Rio - Com bossa, os gêmeos Chico Caruso e Paulo Caruso — chargistas, cantores e compositores — ironizam na música ‘Brasil, país do futuro’ que, apesar das mazelas nacionais, há esperança para a Nação. A ironia encerra o CD ‘30 anos de democracia — Que país é este?’ , lançado pela gravadora Cedro Rosa.
No disco, os irmãos Caruso atualizam uma tradição de sátira política musical — iniciada no Brasil por nomes como o caricaturista e compositor carioca Nássara (1910-1996) — e fazem piada com políticos e escândalos nacionais. O repertório abrange período que vai de 1985 — ano da restauração da democracia e da eleição de Tancredo Neves (1910 - 1985) para presidente do Brasil — a 2015, ano do calvário de Dilma Rousseff, atual comandante do país.

PIZZAIOLO PIZZOLATO
Como o disco foi gravado entre junho e julho deste ano, as piadas são feitas com escândalos recentes da política brasileira. Tema arranjado no ritmo italiano da tarantela, ‘Pizzaiolo Pizzolato’ tira boa onda com Henrique Pizzolato, o ex-diretor do Banco do Brasil envolvido no caso do ‘Mensalão’. Já ‘Delação premiada’ escorre o óleo sujo da Operação Lava Jato.
A banda que acompanha os irmãos no disco — inspirado em show dos gêmeos — é ficha limpa. É liderada pelo saxofonista Renato Aroeira e inclui virtuoses como o percussionista Ary Dias, egresso do grupo A Cor do Som.
A graça do CD reside também na abordagem de ritmos variados. A diversidade rítmica impede que a piada soe repetida do ponto vista musical. Se ‘Abacaxi’ cita ‘Isto aqui o que é?’ (Ary Barroso) e recorre à arquitetura do samba-exaltação — gênero recorrente no governo ditatorial de Getúlio Vargas (1882 - 1954) — para não exaltar o país, ‘Muda Brasil Tancredo Jazz Band’ evoca o suingue das ‘big-bands’ de jazz dos anos 1930 e 40.
BALADA DO ZÉ DIRCEU
A verborrágica ‘Balada do Zé Dirceu (Balada do Cruzeiro do Oeste)’ traça impiedoso perfil do político mineiro José Dirceu. Já ‘Sondagem’, música de Pablo Pessanha, se utiliza do samba de breque para criar diálogo malicioso entre Dilma e Lula, misturando política e sexo nos versos de duplo sentido. Dilma tampouco é poupada no blues ‘Cinquenta tons de Dilma’, cuja letra fala até de seu cabelo.
Voltando no tempo político, a moda de viola ‘Itamar e Itapior’ faz troça de Itamar Franco (1930-2011), lembrando mazelas políticas da primeira metade da década de 1990, época em que o político presidiu o Brasil.
Sem desafinar no humor e na música, os Caruso questionam o Brasil no CD. Que país!