Por bianca.lobianco
Rio - Um grupo de onze montanhistas fica perdido no meio de uma floresta. Para sobreviver, precisam administrar o próprio pânico, lutar entre eles e contra a natureza. Esse é o mote de ‘Sem Volta’, série de 13 episódios, que estreia hoje, às 22h45, na Record.
Durante as gravações da série%2C atores quase não usaram dublês e enfrentaram perrenguesDivulgação

“Cada um deles quer subir a Agulha do Diabo, na Serra dos Órgãos, próximo a Teresópolis, por alguma motivação pessoal. Mas o guia, Yordi (Silvio Guindane), engana o grupo e diz que o tempo está bom para fazer a escalada. Horas mais tarde, uma tempestade de proporções bíblicas atinge o local. Quando chegam em um ponto da floresta, uma tromba d’água gigantesca os acerta, e eles se perdem de vez”, adianta Edgard Miranda, o diretor da produção.

Para gravar a cena da tromba d’água foram utilizados 80 mil litros de água divididos em quatro caixas com 20 mil litros cada. Tudo era despejado em cima dos atores no meio da floresta, como uma onda gigante arrastando tudo que tinha pela frente, inclusive os atores. “A parte da tromba d’água foi difícil porque era muito mato, muita água, e tinha um pozinho nas árvores que dava tipo uma urticária e pinicava a gente. Repetimos umas quatro vezes, ali somos nós, no rio sendo puxados”, conta Flávia Monteiro, intérprete da guia Inês na série.

“Quando convidei os atores, avisei que seria perrengue, que ia ser muito quente, fazer frio. Como na vez em que gravamos em correntezas em Teresópolis, chegamos a pegar -4°C, e depois íamos para uma pedreira com sensação térmica de 50°C. Mas não é para pensar: ‘O diretor é louco, colocou os atores em roubada’. Tínhamos acompanhamento profissional o tempo todo. Era bem seguro”, explica Miranda.
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Apesar dos perrengues, ninguém ficou ferido durante as gravações da série. “Tivemos um workshop tão bom que ninguém se machucou nas gravações. As situações eram tão delicadas e perigosas que eram feitas com profissionalismo, e não tinha espaço para amadorismo”, comemora o diretor.
Por causa do orçamento apertado, Miranda tomou uma decisão corajosa. “Ao invés de investirmos na contratação de dublês, o que inviabilizaria o projeto, preferimos investir em workshop pesado. Contratamos o Julio Campanella, montanhista reconhecido, e hoje os atores estão preparados para fazer alpinismo em qualquer lugar do mundo”, gaba-se.
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A atriz Flávia Monteiro vai além. Segundo ela, as gravações por vezes começavam às 5h da manhã e iam até 20h. Como o elenco chegaria em casa muito tarde, um flat foi disponibilizado para que eles ficassem em Nova Iguaçu, por ser perto das locações. “Ficamos umas duas ou três semanas morando lá. Depois, um mês e meio na localidade de Corrêas, no Rio de Janeiro. Esse foi um trabalho maravilhoso e intenso. Nunca no Brasil fizeram uma série como essa de ação, suspense e intriga”, acredita.
Para a atriz, além da cena da tromba d’água, outra lhe exigiu muito. “Fiquei dois dias pendurada a 40 metros de altura em uma pedreira com sol a pino. Outro momento marcante foi a cena em que, para salvar a vida do guia Yordi, tinha que fazer a mutilação da perna dele”, lembra.
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Não só a personagem precisava superar seus medos. A atriz também. “Nunca tinha escalado antes e gostei. Foi um trabalho muito intenso, me entreguei por inteira.
Fizemos 99% das cenas na mata. O restante era em estúdio e, na maioria das vezes, as sequências eram de flashbacks”, conta.
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O diretor Edgard Miranda conta que precisou contornar o medo dos atores. “Óbvio que não vou dizer que ninguém teve medo, mas fui para dentro d’água, para cima de pedra, e falava: ‘Olha, estou aqui, não vou colocar ninguém em roubada’”, lembra.
Segundo Miranda, o que foi mais difícil de enfrentar durante os três meses de gravação foi o calor. “É uma coisa desumana. Aproveitamos isso para extrair o mundo cão na atuação. Não podia ficar de mentirinha, não é nada de série adolescente, é uma série que mostra um mundo cão”, detalha.
Em cada episódio haverá uma situação de mundo cão, expondo os personagens aos limites do corpo e da mente, como comer insetos, mutilação e morte.
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“A maioria saiu dali com a certeza de que fez o melhor trabalho da vida, devido à entrega. Mesmo com todos os perrengues, tinha a sensação de quero mais. Quando os trabalhos terminaram, as pessoas se encontravam, viraram uma família ao trabalharem em uma situação extrema. Eles falaram que querem voltar a trabalhar comigo”, diz o diretor.