Rio - 'Papai, você gostou? Eu fui bem? Eu te amo, papai!’. A declaração do pequeno Arthur, de 7 anos, ao sair do palco depois de uma apresentação na escola, emocionou o pai, o jornalista Jorge Luiz Brasil. Naquele momento, ele teve certeza de que adotar o menino junto com o seu companheiro, o farmacêutico Walter Pereira, foi a melhor coisa que ele poderia ter feito.
"O Arthur nunca se incomodou por ter dois pais. Ele sempre disse que assim seria mais divertido. Eu acho que essa aceitação em ser criado por homens vem do fato de ele ter tido uma experiência ruim com as mulheres. A mãe o abandonou e a avó, antes de deixá-lo no abrigo, prendia o menino em casa para ir trabalhar. Ele olha pra gente e se sente seguro. Esse é o melhor presente pra mim", afirma o jornalista.
No Dia dos Pais, o DIA Online apresenta a história de quatro casais gays que realizaram o sonho da paternidade por meio da adoção. É o caso do produtor rural Henrique Maués. Desde muito jovem, ele já sonhava ter uma família e quando, ainda solteiro, adotou Fernando, que tinha 1 mês e 20 dias, não teve jeito: foi amor à primeira vista.
"Eu fiquei nervoso, porque ele era muito pequeno. O Fernando nasceu de sete meses e precisou ficar na incubadora antes de ir para casa. Só que nós criamos laços muito rápido. Lembro que uma vez, eu o levei para fazer um exame no ouvido. Ele ainda era um bebezinho e não deixava a moça colocar o aparelho. Aí, ela tirou ele da cama e colocou no meu colo, para ver se ele se acalmava. Eu disse que a nossa relação era muito recente e que não tinha certeza se funcionaria. Mas funcionou. Ele ficou tranquilo e a deixou examiná-lo. As lágrimas escorreram quando isso aconteceu”, lembra ele.
Dois anos depois, pai e filho conheceram César Moreira Maués, professor de filosofia que virou marido de Henrique. "Com um ano e meio de relacionamento, eu e o César resolvemos morar juntos. Em 2013 nós casamos e estamos entrando com o processo para o Fernando ganhar o sobrenome do César. O nosso filho aceitou tudo de forma tranquila. Ele gosta de mostrar que tem dois pais, sente orgulho disso."
Pais de quatro crianças, o auditor fiscal Rogerio Koscheck e seu companheiro, Weykman Padinho, pretendiam adotar apenas duas, mas não tiveram coragem de separar os irmãos. “Foi a única exigência da Juliana, a irmã mais velha”, conta Rogério. Foi a primogênita que fez uma pergunta curiosa, quando descobriu que Rogerio e Weykman eram casados.
“Ah, vocês são um casal? Como o Félix e o Niko da novela?”, perguntou ela, referindo-se aos personagens de Mateus Solano e Thiago Fragoso, que viviam um casal homoafetivo na novela 'Viver a Vida'. “Nunca vivemos uma situação de preconceito. Hoje, as pessoas ainda acham esse modelo de família estranho, mas conseguem respeitar. Até porque tudo é família, pautada no amor e no carinho. É isso que importa”, diz Rogério. O jornalista Gilberto Scofield Jr., pai de PH, de 5 anos, engrossa o coro. “Domingo é dia de comemorar as famílias, porque os arranjos familiares de hoje são muito amplos e complexos. E também porque Dia dos Pais é todo dia, pelo menos aqui em casa”, garante ele, que é casado com o corretor de imóveis Rodrigo Barbosa.
Para o psicólogo Lucas Veiga, um caminho para evitar que crianças adotadas por casais homoafetivos sofram preconceito é preparar os profissionais que vão lidar com elas. “O preconceito geralmente parte de um adulto e não de outras crianças. As escolas precisam formar suas equipes para trabalhar a diversidade, para acolher a multiplicidade de formas de pensar, de amar, de ter relações sexuais, de compor uma família e com isso promover nos educandos a inclusão da diferença e a liberdade de ser o que se quiser ser."