Por karilayn.areias
Rio - O papel oferecido a Lázaro Ramos em ‘Tudo Que Aprendemos Juntos’ era outro. Mas quando o ator leu o roteiro do filme, que acaba de entrar em cartaz nos cinemas, foi atrás do diretor e pediu para interpretar o protagonista. “Quando li a história, só me identificava com o Laerte”, conta ele, referindo-se ao professor de violino que vive no longa, já exibido num festival da Suíça, onde emocionou 8 mil pessoas.
Lázaro se identificou com o professor de violino protagonista da tramaDivulgação

“Quando eu tinha 15 anos, entrei para o Bando de Teatro Olodum e o Mestre Zebrinha começou a cuidar de mim. Aliás, ele cuida até hoje”, conta Lázaro, que enxergou um pouco de si nos jovens que contracenam na trama. A maioria deles é músico do Instituto Baccarelli, que serviu de inspiração para o roteiro, ou morador de comunidades paulistanas.

Na ficção, o violinista vai dar aulas em uma escola, em Heliópolis, periferia de São Paulo, onde descobre que o som dos instrumentos representa mais do que música para sua turma. A presença de Laerte ali significa uma oportunidade de mudança social.

Mas esse processo de transformação não se limitou apenas à ficção. O diretor Sérgio Machado viu a música interferir na postura de seu elenco. “Via como o Elzio (um dos protagonistas), que era supertímido, foi ganhando uma megadesenvoltura”, diz o cineasta, que teve uma surpresa parecida com seu próprio filho, de 11 anos. “Ele disse que queria tocar violino, há três anos, quando visitou o set de filmagem. Desde então, tenho acompanhado a modificação na vida dele com a música”, lembra-se Sérgio.

Mas a mudança que o diretor se refere vai além do avanço nas notas musicais. Ele comemora a entrada do filho na Orquestra de Heliópolis e diz que, assim, ‘ele pode sair da bolha de classe média em que vive’. Edmilson Venturelli, diretor do instituto, conta que o maestro Silvio Baccarelli se sensibilizou com um grande incêndio ocorrido em Heliópolis, em 1996. Então, foi à comunidade oferecer aulas de música. O projeto começou com uma turma de 36 adolescentes. Mas cresceu tanto que, hoje, tem sede própria, vagas disputadíssimas e 1.300 alunos entre 4 e 28 anos.

“No início, só aceitávamos jovens da comunidade. Mas percebemos que isso não era inclusão social. Resolvemos abrir vagas para pessoas de fora e de diferentes classes sociais para proporcionar uma convivência entre diferentes realidades”, explica Venturelli, que viu o filho passar pelo mesmo processo que o de Sérgio. “O meu filho, o Fernando Venturelli, está com 16 anos e estuda aqui desde os 7. Nunca vou esquecer do aniversário dele de 8 anos, quando disse que não dava para fazer uma festa sem os amigos de Heliópolis e que eu teria que dar um jeito de levá-los até a nossa casa. Mesmo morando no litoral de São Paulo, a 1h30 de distância de lá”, conta o diretor do instituto.