Por clarissa.sardenberg

Rio - Tido como um dos maiores valores da era do rádio no Brasil, Cauby Peixoto foi bem mais que isso. Gravou clássicos da bossa nova quando o estilo ainda estava no início, foi astro da MPB nos anos 70 e 80 (reabilitado por músicas de compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso e Guilherme Arantes, que gravou) e estabeleceu-se como ícone pop da música brasileira, graças aos ternos brilhosos, às perucas de cachos e ao timbre grave. O cantor nascido em Niterói em 10 de fevereiro de 1931 — ou 1934, dizem alguns pesquisadores — morreu às 23h50 de domingo, vítima de uma pneumonia, em São Paulo, onde morava nas últimas duas décadas. Como intérprete, deixa quase 50 LPs e milhares de fãs de todas as idades. Sua empresária Nancy Lara diz que o cantor deixou um disco inédito previsto para sair até o fim do ano.

Cauby Peixoto no começo de carreira Banco de imagens

Cauby estava internado desde 9 de maio no hospital Sancta Maggiore, na capital paulista. O velório foi realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo e o corpo enterrado no cemitério de Congonhas, às 16h05 de ontem. Ao velório, compareceram famosos como Agnaldo Timóteo, Angela Maria (aplaudida pela multidão), Supla, Agnaldo Rayol e Jerry Adriani. Muitos se manifestaram pelas redes sociais, como o sertanejo Luan Santana, definido pelo próprio Cauby como “caubyzinho” quando dividiram o palco no programa ‘Encontro com Fátima Bernardes’.

“Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. É assim que a gente se sente ao lado de um mito, ao lado de uma lenda! Cauby, una seu canto ao coro dos anjos”, escreveu Luan. Outros a postar foram Ed Motta (“vi um show dele que nunca me esqueço, talento incrível”), Paulo Coelho (“obrigado por tudo que você significou na minha infância”) e Roberto Carlos (“eu sempre disse que Cauby é o maior cantor do Brasil; querido e admirado por todos, não só por seu talento mas por suas qualidades como ser humano”). Rodrigo Neves, prefeito de Niterói, cidade natal de Cauby, divulgou nota de homenagem ao cantor.

Tempos de Niterói

Nascido em família de músicos, Cauby Peixoto Barros cantou no coral da igreja do Colégio Salesianos Santa Rosa, em Niterói, e entre os anos 1940 e 1950, foi buscar trabalho como crooner em boates e rádios do Rio. Logo mudou-se para São Paulo e passou a ser empresariado por Di Veras.

Cauby Peixoto em imagem recente%2C no programa 'Altas Horas'Banco de imagens

Foi o período em que apareceram as primeiras grandes fãs. No contato com elas, o cantor saía sempre com as roupas rasgadas — na verdade, usava ternos alinhavados, fáceis de serem destruídos. Em 1956, lançava seu sucesso-assinatura, ‘Conceição’. Em 1957, inaugurava o rock brasileiro com ‘Rock and Roll em Copacabana’, e no ano seguinte, tentou carreira nos EUA com o nome de Ron Coby.

O cantor teve sua vida contada na biografia ‘Bastidores’, de Rodrigo Faour, no musical ‘Cauby’ (foi vivido por Diogo Vilela) e no documentário ‘Cauby — Começaria Tudo Outra Vez’, de Nelson Hoineff. No filme, falou abertamente sobre sua homossexualidade pela primeira vez. “Perdi um amigo. Cauby não gostava de falar sobre sua vida e eu insistia muito. Começou um embate, ele fingia que não entendia minhas perguntas, mas tinha certeza de que iria extrair algo”, lembra Hoineff ao DIA. “Era uma convivência agradável. Uma pessoa quase zen”.

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