Thalita Zampirolli desabafa na web Reprodução do Instagram

Rio - Thalita Zampirolli contou que foi pega de surpresa com a notícia de que não seria mais rainha de bateria da Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro no carnaval deste ano. Em uma sequência de vídeos publicados no Instagram Stories, ela explicou que o burburinho sobre sua saída começou durante a comemoração do título na quadra da escola. 
"Quando eu coloquei o pé dentro da quadra, vi que a minha bateria estava em cima do palco e eu me direcionei até eles para poder brincar, ter esse contato de felicidade, essa alegria que estava batendo dentro do meu coração. Em determinado momento, ali no palco, alguns integrantes da bateria vieram a mim meio que se despedindo de mim. Eu não estava entendendo. E não foi uma pessoa, foram várias pessoas vindo até mim se despedindo, falando por que eu iria embora", afirmou a atriz.
"Eu não sabia o que responder, não sabia falar o que estava acontecendo naquele exato momento. Não fui avisada, a minha assessoria não foi avisada, ninguém da minha equipe, que sempre teve presente comigo ali em todos os ensaios, foram avisados. Estava sem chão naquele momento, não sabia dizer, não sabia pra onde eu ia. Tinha tristeza, lágrima nos olhos, foi uma sensação muito triste. Foi muito triste isso que eu passei ali naquele momento, que era um momento de alegria, de descontração, de soltar o grito da garganta de felicidade: 'Somos campeões', 'somos vencedores'", lamentou.
Após o boato de que deixaria o cargo, Thalita perguntou à diretora da escola o que estava acontecendo. "A Lara disse que isso não passava de uma mentira, que ela não tinha falado nada para ninguém, que não sabia quem anunciou isso, que era para a gente voltar lá para a quadra, lá embaixo, e voltar a se divertir, curtir. Nesse momento, eu me senti mais aliviada com o que ela disse para mim. Desci, voltei a tentar brincar com as pessoas, a dançar com as pessoas. Chegando lá embaixo, tudo novamente começou".
A situação deixou a loira desconfortável. "Só queria sair correndo dali de dentro, sumir, porque estava horrível. Estava horrível o sentimento, aquela angústia dentro de mim e eu não queria que as pessoas vissem que eu estava chorando", frisou.
No desabafo, a atriz esclareceu que não se importaria de dividir o cargo. "Não sou dona da escola, não mando na escola e seria egoísmo e prepotente na minha parte eu achar que eu sambaria à frente a minha bateria eternamente. Até mesmo se a escola tivesse tido a ideia ou me proposto de vir uma mulher da comunidade, uma mulher preta, pra mim seria um privilégio poder dividir esse espaço com a mulher da comunidade, uma mulher preta, afinal somos mulheres da minoria. Eu, com a minha bandeira (de mulher trans), e ela com a bandeira da mulher preta, a mulher raiz, a mulher da ancestralidade. Isso seria uma honra, um privilégio". 
Thalita também disse que não estava chateada por não desfilar no grupo especial no ano que vem. "Se eu quisesse realmente estar no grupo especial, eu estaria, porque fui convidada para estar no grupo especial. Mas eu fui convidada pela Unidos de Padre Miguel para ser rainha da Unidos de Padre Miguel. E lá eu me entreguei de corpo e alma a escola, a comunidade. Fui muito bem recebida, tive muito amor e carinho de todos ali dentro, de toda a comunidade que me abraçou e me aceitou eu como rainha. Fiquei chateada de como foi conduzida toda a história". 
Por fim, ela ressaltou que não era errado querer reinar com a escola no grupo especial. "Que pecado seria eu querer estar junto com a minha escola no grupo especial? Afinal, sem exceção nenhuma, todas as escolas que estão no grupo de acesso têm o sonho de estar lá no grupo especial", destacou ela, que agradeceu o carinho que recebeu da comunidade de Vila Vintém. "Muito obrigada, pessoal, por todo o carinho que vocês me deram nesses dois anos. Esse sentimento e esse amor que a gente construiu, nada e nem ninguém vai apagar isso da gente... Espero que a Unidos de Padre Miguel continue nesse posto tão sonhado, que é o posto do desfile das especiais, que não fiquem como ioiô subindo e descendo, porque vocês são grandiosos".
Unidos de Padre Miguel deseja retomar origens
A saída de Thalita do posto foi anunciada nesta quinta-feira (15), após dois anos. A diretoria da escola afirmou que a decisão de nada tem relação com o fato dela morar fora do Brasil ou ser uma mulher trans, mas sim com uma estratégia de retomar às origens da agremiação, por meio de um concurso com moradoras da comunidade da Vila Vintém.
"A Unidos de Padre Miguel sempre foi uma escola que prezou pela sua comunidade, de dar oportunidade para meninas da comunidade. A rainha antecessora da Thalita era uma rainha da comunidade, ela reinou por 15 anos e aí a Thalita chegou até nós. Foi rainha em 2023 e 2024. Fez um belo trabalho, participou de tudo da melhor maneira possível, porque ela mora fora do país, mas a Unidos já tinha esse desejo de voltar a ter uma rainha da comunidade", a agremiação disse em nota para o O DIA.
"Independente do título ou não, essa ideia já vinha sendo amadurecida pela direção da escola. Então, independente se a escola fosse para o grupo especial ou não, já seria uma questão de voltar a ter uma rainha de comunidade, mas não há nada assim, nenhuma briga, nem nada disso. A Thalita é uma pessoa incrível, a comunidade gosta muito dela", garantiu. 
Zampirolli foi a primeira mulher trans a desfilar no Grupo Especial, na Marquês de Sapucaí. Antes dela, veio Eloína dos Leopardos, que ocupou o cargo em 1976, mas quando os desfiles não ocorriam no tradicional sambódromo.