Rio - “É muito bonito dizer que o mundo é das mulheres, quando elas não têm poder pra nada”, desabafa Taís Araújo, que estreia ao lado da cantora Pitty como nova integrante do ‘Saia Justa’, que volta ao ar hoje — Dia Internacional da Mulher —, ao vivo, às 21h, no GNT. “O mundo é muito injusto conosco. Olham para gente nos desqualificando, com um olhar muito cruel, colocam a mulher em um lugar que é muito difícil sair. Mas estamos aí para enfrentar uma batalha diária”, completa, esperançosa.
PRIMEIRA NEGRA DO ‘SAIA’
Primeira negra a apresentar o programa, Taís acha que a TV precisa mudar muito para representar bem a diversidade que existe fora da tela. “Acho que já era hora de ter uma apresentadora negra. Mas não sou a voz das mulheres negras, sou uma voz negra. Não tenho capacidade de representar todas as mulheres desse país porque somos muitas”, diz. “O GNT é um canal que está caminhando a favor da gente. Tem a Karol Conka no comando do ‘Superbonita’. O trabalho tem que partir dos meios de comunicação, e já passou da hora dessa mudança”, emenda.
DEMAIS INTEGRANTES
A nova formação do ‘Saia Justa’ terá, além de Taís e Pitty, Astrid Fontenelle e Mônica Martelli. Bárbara Gancia segue, mas como repórter em um quadro. “Assim como cada uma delas, eu venho de uma realidade diferente. Uma pauta vai bater diferente em mim do que nelas, assim que bate na Pitty, que é nordestina, na Mônica que é do interior. Cada uma tem uma origem e uma história”, frisa.
‘NUNCA FIZ ABORTO’
Taís conta que é fã assumida do ‘Saia Justa’ e que não terá problemas em expor seu ponto de vista sobre temas espinhosos, como violência (“Nunca sofri violência física ou moral”) e aborto (“Nunca fiz”), entre outros. “Se sou a favor do aborto? Sou a favor da saúde da mulher. Não dá para as meninas e mulheres ficarem morrendo a torto e a direito. Aborto é um problema de saúde pública e educação. Não dá para ignorar que as pessoas o fazem. O grande problema é que alguns fingem que ele não existe e colocam a religião na frente e, enquanto isso, mulheres estão morrendo”, critica.
Acostumada a expressar suas opiniões nas redes sociais, Taís explica que não teme represálias no mundo virtual por expor suais ideias na TV. “A partir do momento que você se posiciona sobre qualquer assunto, vai ter quem concorde e discorde. Na verdade, acho pobre quando concordam comigo o tempo todo. Gosto que me provoquem a reflexão, de entender o outro. E que me façam mudar de ideia”, indica.
SONHO DE MAIS UM FILHO
A apresentadora conta que sua visão de mundo ganhou outros tons quando deu à luz Maria Antonia, de 2 anos, fruto do casamento com o ator Lázaro Ramos. Eles são pais também de João Vicente, de 5. “Queria muito ter um terceiro filho. Mas, quando soube que esperava uma menina, isso mexeu muito comigo porque era uma mulher. Colocar uma mulher negra no país me encheu de força. É como um olhar para a menina que fui e todos os percalços que passei”, lembra.
AO VIVO EM SÃO PAULO
Como o programa é feito em São Paulo, ao vivo, Taís não terá a chance de colocar os pequenos para dormir no dia da transmissão, mas isso não é um problema para ela. “A minha mãe sempre falou: ‘Vai trabalhar e deixa de besteira que seus filhos precisam que você trabalhe’. É uma rotina que não é diferente de muita mulher brasileira”, frisa.
PRESERVANDO OS FILHOS
Mesmo muito ativa nas redes sociais, Taís evita postar qualquer foto dos filhos. O mesmo exemplo é seguido pelo marido. “Eles são crianças, não são pessoas públicas. Fomos nós que escolhemos ser figuras públicas. Não eles. Me sentiria usurpando o direito à privacidade deles. Tenho que preservá-los”, defende a mãe zelosa. “Outro dia, o João Vicente veio me falar que queria ter Facebook. Imagina! Ele tem 5 anos! Eu disse: ‘O Facebook é que nem rua. Não pode falar com quem não conhece’. E fim de papo”, diverte-se.
ATAQUE RACISTA
Em outubro de 2015, Taís teve sua página no Facebook atacada por um grupo que escreveu comentários racistas em seu perfil. A atriz buscou seus direitos (“Nunca tinha entrado em uma delegacia na vida”), e os criminosos foram presos, mas soltos logo depois. “Você tem direito a pensar o que quiser. Mas tem o dever de respeitar o outro. A internet é terra de ninguém. Falta muita coisa para o Brasil dar certo. Falta tratar a educação com seriedade, não temos saúde e temos vários políticos que são individualistas. Mas é aqui onde crio meus filhos e acredito que a população pode fazer a diferença”, torce a estrela.