Por clarissa.sardenberg

Rio - Quando não se pode controlar a mente, todos estão sujeitos aos impulsos mais selvagens, como ter que precisar matar uma pessoa para se alimentar diante da fome, por exemplo. Tudo é uma questão de saber alinhar a necessidade e o autocontrole. O longa ‘Os 33’, que estreia nesta quinta-feira, narra parte do sofrimento real vivido pelos mineiros que foram soterrados na mina San José, no Chile, em 2010, passando 69 dias a 700 metros abaixo da terra, sem luz, sem comida, sem ventilação. Restava a eles apenas uma coisa: esperança.

Se não tivesse sido a incompatibilidade de agenda do ator com as filmagens do longa dirigido por Patricia Riggen, Rodrigo Santoro interpretaria um dos mineiros e, por isso, chegou a mergulhar fundo na história deles, chegando a conhecê-los pessoalmente em Santiago, no Chile.

Rodrigo Santoro vive Laurence%2C Ministro das Minas que briga pelo resgate dos mineirosDivulgação

“Passei uma tarde inteira com eles e fiquei muito emocionado”, relembra Santoro. Mas os rumos mudaram e o ator acabou ficando com o papel de Laurence Golborne, Ministro das Minas que orquestrou a operação de resgate dos trabalhadores, depois de apenas quatro meses no cargo. “Também conheci o Laurence e quis saber como ele dormia e acordava naquele período, sobre a ansiedade, angústia. Queria me alimentar o máximo possível e tentar preencher meu universo interno”.

Diante dos relatos dos personagens reais dessa trama, o ator não soube dizer se estivesse frente a frente com o medo e com a fome, se seria capaz de matar um colega de trabalho para se alimentar (indagação que se refere a uma das passagens do longa, que também traz Antonio Banderas no elenco, como o mineiro Mario Sepúlveda).

“É uma situação tão limite, acho que a gente não pode prever o que passaria na nossa cabeça. Porque existe uma necessidade fisiológica, onde seu corpo começa a pedir, os instintos começam a tomar conta de você. Realmente tem essa cena do filme que é bem chocante”, avalia Rodrigo. “Eu acho que isso aconteceu mesmo, porque eles contaram. Muitas outras coisas devem ter acontecido lá dentro”.


Para tentar passar por essa prova de fogo, o brasileiro tentaria ter a mente como sua aliada, caso contrário, ele surtaria, admite. “A mente pode ser o seu maior amigo ou seu maior inimigo mesmo. Pelo que entendi com as minhas conversas com os mineiros, todos me falavam isso: ‘Passar fome e sede foi difícil, mas o pior mesmo era acalmar a mente’. Porque as ideias vão surgindo, o terror começa a ser criado, tem o psicológico que você fantasia e pensa: ‘Eu vou morrer’”.

Foram 17 dias sem contato nenhum, até que ‘uma luz no fim da mina’ fez com que os trabalhadores acreditassem que poderiam sair daquele episódio com vida. Mas, se não fosse a perseverança de Laurence, o final desse acidente poderia ser trágico. Foi ele quem insistiu para que as autoridades investissem num resgate, que acabou sendo transmitido ao vivo para mais de um bilhão de espectadores.

“Esse filme fala de superação, esperança no seu sentido mais profundo. A necessidade de acreditar para não desfalecer antes do seu limite”, alega Rodrigo. “O Laurence tem que estar dentro de cada um. Não sei se essa atitude dele teve algum interesse por trás ou se foi por compaixão mesmo. Acho que poderia ter as duas coisas, difícil dizer porque, como ator, a primeira coisa que faço é não julgar personagem. Eu não estava interessado em descobrir onde estava a vaidade ou a humanidade. Pelo que escutei dos mineiros, me parece que a atitude do ministro foi genuína.”

Se o filme trouxe um aprendizado para o ator, esse ensinamento se resume a palavra acreditar. “Acreditar é fundamental, seguir em frente, superar as dificuldades que são constantes na nossa vida, tem que constantemente trabalhar essa força. A gente recebe muito não, tem surpresas desagradáveis. O que o filme faz é expor as relações pessoais, o que aconteceu dentro da mina que as pessoas não viram.”

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