Yuri Marçal
Yuri MarçalDivulgação
Por Filipe Pavão*
Rio - É possível unir humor e crítica social em um espetáculo de comédia? Para o carioca Yuri Marçal, sim. O humorista, de 27 anos, chama atenção dos fãs por fazer uma comédia ácida, que cumpre o objetivo de fazer rir, mas também faz refletir sobre pautas importantes para a sociedade como a luta antirracista.
“Uma analogia que o Fábio Porchat faz e que eu gosto muito é aquela de você dar o remédio para o cão dentro de um pão. O pão é o humor e o remédio é essa luta antirracista, que é a minha luta como ser humano. Se eu tivesse qualquer outra profissão, essa seria minha luta também. Entendeu? Mas o meu objetivo mesmo é fazer rir. Se eu conseguir, em algum momento, trazer a minha realidade na comédia e também dar voz a essa minha luta pessoal, é maravilhoso”, diz Yuri.
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Longe dos palcos por conta da pandemia de covid-19, ele encontrou um novo terreno para fazer suas piadas: a internet. E, por sinal, faz muito bem. Transformou suas redes sociais em palco para o seu humor e até no streaming foi parar. Recentemente, estrelou um episódio da série "5X Comédia", que está disponível no Amazon Prime Video.
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“Como todo mundo da cultura, a pandemia me afetou muito. Amo e vivo dos palcos, da aglomeração, do stand-up e de viajar o Brasil, e agora a gente não pode mais. Ao mesmo tempo, claro, não posso ignorar que produzi muito conteúdo (na internet) e isso gerou engajamento e seguidores. É sempre interessante ter mais pessoas conhecendo o nosso trabalho, mas, infelizmente, isso veio dessa forma, com o caos que a gente está passando”, conta.
Cultura do cancelamento
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Com humor ácido e polêmico, a internet também foi palco do seu cancelamento. Em agosto de 2020, Yuri foi criticado por citar o abuso sexual de uma menina de 10 anos em um vídeo que ironizava o fanatismo religioso. Sobre a cultura do cancelamento, Yuri só enxerga “efeitos negativos”. “Cancelar e chamar para responsabilidade são coisas completamente diferentes, porém, a internet, principalmente o Twitter, não sabe diferenciar”, reflete.
“Aconteceu uma fake news gigante e, até hoje, muita gente acha que eu fiz uma piada que nunca fiz. Eu não fiz piada com estupro de uma menina, eu fiz piada com fanatismo religioso, com gente babaca e vou continuar fazendo enquanto eu tiver vida. Porém, não é isso que esse cancelamento quer saber. E se você acha que isso é motivo de cancelamento, um beijo para você. Uma pena”, pondera Yuri.
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Ainda sobre o caso, ele conta que removeu o vídeo porque despertou gatilhos em algumas pessoas. ”Não é isso que eu quero com a minha comédia e removi o vídeo. Eu quero que você se divirta e que tenha algum alívio. Como eu não consegui esse objetivo, me perdoa, me desculpa e está tudo certo”, diz.
O debate levanta uma pergunta: qual é o limite do humor? Para Yuri, essa resposta é pessoal e subjetiva. “O que é engraçado para mim, não vai ser para outro. Já ultrapassei várias vezes os limites pessoais de várias pessoas, principalmente por conta dos assuntos que eu trago: política, religião, questões raciais e sociais em geral. Já errei e me desculpei. Não tenho problema algum em me desculpar, mas se eu pedisse desculpa por tudo que eu posto, eu não trabalharia, né?”, questiona.
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Representatividade
No ar como um “homem preto, gay e favelado” em “5x Comédia”, da diretora Monique Gardenberg, Yuri sabe a importância da representatividade negra na arte por viver episódios racistas na própria pele constantemente. Mas o que ele quer naturalizar é a presença de pessoas negras no audiovisual brasileiro. “A gente podia estar muito mais avançado nesse sentido. Todas as plataformas de audiovisual ainda são muito brancas”, comenta.
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“Se identificar é muito importante. Traz proximidade, verdade e emociona. Eu recebo um monte de feedback da galera que vai ao show, de todas as idades. Senhorinhas que vão ao teatro pela primeira vez com 85, 90, 95 anos e falam: ‘nossa, como queria que tivesse isso na minha adolescência’. Isso me emociona demais. Representatividade é a pessoa poder estar se divertindo com a realidade dela ou com algo que ela já vivenciou”, enfatiza Yuri.
* Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa