Por daniela.lima

Rio - O dia 29 de maio deveria se tornar feriado no Rio: o Dia do Prazer, fica a sugestão. A estreia foi em tarde vadia de 2005, alguns músicos pingados descansando do batente e mostrando as últimas criações. E a segunda-feira virou do avesso. O carioca gripou, teve dor de dente, parente acamado, tudo para deixar mais cedo o escritório e bater ponto no Samba do Trabalhador. O fenômeno inventado pelo músico Moacyr Luz começa a comemorar seus dez anos com show amanhã, no Arpoador, e lançamento de CD na segunda, à sombra da caramboleira que marca seu terreiro no Clube Renascença, no Andaraí. 

A roda do Samba do Trabalhador toca de tudo%2C de pagodes atuais a sucessos do anos 80 e samba de terreiroAndré Luiz Mello / Agência O Dia


“Esse samba mudou a minha vida, estreitou parcerias com amigos como Zeca Pagodinho e Martinho da Vila, e me aproximou de todas as classes. Hoje sou identificado da mesma forma no Leblon e em Ricardo de Albuquerque”, diz Moacyr, colunista do DIA e uma espécie de embaixador da cultura carioca. “Construímos uma plateia, consolidamos um repertório, amadurecemos uma geração de músicos e somos a única roda a lançar o terceiro CD, quase só de inéditas.”

Entre tardes memoráveis de improvisos e canjas de todos (sim, todos) os sambistas da cidade, e celebridades inesperadas, Moacyr lembra o dia que o então ministro Joaquim Barbosa surgiu na quadra, ou quando o médico Drauzio Varella veio de São Paulo com toda sua equipe para o samba.

Sobre o transporte da roda para palcos como o do feriado de amanhã, às 17h, no Parque Garota de Ipanema, Moacyr explica uma das razões do sucesso musical: “Acho que fiz o inverso, trouxe a responsabilidade do palco para a roda. Sempre digo que, se tiramos gente de casa para o clube, tem que ser sempre como um show, com arranjos caprichados, respeito à harmonia, concentração. O público entendeu essa dedicação.”

O resultado poderá ser degustado em sucessos da turma como ‘Saudades da Guanabara’, ‘Estranhou o Quê?’, ‘Cabô Meu Pai’, ‘Vida da Minha Vida’ e ‘Que Batuque é Esse?’. Teresa Cristina, que virou ‘atração fixa’ nos últimos meses no Andaraí — depois de emplacar em parceria com Moacyr o samba da Renascer de Jacarepaguá, no último Carnaval —, fará participação especial no Arpoador.

“Experimente juntar um público sem perfil definido, Zonas Norte e Sul, Niterói, outros estados, estrangeiros, todas as idades, com comida boa e repertório não definido previamente, com sambas de terreiro, músicas inéditas, sucessos atuais, pagodes dos anos 80 e clássicos. Misture e consuma em doses homeopáticas toda segunda-feira. Mas cuidado que vicia!”, afirmou a cantora, definindo a festa. 

QUILOMBO BRASILEIRO

O novo disco do Samba do Trabalhador, com lançamento oficial na segunda-feira, no Renascença, terá 12 composições nascidas na roda, sendo nove inéditas e 11 de Moacyr com parceiros como Nei Lopes e Paulo César Pinheiro. ‘Samba de Fato’, com Paulo César, ganhou a voz privilegiada de Gabriel ‘Da Muda’ Cavalcante, expoente da nova geração que está desde o início tocando seu cavaco e cantando na roda.

“O disco abre com ‘A Reza do Samba’, praticamente um hino que diz: ‘O ogã bate o tambor, firma o ponto, batuqueiro, Samba do Trabalhador: um quilombo brasileiro’”, conta Gabriel. A festa no Andaraí começará às 16h, com entrada a R$ 15 e CD a R$ 20.

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