Por karilayn.areias
Gabriela Duarte e Pedro Brício em cena como casal Elvira e OrozimboDivulgação

Rio - Perguntado sobre o que acha do título de seu filme — ‘Ninguém Ama Ninguém... Por Mais de Dois Anos’ —, o diretor Clovis Mello brinca: “Atualmente, acho que ninguém ama por mais de 20 minutos!”, diz, aos risos. O fato é que as formas de se relacionar mudaram um pouco da década de 50 para cá. Mas há muitas coisas que permanecem intactas até hoje, quando o longa, adaptação da obra de Nelson Rodrigues, chega aos cinemas.

“Naquela época, uma mulher que se separasse do marido seria discriminada pelas próprias amigas”, reflete o cineasta, que uniu cinco histórias da série ‘A Vida Como Ela É’, mostrando a fragilidade conjugal entre o final dos anos 50 e início dos 60. Os contos vão de personagens aparentemente submissas à dissimulada Elvira (Gabriela Duarte), que trai o marido (Pedro Brício) com seu melhor amigo (Michel Melamed).

“Agora, as mulheres têm mais liberdade para sair de um relacionamento. Mas é difícil que ninguém traia por mais de 20 minutos mesmo, pois pelo celular você já descobre tudo”, analisa ele, referindo-se não só à mudança de comportamento, como ao avanço das tecnologias de comunicação. “É... A vida está muito difícil!”, completa o diretor, às gargalhadas.

Mas há o que permaneça da mesma forma, fazendo com que a obra de Nelson Rodrigues continue atual. Sentimentos como amor e ódio, que permeiam toda a sua obra, são ingredientes que nunca envelhecem, segundo Clovis. “Hoje, existe um código de ética do politicamente correto. Mas há tanto amor, ódio e preconceito como antigamente. As pessoas só não assumem isso”, analisa o cineasta.
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O coprodutor do longa, Nelson Rodrigues Filho, lembra que foi justamente o bullying no colégio que o fez ter seu primeiro contato com ‘A Vida Como Ela É’. “Por causa do meu nome, os veteranos souberam quem era o meu pai. Então, quando me viam, perguntavam coisas como: ‘A sua mãe já apanhou hoje?’”, lembra-se ele, sobre o que o fez começar a ler tais histórias, aos 10 anos, em 1956.
Aliás, a polêmica gerada pelas obras e declarações de Nelson Rodrigues (pai) continuam intactas também. “As histórias dele têm finais imprevisíveis”, diz o filho, que classifica o pai como “gênio”. Mas Clovis não consegue nem imaginar como o autor retrataria a sociedade atual.
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“Acho que ele estaria chocado com tudo o que está acontecendo na sociedade e na política. Não sei nem por onde começaria”, arrisca o diretor. “Nelson Rodrigues era um radiologista de almas. Antigamente, detectar isso era mais difícil. Hoje, as pessoas se revelam com mais rapidez. Mesmo que algumas ainda tentem vender essa imagem do politicamente correto”, conclui.
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