Antônio Carlos, o Carlinho Cabeça, mora em Ramos há 33 anos e é apaixonado pela Imperatriz e pelo VascoBeatriz Perez/Agência O DIA

Rio - Em Ramos, o clima era de ressaca e felicidade nesta quinta-feira (23), um dia após a Imperatriz Leopoldinense conquistar seu nono campeonato no Carnaval carioca. A festa na quadra, regada a cerveja distribuída pela presidente da escola Cátia Drumond, terminou às 6h. Ainda durante a manhã, os componentes já estavam novamente na sede para dar entrevistas. Nas ruas do bairro, moradores celebravam o título após 22 anos de jejum.
A rainha de bateria Maria Mariá entrou para a escola aos 9 anos - Cléber Mendes/ Agência O DIA
A rainha de bateria Maria Mariá entrou para a escola aos 9 anosCléber Mendes/ Agência O DIA


A estreante rainha de bateria Maria Mariá, de 20 anos, é cria do Complexo do Alemão e foi atraída à quadra ainda criança, aos 9 anos, pelos ensaios que aconteciam na sua rua. A jovem passista, que já tocou repique na bateria Imperatriz, desfilou com a fantasia "Diaba Quem Me Dera", personagem que Lampião encontrou quando chegou ao submundo, no enredo de Leandro Vieira.

A relação com a escola é estreita. Foi onde a rainha se formou. E o enredo nordestino trouxe ainda mais identificação para a jovem, que tem família cearense. "Não dormi. A gente estava aqui na quadra desde ontem. É a realização de um sonho. Comecei aqui na Imperatriz. Era da ala mirim. Fui para a bateria e fiz audição para a ala de passistas. Por isso é tão importante. Tem esse amor em dobro, porque é a minha escola e a escola que me formou", comemorou.
A filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita Ferreira Nunes, de 90 anos, foi destaque em carro da Imperatriz - Cleber Mendes/Agência O Dia
A filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita Ferreira Nunes, de 90 anos, foi destaque em carro da ImperatrizCleber Mendes/Agência O Dia


A Imperatriz Leopoldinense apresentou na Avenida histórias míticas do Rei do Cangaço. No enredo, Lampião busca lugar no inferno e no céu, sem obter guarida em nenhum dos dois. Até mesmo a filha dos protagonistas dessa história, desfilou no Carnaval leopoldinense. Expedita Ferreira Nunes, filha de Maria Bonita, veio de Sergipe, onde mora, para desfilar. Aos 90 anos, ela foi destaque do último carro da escola.

"É uma grande emoção e uma grande alegria a homenagem que fizeram para meus pais. Para mim, foi gratificante. O povo sabe que eu existo e sabe que meu pai tem valor", afirmou dona Expedita na quadra do grêmio recreativo.
Estreantes na Imperatriz, os intérpretes Pity de Menezes e Thatiane Carvalho celebram título - Cleber Mendes/Agência O Dia
Estreantes na Imperatriz, os intérpretes Pity de Menezes e Thatiane Carvalho celebram títuloCleber Mendes/Agência O Dia


Estreante na Imperatriz, o intérprete Pitty de Menezes comemorou a noite toda:"A emoção é muito grande de poder ser campeão na estreia. Tenho um ídolo, que é o Dominguinhos do Estácio. Quando ele veio para Imperatriz ele foi campeão também. Então, estou tentando seguir os caminhos do cara que eu considero meu padrinho e me inspirou muito".

No dia seguinte à vitória, o samba nordestino não parava de ser entoado pelos componentes. Também estreante na Imperatriz, Thatiane Carvalho foi formada na escola mirim do Estácio e foi a única mulher a sair no carro de som da escola de Ramos. "Espero que tenham mais mulheres vindo. Têm tantas no Carnaval. Espero que mais sigam esse caminho também. Foi muito bom. Indescritível", disse a jovem que também não dormiu em meio a tanta adrenalina.
Integrantes da comissão de frente do coreógrafo Marcelo Misailidis - Cleber Mendes
Integrantes da comissão de frente do coreógrafo Marcelo MisailidisCleber Mendes


Com 26 anos de experiência, o coreógrafo da comissão de frente Marcelo Misailidis ressaltou a felicidade de seu primeiro ano em Ramos com vitória e recondução da Imperatriz à elite do Carnaval. Misailidis conta que no começo de sua carreira tinha como paradigma os trabalhos da Imperatriz assinados por Rosa Magalhães e Fábio de Melo.

