Suely Franco e Nicette Bruno
Suely Franco e Nicette BrunoDivulgação
Por Juliana Pimenta
Rio - Em um ano que já acumulou tantas perdas, esta é mais uma notícia que nenhum jornal gostaria de dar. Neste domingo, dia 20 de dezembro, faleceu a atriz Nicette Bruno, aos 87 anos, vítima da covid-19. A poucos dias do Natal, a dor é ainda maior porque a maioria de nós perde alguém que parecia ser da família. Nicette, dentre tantos papéis, foi nossa avó durante o tempo em que viveu Dona Benta, a doce matriarca do ‘Sítio do Pica-pau Amarelo’.
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E, se aos pais cabe a função de educar e aos avós a de “estragar”, Nicette nos mimou da melhor forma possível: com afeto, doçura e bons exemplos. Viúva de Paulo Goulart desde 2014, a atriz ainda mantinha vivo o amor pela profissão que o casal tanto ostentava. Por isso mesmo, é difícil dizer que Nicette descansou neste dia 20. Nicette não estava cansada. Aliás, era o contrário. Cheia de vigor e entusiasmo, a atriz estreou, em março, a peça ‘Quarta-feira, Sem falta, Lá em casa’, ao lado da amiga Suely Franco, no teatro Claro Rio, em Copacabana.

Interrompida pela pandemia, a peça logo saiu de cartaz, sendo seguida pelo fechamento dos teatros em todo o país. Na ocasião, Nicette concedeu ao DIA uma entrevista exclusiva e até então nunca publicada, na esperança de que tais palavras se tornassem públicas no momento em que a peça retornasse aos palcos.

Como última homenagem, é válido resgatar as declarações da atriz que, como uma novata, se empolgava diante da estreia de um trabalho. No espetáculo, assim como na vida pessoal, Nicette e Suely interpretavam amigas de longa data e as atrizes comemoravam a oportunidade de poder levar essa parceria aos palcos.

“Nós temos uma sintonia cênica muito boa, uma vivência muito agradável. É muito difícil a gente ter um constante encontro com seus amigos, porque a vida exige muito da gente, ainda mais com família e um trabalho que exige muita dedicação” contou Nicette, que estava ansiosa para que o público comparecesse ao teatro e pudesse conhecer a história. “As expectativas são as melhores possíveis. É um texto de 1976, mas que ainda é muito atual”, disse.

No enredo, as amigas acabavam se desentendo por conta de segredos guardados ao longo da vida. Na época, Nicette jurou que jamais havia passado por situação semelhante. “Eu nunca fui de fuçar as coisas de alguém, eu prezo muito a amizade e nunca fiquei testando. Cada um é responsável pelo que faz. É evidente que você pode se desencantar com a atitude de uma pessoa, mas aí é normal do cotidiano”, explicou.

Mesmo assim, Nicette fez questão de destacar que a história do espetáculo transcendia a amizade das protagonistas. Para a atriz, o trabalho era um reflexo sobre a vida é o envelhecimento. “A peça é isso: você acha que sabe das coisas, acha que pode confiar nas pessoas, mas nem sempre é isso que ocorre. Mas a gente está sempre aprendendo. A todo momento. A vida é um eterno aprendizado”, concluiu.