Por daniela.lima
Luis Pimentel%3A Graciliano no RioDivulgação

Rio - Está em cartaz na cidade, ali no Flamengo (Espaço Cultural Arte Sesc), até o dia 19 deste mês, uma exposição que recomendo a todo mundo: ‘O cronista Graciliano no Rio de Janeiro’. O alagoano de Quebrangulo, autor de uma das mais densas, pungentes e consistentes obras da literatura brasileira viveu (e morreu) muitos anos no Rio, como se sabe. Aqui escreveu ou reescreveu parte de sua obra, teve intensa vida literária e trabalhou em jornais — especialmente no extinto ‘Correio da Manhã’, onde chefiou a revisão e viveu essa história que ouvi e repasso:

Conta a lenda que o jovem repórter procurou o velho revisor, na redação, para pedir uma opinião sem compromisso sobre texto literário. O velho revisor chamava­se Graciliano Ramos, escritor já consagrado que ainda precisava suar a camisa em redações para pagar as contas.

Chegando à sexta ou sétima linha do texto, levou o primeiro susto, sublinhou uma palavra mal- empregada e devolveu os papéis ao iniciante, com um comentário sucinto:
— “Outrossim” é a puta que o pariu!

O Velho Graça — como era chamado pelos amigos e na qualidade de fã ardoroso eu tomo a liberdade de também fazê­lo — detestava conversa fiada. Quando a conversa era escrita, então, nem se fala. Economizava na fala e chegava a ser mesquinho no texto: “Escrever é cortar palavra”, era a sua máxima (atribuída também a Drummond).

Tenso como seus parágrafos e seco como o chão do sertão alagoano, onde nasceu em 1892, o escritor nos deixou no ano de 1953. Apreciador de aguardentes e fumante inveterado, não foi correspondido no amor devotado por mais de 40 anos aos cigarros Selma. Teve os pulmões bombardeados pelos bastões cancerígenos.

A fogueira das vaidades vive a incendiar corações e mentes de escritores, sempre achando que tudo o que escrevem deveria estar no índex das obras-primas da humanidade. Diante desses, vale sempre a pena a gente se lembrar de Graciliano Ramos, que passou a vida a desconfiar de tudo e de todos, sobretudo dele mesmo.

Ao ser comunicado da premiação pela Prefeitura do então Distrito Federal dos originais de sua ficção infantojuvenil ‘A Terra dos Meninos Pelados’ (publicado em 1941), torceu o nariz para o júri, em carta à mulher, Heloísa Ramos: “Premiaram uma bobagem, sem qualquer valor literário.”

Diante do contrato para edição, foi além: “O Zé Olympio quer editar ‘Os meninos’. Problema dele se está querendo jogar dinheiro fora.” Interrompeu e retomou inúmeras vezes o ótimo ‘Angústia’ (1936), por não enxergar ali qualquer valor literário (como também não enxergava nos anteriores, ‘Caetés’, 1933, e ‘São Bernardo’, 1934).


Objetos pessoais, como roupas, os óculos, a máquina de escrever e algumas miudezas estão na mostra, juntamente com fotos, livros e textos diversos. Um programão!

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