"Não havia comissões de frente que competissem com a Imperatriz. Anos depois, o protagonismo começou a ser dividido com outras escolas e o quesito começou a ficar extremamente competitivo", afirmou. "Ela está no lugar que merece. É muita alegria. Levando em consideração a história recente. Cátia Drumond, presidente da escola, soube organizar uma ótima equipe. A gente apostou em um trabalho em conjunto", completou.
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense: Rafaela Theodoro e Phelipe Lemos - Cléber Mendes/ Agência O DIA
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense: Rafaela Theodoro e Phelipe LemosCléber Mendes/ Agência O DIA


A porta-bandeira Rafaela Theodoro, reverenciou a ícone da escola Maria Helena, morta no ano passado, ao falar da vitória. A jovem, que também é da comunidade do Alemão, está desde 2011 na escola de Ramos e quer fazer história.

"A Imperatriz é uma escola gigante e cheia de tradição. Tenho orgulho de defender esse pavilhão lindo, que teve um dos maiores casais. Dona Maria Helena fez muita história. Quando entrei na Imperatriz, ela foi uma das primeiras pessoas com quem fui falar. Tenho certeza de que ela lá de cima está olhando por nós. A gente brinda com alegria e amor essa nota 10 com o campeonato", comemorou.

Rafaela ressalta que tem com o mestre-sala Phelipe Lemos o compromisso de bailar para todo o público na Avenida e não apenas para os jurados. Phelipe afirmou que a sensação é de dever cumprido.

"A responsabilidade é muito grande por sermos duas pessoas defendendo um quesito. Infelizmente, só vence um casal, mas todo mundo trabalha intensamente e merece viver esse momento. Graças a Deus, esse ano fui agraciado com a vitória. Torço pelos meus amigos também, mas no ano que vem vou tentar essa alegria de novo", diverte-se.

Não foi só a quadra da campeã do Carnaval de 2023 que encheu de torcedores na quarta-feira. Todo o bairro recebeu visitantes e as ruas ficaram cheias. Antônio Carlos, o Carlinho Cabeça, mora em Ramos há 33 anos. Ele foi à quadra acompanhar a apuração e está feliz com o fim do jejum.
Antônio Carlos, o Carlinho Cabeça, mora em Ramos há 33 anos e é apaixonado pela Imperatriz e pelo Vasco   "Minhas duas paixões são o Vasco e a Imperatriz  - Beatriz Perez/ Agência O DIA
Antônio Carlos, o Carlinho Cabeça, mora em Ramos há 33 anos e é apaixonado pela Imperatriz e pelo Vasco "Minhas duas paixões são o Vasco e a Imperatriz Beatriz Perez/ Agência O DIA


"Minhas duas paixões são o Vasco e a Imperatriz. Estávamos na fila há 22 anos na espera desse campeonato. Estou muito grato à nossa presidente Cátia Drumond. A comunidade está realizada. Ontem não dava nem para andar aqui. Foi tomado pela multidão. Veio gente de longe comemorar o título da Imperatriz", conta Antônio em uma padaria próxima à quadra.
A cuidadora de idosos Naílsa de Oliveira Silva, 55, destacou a importância do título para a auto-estima do bairro - Beatriz Perez/ Agência O DIA
A cuidadora de idosos Naílsa de Oliveira Silva, 55, destacou a importância do título para a auto-estima do bairroBeatriz Perez/ Agência O DIA


A cuidadora de idosos Naílsa de Oliveira Silva, 55, é nascida e criada em Ramos. Ela achou merecido o campeonato. "Quanto tempo que a Imperatriz não ganhava. É importante dar uma motivação para o bairro. Mostrar que aqui temos garra. Essa festança depende do pessoal da comunidade. Todo mundo depende um do outro. O bairro voltou a sorrir. Nós precisamos disso”, afirmou.
A vendedora Nathanie Barbosa de Oliveira, 23, trabalha em uma loja de produtos naturais em Ramos e mora do Itararé, no Complexo do Alemão - Beatriz Perez/ Agência O DIA
A vendedora Nathanie Barbosa de Oliveira, 23, trabalha em uma loja de produtos naturais em Ramos e mora do Itararé, no Complexo do AlemãoBeatriz Perez/ Agência O DIA


A vendedora Nathanie Barbosa de Oliveira, 23, trabalha em uma loja de produtos naturais em Ramos e mora no Itararé, no Complexo do Alemão. A jovem afirma que "a favela desceu", na quarta-feira, para comemorar o título. "Foi uma vitória muito grande para o Complexo e para Ramos. Sou torcedora. Fiquei muito feliz. Ontem as ruas estavam lotadas. Para ir embora foi até difícil", lembrou.