Rio - O irmão do Henfil volta à cena brasileira. Felizmente, agora não mais depois do exílio político, de onde retornou no final dos anos 70 nas asas da anistia para cair nos braços do povo. Herbert José de Sousa, o Betinho, retorna agora nos braços do cinema, através do documentário ‘Betinho – A Esperança Equilibrista’, de Victor Lopes, vencedor do Prêmio do Júri Popular no recém-encerrado Festival do Rio.
O filme inicia com imagens do velório de Betinho na Câmara Municipal. O tom é de alta carga emocional, que chega ao clímax quando o filho do sociólogo entoa justamente ‘O Bêbado e o Equilibrista’, obra-prima da música popular escrita por João Bosco e Aldir Blanc, imortalizada na voz de Elis Regina. Cantada ali, em tom solene, diante do corpo de Betinho, a esperança equilibrista provoca o grande nó na garganta que o documentário sustenta e só desata ao final de seus 90 minutos.
Ao contrário do que pode sugerir o apelo inicial, ‘Betinho – A Esperança Equilibrista’ não é um filme derramado. Documentarista experiente, realizador de ‘Serra Pelada — A Lenda da Montanha de Ouro’ e ‘Língua — Vidas em Português’, Victor Lopes possui maturidade suficiente para não cair em tentações. Sua solução inicial é, pelo contrário, de extrema coragem, ao expor, de cara, a inevitável força emocional do relato da vida de Betinho.
Durante grande parte do filme, Victor deixa o documentado falar. Assim, vemos Betinho em registros diversos contando a própria história. Da convivência com uma saúde frágil, combalida por tuberculose, hemofilia e AIDS, à dura resistência contra a ditadura e a morte dos irmãos. O resultado não é um retrato idealizado. ‘Betinho — A Esperança Equilibrista’, ao contrário, persegue o relato intimista que aproxima o espectador do cidadão preocupado com a fome do povo brasileiro.
O desfecho revela a angústia sincera do homem marcado pela pressa em resolver tantas injustiças e que de certa forma também foi vítima dessa pressa, como no caso envolvendo o apoio de bicheiros a um de seus projetos sociais. Mas mesmo aí Betinho não foge à luta. Reconhece o erro e não se vitimiza diante de uma realidade contraditória. Foi esse personagem que Victor Lopes retratou de forma matura e honesta, deixando intacta a esperança.