Rio - Já imaginou dirigir e ouvir Milton Cunha, 57 anos (completa 58 nesta quinta-feira), indicando o melhor percurso, as distâncias, instruções e alertas de trânsito? O Waze atendeu ao abaixo-assinado que viralizou pedindo que o cenógrafo, comentarista da Globo e ex-carnavalesco fosse a voz do aplicativo de rotas e caronas. Milton ficou surpreso, mas não estranhou quando a agência responsável pela conta do Waze ligou para ele. "Achei que tinha tanto movimento (repercussão), saiu em tanto lugar, que ia dar algum resultado", confessa ele, com sua peculiar voz rouca.
"Chamam de 'voz de tia que fuma Hollywood', 'voz da Nair Bello', 'voz da Leda Nagle'. Dizem que só de ouvir minha voz já dá enfisema pulmonar neles", zoa, às gargalhadas, o paraense que nunca fumou.
FRASES
Cunha recebeu as 42 frases, as estudou e as transformou em seu estilo. Foram três dias de gravação. Para ele, que fez pós-doutorado em História da Arte pela Escola de Belas Artes (UFRJ), a dificuldade do roteiro é o tempo. Cada comando tem um tempo específico (seis, 10 ou 15 segundos). "'Em 200 metros' é uma frase, 'vire à direita' é outra frase. Aí, como eu queria colocar graça, e colocar o meu... Por exemplo: 'Rapidinho, pegue a primeira saída', 'força na peruca, mantenha-se à direita', 'amado, tudo pronto, vamos' e 'parabéns, deslumbrante, você chegou ao seu destino'", explica ele, que é mestre e doutor em Letras. "Na minha voz parece que tudo é um grande show, parece que a cortina está se abrindo", brinca o especialista em moda e indumentária.
"A minha voz já está lá para o povo se divertir. Porque dirigir comigo é um susto, né? A pessoa acorda só na minha empolgação. Ô pessoa empolgada, que eu sou! Até receita de bolo na minha voz fica show business", brinca Milton, que é tietado por onde passa. "É motorista de ônibus, é ajudante de caminhão falando: 'Olha o viado da Globo', 'amaaaado'. Ai, é uma loucura (risos), teve motorista de táxi dizendo: 'É uma honra te levar, opulento, glorioso'. É uma festa, é uma gritaria", diverte-se.
SUCESSO
Formado em psicologia pela Universidade do Pará (1982), Cunha tem um palpite que explica qual a razão de só agora viralizar. "As pessoas levam um tempo, na vida real/normal, para me entender. Elas ficam perdidas, pensam: 'Vem cá, é um personagem? O que é isso?'", acredita ele, que está há oito anos na TV. "O Carnaval é curtinho, né? São dois dias que eu comento. Aqui no Rio tem aqueles outros meses (novembro, dezembro, janeiro) de reportagens. Acontece que eu não fico o ano inteiro em cartaz, então as pessoas levaram oito anos para juntar os oito pedacinhos e dizer: 'Nossa, esse cara, quero ele no aplicativo, no metrô, no aeroporto. Se eu ficasse o ano inteiro em cartaz, com certeza a reação já teria sido mais lá atrás", aposta.