Rio - Beatriz Milhazes é uma das estrelas das artes plásticas e um encantamento com pincéis. Nossa convidada de hoje é a brasileira, viva, com a pintura mais cara vendida em um leilão: a obra ‘Summer Love — Gamboa Seasons’. Marcel Telles, sócio da Ambev, pagou R$ 16 milhões pela tela... Felizardo!
Fale um pouco sobre o seu trabalho.
Comecei a desenvolver minha linguagem e escolhi a pintura. Queria dialogar as questões da pintura, que vêm de um contexto europeu e norte-americano a partir de meu contexto carioca, do Rio, deste universo tropical e culturalmente tão rico. Nosso Modernismo e principalmente na figura da Tarsila do Amaral foram grandes referências e, em seguida Matisse e Mondrian, para o raciocínio da pintura. Meus motivos e elementos vêm de lugares externos a pintura como formas da natureza e arte popular e desenvolvem uma geometria que dialoga com meus interesses na vida. Me interessa os contrastes fortes e que ativem o olhar. A cor é um elemento central na composição e o que determina o desenvolvimento e finalização de uma tela. Sou uma pintora abstrata que acredita na imaginação e racicínio para o desenvolvimento de uma linguagem.
Como percebeu que a arte era seu caminho?
Quando fiz um curso na EAV-Parque Lage, em 1980. Era uma oficina básica e, ali, encontrei um universo a ser investigado que me interessou. Nunca mais tive dúvida de que a arte era o assunto que queria desenvolver.
Quando sua arte decolou e teve reconhecimento?
Minha carreira caminhou de maneira muito linear. Nos anos 80, a mostra ‘Como Vai Você, Geração 80’ me lançou nacionalmente com 24 anos e sem uma linguagem muito definida ainda. Em 1990, realizei a primeira mostra em que senti que havia encontrado o meu mundo plástico para desenvolver (Galeria Saramenha, Rio de Janeiro). Foi então que minha carreira nacional começou a se solidificar e, logo em seguida, comecei a expor na América Latina, seguida por Nova York, Estados Unidos em geral. Nos anos 90, a Europa chegou e se expandiu rapidamente, tendo a Inglaterra, Alemanha e França como centro. A Ásia, principalmente Japão e mais recentemente China. A minha representação no Pavilhão Brasileiro da Bienal de Veneza, em 2003, foi um grande momento. Sou uma artista internacional e sempre brasileira. São 34 anos de trabalho evolutivo tanto na obra quanto na carreira e mercado.
Como é estar em patamar tão alto na carreira?
Fico muito feliz com a possibilidade de minha obra fazer parte do mundo internacional da arte. Ser reconhecido no meu país e também ser mostrado nos principais museus e galerias de arte do mundo. Contudo, estamos sempre evoluindo, pois a grande evolução não se acomoda e está sempre buscando crescimento.
O que gostaria de fazer?
Tantas coisas... A pintura é um universo infinito de interesse para mim, mas estou muito envolvida com a possibilidade do trabalho tridimensional/esculturas e com as obras permanentes para espaços públicos! Novos desafios e comunicação com o expectador.
Para 2017, novidades?
Estou desenvolvendo projetos para o próximo ano. Uma grande mostra na White Cube Gallery, em Londres, dois murais no novo prédio do Hospital Presbiteriano de Nova York e uma instalação em uma das ilhas na Inujima Art Project, Japão. Temos o lançamento do livro monográfico sobre minha obra da editora alemã Taschen/Beatriz Milhazes, 1981-2016, um marco na carreira e editado em quatro idiomas (alemão, inglês, francês e português). E abro uma mostra na Carpintaria/Fortes D’Aloia & Gabriel, com as esculturas que desenvolvi na Durham Press, US. Marola, Mariola e Marilola são as três peças já exibidas na James Cohan Gallery, NY, e Max Hetzler Gallery, Berlin/Paris. Abre dia 20 de maio.
O que te inspira?
Trabalhar no atelier e viver no Rio.