Por gabriela.mattos

Rio - Durante as filmagens de ‘Betinho — A Esperança Equilibrista’, o diretor Victor Lopes precisou conter o choro. Como não se tocar com a luta do ativista Herbert José de Sousa contra a fome e a aids? “Tive que controlar a emoção e a admiração que sempre estavam presentes nos depoimentos”, diz o cineasta, que, entre lenços, entrevistas e muita pesquisa, assume que a tarefa mais difícil de todo o processo foi manter o equilíbrio do documentário, que estreia nesta quinta-feira.

“O Betinho detestava se vitimizar e eu tinha que ser fiel a isso”, conta Victor. Por isso, embarcar no humor do sociólogo foi a melhor saída para tornar o filme mais leve. “Ele tinha um humor ácido, bem ao estilo do irmão, Henfil”, destaca o diretor, que permeia todas as filmagens feitas por ele, com uma entrevista de 1995, de Alfredo Alves, para a série ‘Caminhos da Democracia’.

Cineasta lança documentário sobre Betinho e sua luta socialDivulgação

“Queria mostrar o Betinho contando coisas mais pessoais, tomando cerveja. O que, pelo menos para mim, dá a impressão de proximidade a ele”, avalia. A partir daí, foram pensadas todas as imagens atuais que entraram no longa, que ganhou como Melhor Documentário no Festival do Rio, pelo voto popular.

Já na primeira cena, vemos o velório de Betinho, em 1997, com Benedita da Silva, Lula, José Dirceu, Brizola, Frei Beto, ao lado do caixão. Fato que, segundo Victor, faz refletir a trajetória política do país de lá para cá. “Ver essas pessoas juntas nessa cena nos faz refletir sobre o tempo e o que estamos fazendo com a nossa história”, acredita.

Se as alianças políticas são bem diferentes, 18 anos depois da morte do ativista, toda a sua luta parece ainda bem atual. “O Betinho teve interferência concreta no momento que vivemos hoje — no combate à aids e à fome, na luta pela ética na política”, analisa Victor, lembrando o pioneirismo social de Hebert. “Os frutos que ele deixou estão introjetados em quase todos os brasileiros. Mas precisamos de faróis de referência no Brasil atual”, completa.

Hemofílico, Betinho dizia que teve muita sorte de estar vivo. Não apenas pela doença, que o acompanhou durante toda a vida, mas por vários outros momentos em que esteve cara a cara com a morte. Aos 15 anos, ele superou uma tuberculose. Em 1964, passou a ser caçado pela Ditadura e teve que sobreviver por anos na clandestinidade. Em 1986, descobriu que havia sido contaminado com o vírus HIV, em uma transfusão de sangue. Aliás, isso não aconteceu apenas com ele, mas com seus irmãos Chico Mário e Henfil, também hemofílicos. “O Betinho dizia que quem tem fome tem pressa. Se foi uma vitória vencer a fome física, hoje temos outros tipos de fome”, destaca Victor.

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