ambientais.

Preocupados com as questões da cidade, os artistas, que têm as ruas como palco, decidiram usar a cultura para lutar por melhorias nos espaços públicos cariocas. Além da Orquestra e do Aterrardes, Coletivo Balalaika, Blocato e Samba Nonsense se apresentam no evento batizado de ‘Domingos Verdes’, em apoio às reivindicações do Ocupa Marina da Glória.

Grupo de ativistas envolvidos com o Ocupa Marina da Glória André Mourão / Agência O Dia

Com cerca de 20 pessoas acampadas por lá desde 31 de janeiro, o movimento defende a preservação das árvores e o embargo das obras de um centro de convenções e um minishopping no local. “Nos preocupa como o Rio vem se desenvolvendo. Quando soubemos que várias árvores seriam derrubadas, ficamos alarmados”, diz Geraldo Jr., do Terreirada, referindo-se às 298 árvores que prevê o projeto de modernização do local, tocado pela empresa BR Marinas e autorizada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (com replantio previsto).

Mas a preocupação não é só com a situação da Marina da Glória e do Parque do Flamengo. Como os espaços públicos são imprescindíveis para a existência de grupos como os que se apresentam hoje no ‘Domingos Verdes’, Geraldo alerta que é preciso estar sempre ligado. “Antes do Carnaval, usamos a Praça São Salvador (Laranjeiras) para ensaiar. Quando chegamos lá, fizemos questão de abrir um diálogo com os moradores do entorno. Queremos usar o espaço de maneira consciente”, explica ele.

“A nova geração de artistas da cidade está muito mais engajada”, acredita o produtor cultural Julio Barroso, responsável pela programação do evento. “Também sou ativista, participo do Ocupa Lapa, onde também chamo blocos, poetas e grupos de teatro. Já fizemos eventos assim no Leme, na Pedra do Sal...”, lista o produtor, que teve a ideia de criar o evento durante a concentração da Orquestra Voadora (OV), na terça de Carnaval.

“Sou colaborador da OV. Calhou de nos concentrarmos bem em frente ao Ocupa. Durante o desfile, anunciaram no microfone o abaixo-assinado que o movimento está organizando para pedir o embargo das obras. Mais de mil pessoas saíram do bloco para assinar”, lembra-se Julio, que pretende dar continuidade ao projeto ‘Domingos Verdes’.

“Essa será a primeira edição. Mas, quinzenalmente, vamos fazer ocupações mais intimistas, com poesia, voz e pandeiro”, adianta o agitador. Para os integrantes do movimento, o evento é um sinal de que os cariocas estão se apropriando cada vez mais dos espaços públicos da cidade. “Através da cultura, é possível chamar a atenção das autoridades para o que acreditamos”, diz uma das ativistas do movimento, Rose Cruz.

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