Por bianca.lobianco
Rio - Vinicius Daumas, diretor do Festival Internacional de Circo do Rio de Janeiro — que chega à sua quarta edição hoje, em diferentes pontos do Rio — aposta no picadeiro como um amplo comunicador. “Uma pesquisa encomendada pela Prefeitura do Rio sobre os hábitos de consumo de cultura do carioca mostrou que o circo é a única linguagem que é citada em todas as faixas e classes sociais”, alegra-se. “Está no desejo do carioca ter mais acesso ao circo. Há demanda por esse tipo de espetáculo, mesmo que haja escassez de apresentação no Rio de Janeiro. E o circo tem toda uma magia, de você ver alguém fazer aquilo que você não consegue fazer. A criança adora, o adulto dá gargalhadas, ele acaba voltando a ser criança”, completa.
Rio recebe pela quarta vez o Festival Internacional de CircoDivulgação

Realizado pelo Circo Crescer e Viver, o festival mantém o caráter itinerante associado ao circo espalhando-se pelos seguintes lugares: Teatro Carlos Gomes, Bibliotecas Parque Estadual e de Manguinhos, Parque Madureira, Teatro Ziembinski, Arena Jovelina Pérola Negra e a própria sede do circo Crescer e Viver. Na lista de atrações deste fim de semana, uma mescla de nomes do Brasil — UpLeon, LaMínima, Crescer e Viver, iLtda — e uma companhia espanhola, a Cia Ciclicus.

Na próxima semana, ocupam o picadeiro a companhia franco-brasileira Sôlta, a carioca Nopok, entre outras. O tema escolhido para esta quarta edição é ‘O Rio É O mundo’, em referência ao sucesso dos Jogos Olímpicos realizados na cidade recentemente. A entrada para todos os eventos é gratuita, mediante retirada de senha com uma hora de antecedência. “O circo tem caráter itinerante, e tem a tradição de percorrer o mundo. Nossa ideia foi traçar um paralelo com a vocação que o Rio reforçou durante a Olimpíada: receber pessoas e abraçar o mundo”, explica o diretor.
Publicidade
PRIMEIRO PASSO
Misturando o espetáculo clássico a números para crianças e experimentalismos nas acrobacias, o festival tem lá seu caráter de empreendedorismo ao abraçar companhias de circo que têm pouco tempo de existência e buscam oportunidades em festivais, palcos cariocas (montados às vezes em plenas ruas, em minifestivais na Praça Mauá e no Largo do Machado) e outros espaços que abrem as portas e descem a lona para as artes circenses.
Publicidade
“Abrimos as portas para que essas companhias tenham o festival como vitrine, para que elas sejam procuradas por curadores de outros festivais. Nesse mundo de cultura, muitas vezes o papo é ‘ah, mas qual o teu currículo?’ E a apresentação no festival é algo para esse currículo, é um primeiro passo para esses jovens, para essas companhias formadas por eles. E é um ganho para eles e para nós”, comemora Vinicius.
TODO MUNDO PODE
Publicidade
Uma das companhias convidadas por ele para participar do festival, a iLtda (“ilimitada”) é inédita em eventos desse tipo. E levanta outras lebres no papo sobre circo ao misturar artistas com e sem necessidades especiais. Eles podem ser assistidos em duas apresentações (16h e 19h30) neste sábado, na Biblioteca Parque Estadual, com a ‘Parada Shakespeare’. É a história de um condutor de trem chamado William, que é obcecado por Shakespeare e enxerga nos passageiros da condução personagens do dramaturgo inglês: Romeus e Julietas, Ofélias e Hamlets. Não há limites: os artistas usam trapézios, pernas de pau, lira e mostram que há mais possibilidades de transposição de obstáculos no picadeiro do que (já que falamos de Shakespeare...) nossa vã filosofia pode imaginar.
“A iLtda tem um trapezista que é cego, um outro que é cadeirante... E além da questão das possibilidades, é importante que se fale de acessibilidade não só para o público, mas para o artista no camarim, no backstage. E quando o artista é cadeirante, dirige-se ao camarim e descobre que o banheiro não é adaptado?”, questiona Vinicius.