Rio - ‘Queixo-me às rosas, mas que bobagem as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam, o perfume que roubam de ti”. Os versos da canção ‘As Rosas Não Falam’, de Cartola, serviram de válvula de escape na vida da cantora Beth Carvalho. Foram essas as palavras pronunciadas pela sambista em um dos momentos mais difíceis de sua vida, quando ela perdeu a mãe. Na época, Beth participaria de uma gravação e, segundo ela, foi a música que a salvou naquela ocasião. “Todos na gravadora acharam que eu ia cancelar. Mas eu fui.
Cantar foi a forma que eu arrumei de não morrer junto com a minha mãe.” Esta declaração foi capturada pelo escritor Rômulo Rodrigues, em 2012, quando ele ainda estava coletando material para escrever o espetáculo ‘Andança — Beth Carvalho, o Musical’.
Esta e muitas outras histórias fazem parte do espetáculo que está em cartaz no teatro Maison de France, no Centro. No palco, três atrizes — Jamilly Mariano, de 10 anos, Stephanie Serrat, 26, e Eduarda Fadini, 44 — se revezam para contar as etapas da vida da cantora que completa 50 anos de carreira em 2015. “A Beth é conhecida como a madrinha do samba por ter revelado artistas de sucesso como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão e outros. Então, para contar a sua história, nós decidimos fazer o mesmo. Fizemos uma seleção e demos oportunidades para caras novas. Temos 23 incríveis talentos no palco, a começar pelas três Beths”, diz Ana Berttines, produtora do espetáculo. Então, vamos conhecer essas protagonistas.
Cantoras da noite e de musicais
?No currículo, três musicais de peso: ‘Chacrinha’, ‘Rock in Rio’ e ‘Hair’. Agora, mais um em cartaz para a coleção e com a importância de ser protagonista. E pensar que, quando a carioca Stephanie Serrat fez o teste para o papel, ela nem sonhava com um resultado tão positivo. “Eu vi a ficha técnica e pensei: ‘Eu preciso ir lá. Tem muita gente bacana, pessoas com as quais eu sempre desejei trabalhar. Eles precisam me conhecer, saber que eu existo’”, lembra ela.
Cantando desde os 18 anos, a moça tinha um grupo e se apresentava na noite. “As músicas da Beth sempre marcaram presença nas minhas apresentações. Sou do samba e sei reconhecer o valor de uma artista como ela”, diz.
Feliz com o resultado final do projeto, a atriz conta como foi seu encontro com Beth quando ela a viu em cena, durante um ensaio aberto da peça, que aconteceu na última semana. “Ela pegou na minha mão com os olhos marejados e disse: ‘Fica tranquila, você me convenceu como Beth’. Senti um alívio enorme.”
Paulista no samba
Aos 10 anos, esta paulista já está realizando um sonho. Cheia de gingado, a pequena Jamilly teve que fazer aulas de balé e samba para dar vida à personagem. “É bom porque eu quero ser rainha de bateria. E também os cariocas não poderão mais dizer que o pessoal de São Paulo não tem samba no pé”, brinca.
Muito madura, ela lembra com emoção o seu primeiro encontro com Beth Carvalho: “Fiquei nervosa quando segurei na mão dela.”
Realização na maturidade
Foi durante uma festa que a atriz e cantora carioca Eduarda Fadini recebeu a notícia de que estava no elenco do espetáculo ‘Andança’. A reação dela? “Como tinha muito ator que fez a audição comigo nesta festa, eu não pude subir na mesa, gritar, dançar, anunciar esta notícia maravilhosa. A produtora pediu discrição. Tive que me controlar. Mas foi ótimo do mesmo jeito.”
Na peça, Eduarda, que participou do musical ‘Rádio Nacional — As Ondas que Conquistaram o Brasil’ e ‘Cabaré Caruso’, vive Beth a partir dos 40 anos. “Ela está numa fase madura e vivendo momentos fortes. A morte da mãe é uma das mais belas cenas do espetáculo, a despedida do pai também é intensa”, avalia a carioca, que se identifica com uma cena específica do musical. “Eu tenho um filho de 1 ano e meio e lembro que, uma vez, eu estava em casa com o meu bebê no colo e tocou ‘Canção de Esperar Neném’, uma música que a Beth fez para a filha em parceria com o Paulinho Tapajós. E eu canto essa maravilha na peça. Ter um filho é uma realização e no palco eu lembro a minha história, o meu menino.”
Serviço
TEATRO MAISON DE FRANCE. Presidente Antônio Carlos 58, Centro (4003-2330). Qui a sáb, às 20h. Dom, às 18h. R$ 90 (qui e sex). R$ 100 (sáb e dom). Até 31 de janeiro.