Apuração aconteceu no Sambódromo, nesta quarta-feira (22), e consagrou a Imperatriz Leopoldinense como campeã do Carnaval 2023Cléber Mendes / Agência O Dia

Rio - A falta de jurados negros durante a apuração do Grupo Especial, questionada por famosos e anônimos nas redes sociais, não interfere em nada no resultado do Carnaval deste ano, segundo Jorge Perlingeiro, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa).
Em conversa com O DIA, Perlingeiro informou que todos os jurados escolhidos possuem capacidade e conhecimento para dar as notas, independente de credo, cor e religião. 
"Não vou fazer o percentual de jurados negros porque eu não falo sobre isso. Acho que o tema não é relevante e gosto de falar sobre o Carnaval. O julgamento, para mim, foi extremamente justo e a escolha aconteceu por competência e capacidade. Eu não vou pegar um médico para julgar samba-enredo. Quem vai julgar as fantasias e os figurinos são as pessoas que trabalham com moda. Não envolve credo, religião nem nada", disse o presidente da Liesa.
A lista completa com os 36 jurados foi divulgada no último dia 14, depois da conclusão de um curso realizado por três dias consecutivos. Ao longo do período, os jurados tiveram noções básicas do regulamento dos desfiles de 2023 e foram instruídos pela Liesa a respeito dos critérios que deveriam considerar ao atribuir notas de 9,0 a 10 para o desempenho das agremiações, resumidos no manual do julgador, disponível no site da entidade.
"Temos jurados há 25 anos no cargo. Ninguém fica por cinco ou dez anos se não for bom. Os julgadores passam por toda uma evolução, tem manual e curso. Nós tratamos o julgador com respeito e oferecemos todos os subsídios para ele julgar bem. O julgamento é subjetivo. A escolha é feita por critério de capacidade e colocamos eles perfeitamente no critérios de avaliação de acordo com seus próprios currículos", completou Perlingeiro.
O presidente da Liesa ainda ressaltou que não viu nada que colocasse o campeonato da Imperatriz Leopoldinense em suspensão e que as notas diferentes de 10 estarão no site da entidade a partir da tarde desta sexta-feira (24) com todas as justificativas dos jurados.
Críticas por ausências de jurados negros
A falta de jurados negros incomodou famosos a anônimos durante a apuração realizada nesta quarta-feira (22). A atriz Elisa Lucinda, de 65 anos, que vive dona Marlene na novela "Vai na Fé", da Rede Globo, utilizou o seu perfil no Twitter para questionar essa ausência.
"Gente, por quê os jurados do Carnaval carioca são todos brancos? E, além disso, são designers de moda e joias, bailarinos clássicos... Não sei se tais quesitos tão eurocêntricos os habilita para julgar esta festa popular. Pronto, falei!", tweetou a artista, que de imediato recebeu o apoio da cantora Teresa Cristina. "Queria saber quando os passistas irão até o Theatro Municipal julgar os bailarinos", pontuou a sambista.
Em resposta à reflexão, outros internautas concordaram com o ponto levantado por Elisa e acrescentaram sua visão sobre o assunto. "Comentei a mesma coisa, Elisa. A festa pode até ser negra, mas os julgadores e os critérios de julgamento ainda são brancos", disse um seguidor. "Exatamente isso. Colocam umas pessoas com umas formações tão aleatórias para julgar os quesitos... Alguns que provavelmente não têm a menor ligação com o Carnaval", opinou outra usuária. "Elisa, apenas mais uma demonstração do racismo estrutural e institucional. Parece que só branco entende samba. Só eles", desabafou uma fã.
A apuração do Grupo Especial ocorreu na na Praça da Apoteose. Na ocasião, a Imperatriz Leopoldinense quebrou o jejum de 22 anos e tornou-se a grande campeã do Carnaval com o enredo "O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida", criado pelo carnavalesco Leandro Vieira, que renovou com a escola para mais um desfile.