Zezé MottaALLLEXANDROS

Rio - Neste domingo, Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, o especial “Zezé Motta – Mulher Negra” não vai deixar a data passar despercebida. O espetáculo vai reforçar a memória de mulheres que lutaram por uma sociedade mais justa, como a líder quilombola Tereza de Benguela. Além do show de Zezé, o programa vai trazer depoimentos de nomes como Iza, Camilla de Lucas e Cacau Protásio, às 17h, em transmissão pelo canal de TV L!Ke e pelo canal do YouTube do Bradesco.
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“É muito importante refletir, discutir e combater a discriminação contra a mulher negra. Todas as mulheres sofrem preconceito, em diferentes classes sociais, mas a violência contra a mulher negra, geralmente de classes menos favorecidas, é ainda maior. É preciso combater o machismo e que haja mudança de comportamento. O espetáculo vai mexer muito com essa questão e, com certeza, trazer impacto e reflexão, mas também muito prazer”, diz ela, que garante as músicas “Magrelinha”, “Senhora Liberdade” e “Tigresa” no repertório.
Com roteiro e direção de Yasmin Thayná, o espetáculo contará com apresentação da atriz Luana Xavier e da pesquisadora trans Rafaela Pinah. Será transmitido diretamente de Santa Teresa, com vista para o Pão de Açúcar.
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“Me sinto honrada de participar de um projeto com essa grandeza. É a primeira vez que sou dirigida pela Yasmin, uma diretora premiada no Brasil e no exterior, que é competente e sabe o que quer. Tem um momento (no especial) em que a Lua Xavier fala e é preciso se segurar para não chorar porque a nossa história é complicada”, diz Zezé, que ainda fala sobre como se sente ao ser considerada um dos principais ícones de representatividade negra.
“Vejo isso com naturalidade. Fico feliz de não desperdiçar meu espaço na mídia falando abobrinha. Muita gente não aproveita o espaço que tem para fazer algo útil para a sociedade. Nós vivemos em uma sociedade desigual, injusta e preconceituosa. E quando eu falo de preconceito, a minha preocupação não é só com o negro, é com o gay, com o gordinho... Preconceito é desumano”, reflete a atriz e cantora.
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Mudanças
Além do espetáculo, Zezé Motta comemora o bom momento que vive na publicidade. Aos 77 anos, ela conta que, pela primeira vez, se sente requisitada após fazer trabalhos durante a pandemia, incluindo para marcas de beleza.
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“A minha história com a publicidade mudou. Fui bem solicitada para fazer campanhas e, para mim, foi surpreendente. Ainda temos muita luta pela frente, mas era inevitável que um dia a gente conseguisse dar uma virada nesse jogo. E depois de tanta luta, verdade? Sou de um tempo que todo negro era considerado feio porque o padrão de beleza era europeu”, desabafa Zezé, que também comemora o retorno ao set de filmagem.
“Gravei o filme ‘Eulália’, do diretor Igor Moreira, no mês passado, e fiquei muito emocionada por voltar depois de tanto tempo. Tenho mais dois roteiros aqui esperando patrocínio também. Eu só acordo todos os dias e digo: ‘gratidão, meu Deus’. No início (da pandemia), passamos muito pânico, ainda não acabou, mas aos pouquinhos retornamos as coisas”, reflete.
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Críticas
Por outro lado, a artista lamenta o retrocesso de políticas públicas e faz críticas ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e ao presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo. No ano passado, ela, Elza Soares e outros artistas foram retirados da lista de personalidades negras da Fundação, que também promoveu a redução do próprio acervo.
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“Esse rapaz que está à frente da Palmares é uma decepção do tamanho do mundo para nós que militamos há muito tempo por justiça e igualdade. Presta um desserviço enorme. Eu estive na inauguração da Fundação, sempre participei de projetos, debates, palestras e depoimentos, e, de depende, vem uma pessoa que não nos representa e faz essas loucuras que ele tem feito... Esse governo é um pesadelo e o governante é genocida e racista. A gente tinha avançado em várias questões e regredimos mil passos”, lamenta.
*Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa