Rio - Do diretor teatral Amir Haddad, em mesa de bate-papo no Festival da Guanabara que aconteceu no último fim de semana, em Paquetá (desde já, meus parabéns a Ize, Flávio Aniceto e demais organizadores):
“Não sou carioca, mas tenho muita inveja dos cariocas, gostaria de ser um deles. Eu queria ser Paulinho da Viola.”
De Alfredinho do Bip Bip, no mesmo encontro:
“Nasci em Santa Cruz, vivi em Cosmos e em Bangu. Trabalhei no Centro da cidade, hoje vivo e trabalho em Copacabana. Para mim, o Rio não tem mistérios.”
No mesmo cenário, depois de ver a delicada e inesquecível apresentação voz e violão de Cristina Buarque e Paulo 7 Cordas, pesco na barca da volta, folheando o jornal ‘A Ilha’ (editado pelo craque Ricky Goodwin), essas palavras na coluna ‘Crônicas de Paquetá’, de Julio Marques:
“A vida, para ser bem vivida, tem de ser construída com personagens que vão se eternizando em nossa lembrança.”
Bingo.
Durante uma cerveja por lá, o maestro Paulão contou que Nelson Cavaquinho fora proibido terminantemente de beber, pelos médicos, e os músicos que o acompanhavam se encarregaram de fiscalizar a dieta. No hotel onde se hospedaram, durante temporada de shows, Nelson armou com um funcionário para esconder a garrafa de pinga dentro do sofá que tinha no quarto. E justo nesse sofá ele passava os dias estirado, recebendo amigos, dando entrevistas, tocando seu violão. No começo da noite, claro, invariavelmente estava de porre e com o ar mais inocente do mundo.
De Geraldo Pereira, descartando um cascateiro que se dizia morador de Mangueira e ex-vizinho do compositor no período em que ele viveu no Morro:
“Mostra a chave!”
E depois que o sujeito mostrou:
“Que é que há, mermão?! Quem mora em barraco não tem chave Yale.”
De Antonio Maria para Vinicius de Moraes, depois de saírem de boate em Copacabana, manhãzinha, e se depararem com o pessoal que fazia exercícios na areia:
“Vina, prometa que nunca vou ver você fazendo uma coisa dessas!”
Da cantora Elza Soares, em entrevista a mim para a revista ‘Música Brasileira’, feita há muito tempo, mas bem a propósito para os dias de hoje:
“Sou vitoriosa quatro vezes: negra, mulher, pobre e gostosa! Bebi das lágrimas mais amargas da vida, meu filho. Sei bem o gosto que elas têm.”
Contam que Graciliano Ramos, durante o período em que suou a camisa de linho na mesa de revisor e copidesque do ‘Correio da Manhã’, sofreu um bocado com os textos destrambelhados ou pretensiosos que caíam em suas mãos. E que um dia o ouviram resmungando, depois de meter a caneta na lauda já escrita por algum repórter: “Outrossim?! Outrossim? Outrossim é a puta que o pariu!”