Por tabata.uchoa
Foi um ano de altos e baixos como qualquer outro desde que começaram a contagemAgência O Dia

Rio - Ele nega, desmentiu até a sua escuderia, a McLaren, mas, até que se prove o contrário, Fernando Alonso acordou do desmaio após o acidente na Catalunha, no fim do mês passado, falando italiano e em 1995. Independentemente da veracidade dos fatos, fico pensando como seria acordar vinte anos atrás. Você lembra exatamente o que aconteceu em sua vida nesse ano?

Bem, eu tinha voltado de um ano em Fortaleza, onde fui trabalhar em uma campanha política. Foi o ano em que iniciei a minha vida profissional e, como bem disse Fernando Pessoa, “eu era feliz e ninguém estava morto”. Tinha minhas avós vivas, meu irmão, que morreria no ano seguinte, minha juventude, menos barriga e mais cabelo.

Por outro lado, era mais duro, viajava para dormir em acampamento, não tinha metade dos medos que eu tenho hoje. Em 1995, ganhei o meu primeiro samba importante no Simpatia É Quase Amor, com os parceiros Gallotti, Mario Moura e Pedro Cintra, um sonho. No dia do desfile, um amigo, Flavinho, me fez subir na caixa de som do caminhão para ver a multidão de cinco mil pessoas que, pela primeira vez, tomou as duas pistas da Avenida Visconde de Pirajá. Sim, o Simpatia entrava na Rua Joana Angélica, pegava a Visconde e voltava para a Praça General Osório. E sim, cinco mil pessoas era uma multidão em um bloco de Carnaval. Impossível não lembrar do samba do Lefê Almeida: “O couro come, ninguém se esconde/ na virada da Joana com a Visconde”.

Tirando o gol de barriga do Renato Gaúcho e o malfadado ataque dos sonhos do centenário do Mengão, com Sávio, Romário e Edmundo, além das mortes de Paulo Gracindo, Costinha, Ivani Ribeiro e alguns outros acontecimentos, voltar 20 anos no tempo não seria de todo ruim. Teve até ‘A Próxima Vítima’, de Silvio de Abreu!

Como todo ano que passa, coisas boas e ruins aconteceram, e outras acontecem todo ano desde que o samba é samba. Vejamos. A internet entrava em nossas vidas mudando de vez as relações interpessoais. Com o tempo aposentamos as cartas, os porta-retratos, o telefone do Graham Bell, as máquinas de escrever e os pesados equipamentos fotográficos. E hoje os jovens abandonaram até a fala. Na mesma mesa de jantar falam via celular. Falar pra quê?

Em 1995, começa o governo Fernando Henrique. O vírus Ebola se alastra pela África; Yitzak Rabin, primeiro ministro de Israel, é morto por um extremista islâmico; teve um terremoto terrível em Kobe, no Japão; a Rede Globo e a Igreja Universal do Bispo Macedo entram em guerra por conta de um idiota que chutou a imagem de uma santa. Teve também um maluco de guerra, que matou 168 pessoas em Oklahoma, nos Estados Unidos.

Ou seja, pensando bem, acordar em 1995 não é tão diferente de se acordar em um dia qualquer de 2015, principalmente se for apenas em nosso imaginário, ou em decorrência da concussão do Alonso. Tirando a possibilidade remotíssima de rejuvenescermos duas décadas, a humanidade continua caminhando como na música do Lulu Santos, “a passos de formiga e sem vontade”. Continuando com o rei do pop nacional, “não vou dizer que foi ruim, também não foi tão bom assim”. Mil novecentos e noventa e cinco foi um ano de altos e baixos como qualquer outro desde que começaram a contagem. Ah, e eu não falo italiano.

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