À esq., Ivete Sangalo entre Carlinhos Brown, Michel Teló e Lulu Santos. E, à dir., amamentando as filhas gêmeas Helena e Marina
 - Raquel Cunha/TV Globo
À esq., Ivete Sangalo entre Carlinhos Brown, Michel Teló e Lulu Santos. E, à dir., amamentando as filhas gêmeas Helena e Marina Raquel Cunha/TV Globo
Por Gabriel Sobreira

O talento e a fama nem sempre caminham lado a lado. Para Ivete Sangalo, 46 anos, ela contou com outro fator em seus 25 anos de estrada. "Não é uma analise de quem está de fora, mas minha mesmo. Tenho muita sorte na minha carreira e desempenho musical. É massa, é algo que gosto de fazer. Não é um trabalho. Trabalho é deslocamento, fazer mala, pegar voo. Mas contato com a música, o público, isso tudo é sorte da zorra, que tive", analisa ela que, a partir de terça-feira, volta como técnica na sétima temporada do 'The Voice Brasil', da Globo.

DVD

No ano em que comemorará as mais de duas décadas em um DVD ("Vai ter participações. Mas só quero chamar depois que os ingressos estiverem todos esgotados. Porque os convidados vão para cantar, não para movimentar qualquer outra coisa. Eles vão para dividir comigo as emoções", diz Ivete) a ser gravado em São Paulo, a artista critica o costume de determinar um sucesso a partir de muitos números, poucos números, preconceitos e/ou preceitos. "Isso só atrapalha a gente. Às vezes, o cara está lá, tem um público de X pessoas, vende X discos, a música faz download tantas vezes. Aquilo para ele é uma grande vitória, já alimenta ele, está bom para ele", afirma.

Para a baiana, a arte não deve ser padronizada. "Você vai fazer um carro, você faz em série. Artista não se faz em série. Você não vai fazer outra Ivete, outro Carlinhos Brown, assim como não vai existir outro você. As diferenças é que incrementam a vida da gente", frisa. E vai além: "Algumas pessoas dizem: 'Ah, fez 'The Voice', quando sair tem que pipocar, tem que gravar com fulano, fazer tal coisa, tem que aparecer'. Será que é isso? Será que o sucesso desse artista já não é pisar naquele palco?".

PLANEJAMENTO

Para marcar presença nesta temporada, a cantora, que há cinco meses deu à luz Marina e Helena, conseguiu organizar sua agenda, já que o cronograma do programa foi liberado com antecedência. “Como meu trabalho é de deslocamento, eu fiz um planejamento de vida onde eu só me desloco X dias no mês”, explica ela, que também é mãe de Marcelo, de 8 anos, os três filhos do casamento com o nutricionista Daniel Cady.

“Tinha um filho único, Marcelo, e por oito anos e meio era exclusiva para ele. De repente, duas (meninas), aquele amor que você quer fazer tudo que está rolando com as duas ao mesmo tempo e não é possível. Aí você fica: ‘meu Deus, eu quero segurar, quero trocar as duas juntas, quero botar para dormir’. Aí você tem que fazer um planejamento. O pai entrou com tudo, e Marcelo também é muito maravilhoso, a vó, a tia também”, entrega, aos risos.

PARA TODOS

A artista conta que o primogênito sempre teve uma vida de muita atenção e amor. “Ele não é criança carente. Quando as irmãs chegaram, ele viu como um presente para ele. 

Um plus. Agora ele se impõe: ‘mãe, queria jogar futebol com você agora’. Ele não envolve elas na discussão entre a minha atenção para ele. Eu entendo a mensagem e, como todas as mães de muitos filhos, tenho que dividir a atenção”, explica Ivete. “Tenho que ficar com ele, tenho que ficar com elas, tenho que ficar com o pai (risos). Eu vou desmaiar”, brinca. A participação do companheiro é fundamental nesse momento. A baiana então entrega o segredo de um casamento de sucesso. “Uma vida fogosa (risos). O segredo é que primeiro temos que ter uma comunhão do que a gente quer”, frisa. Para ela, todo relacionamento que se pretende ser duradouro precisa ter discussão, diálogo, um pouco de estresse, discordâncias.

“Honestamente, a rotina não me incomoda. Sou uma mulher muito da rotina, sou muito caseira, mas acho que respeito é duradouro para qualquer relacionamento, o nosso, de amigos, colegas, irmãos e família. Ele gera convívio bom. Apesar de a gente viver junto, casado assim, cada um tem sua rotina, sua vida, seus interesses muito particulares, e no meio dessa caminhada os pontos de interseção: o amor, o interesse de estar junto, os fi lhos”, pontua.

RESPEITO

Mãezona coruja, Ivete olha com orgulho o talento do filho para a música — Marcelo já mostrou diversas vezes habilidade com bateria. Contudo, ela respeita o tempo e o espaço do garoto. “No meio disso (bateria), ele também gosta de velejar, pescar, jogar futebol. Seria louco da minha parte ser tendenciosa. Isso não é educação, é pressão. Tudo que ele se dispõe a fazer, eu estimulo, participo, tanto eu quanto o pai”, explica.

A busca pelo corpo de antes da gestação das gêmeas é encarada sem pressão pela cantora. “Sou uma mulher saudável, vaidosa dentro do limite. Quero estar linda sem barriga e tal, mas se isso não é possível dentro do meu tempo, a barriga vai ficar e esperar até a hora de ela sair. Ou não. Isso é um casulo, o tempo vai dar conta disso”, planeja, despreocupada.

CONSELHOS

No ‘The Voice’, Ivete tem dois conselhos para os candidatos à voz do Brasil. Um é burocrático e o outro, emocional. “Burocraticamente, a palavra é responsabilidade com a carreira e com qualquer outra coisa da vida. Principalmente quando está no melhor momento, ela tem que ser ainda maior. Porque a gente tende a achar que quando está numa boa, joga para cima, e aí é onde o bicho pega. Nunca fuja da responsabilidade do seu trabalho. Porque tem essa confusão: ‘sou artista e posso chegar a hora que eu quiser, quero tantas coisas’. Isso não é assim. Você não tem um inimigo do lado de lá, tem alguém que está fazendo a coisa acontecer junto com você”, ensina.

Do campo emocional, ela diz que é muito contraditório o artista querer chegar no show, que esteja cheio e que as pessoas cantem sua música, e ele não dar nada ao público em troca. “É tão boa essa troca. Não tem nada mais gostoso para um artista do que um público cantando uma música dele, olhando para ele. Não sei se é porque sou muito exibida e gosto dessa coisa de olhar, de retribuir e saber que está olhando para mim e tal. A pessoa tomou banho, comprou ingresso, pegou carro, estacionou pensando em você. E chega na hora você é fuleiro? Aí não pode. É o mesmo princípio que eu parto para virar a cadeira. Não sei de onde vem, como está vestido ou a história dessa pessoa. Se ela está me tocando, não quero nem saber, vou virar”, defende.

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