Presidente Raphaela Nascimento e carnavalesco Leandro Valente posam com as alegorias campeãs no barracão da escolaCleber Mendes / Agência O Dia

Rio - A Tradição está de volta à Sapucaí! No ano em que completa 40 anos, a escola de Campinho, na Zona Norte, fundada a partir de uma dissidência da Portela, sagrou-se campeã da Série Prata e garantiu o retorno ao principal palco do Carnaval. Para celebrar a conquista, no entanto, a diretoria ainda procura um local onde possa reunir os componentes e festejar, já que a antiga quadra, na Estrada Intendente Magalhães, virou sede da Igreja Pentecostal Tempo de Milagres (IPTM). 
A última vez que a Tradição desfilou no Sambódromo foi há dez anos, quando se apresentou pelo então Grupo B, atual Série Ouro.
Com o enredo "Trono Negro", do carnavalesco Leandro Valente, a escola levantou o título de 2024 após uma apuração acirrada e decidida no último jurado. Os 269,9 pontos colocaram a agremiação em primeiro. A Botafogo Samba Clube também subiu para Série Ouro.
Em entrevista ao DIA, a presidente Raphaela Nascimento, bisneta do lendário Natal da Portela, diz que a vitória representa uma virada na história da Tradição. "São 40 anos de história e renascimento. Vamos consagrar tudo isso na Sapucaí em 2025", comemora.
Fundada no dia 1º de outubro em 1984 por um grupo de dissidentes da Portela, a Tradição desfilou pela primeira vez no Grupo Especial em 1992. Dois anos depois, em 1994, ficou em 6º lugar, alcançando a maior colocação de sua história. Entre 1998 e 2005, esteve consecutivamente na elite do Carnaval, até ser rebaixada. O momento de mais destaque, porém, foi em 2001, quando o enredo homenageou o apresentador Silvio Santos.
Anos depois, vieram problemas administrativos que culminaram no enfraquecimento da agremiação e a queda para a Intendente Magalhães.
Ainda emocionada com a conquista da Série Prata, Raphaela, que esteve no barracão com o carnavalesco, nesta quarta-feira (21), revela que fez uma promessa ao lado do irmão, Rhodrigo, em memória do pai, Nésio Nascimento, fundador da escola, morto em janeiro de 2022, aos 73 anos.
"O sentimento é de dever cumprido não só com a minha comunidade, mas também com meu pai. Antes dele falecer, eu e meu irmão prometemos a ele que levaríamos a Tradição de volta à Sapucaí. Esse ano nós honramos essa promessa. Infelizmente ele não conseguiu ver, mas sei que ele está muito orgulhoso por termos reerguido nossa escola", destaca.
Após o fim da apuração, a presidente gerou polêmica nas redes sociais ao afirmar, durante entrevista, que a igreja que funciona no local da antiga quadra, que também já foi casa de show, teria que "ralar de lá". Passada a euforia do momento, a dirigente explica a declaração.
"Foi uma brincadeira que fiz na hora da emoção, se foi mal interpretado, eu peço até desculpas. Nós vamos comemorar, sim, neste sábado com todo mundo junto e unido, mas em outro lugar a ser definido", ressalta Raphaela, que completa: "Em relação à quadra, ainda tem muita conversa pela frente para poder concretizar algo. Ela está alugada para uma igreja, e agora vamos ver o que a gente consegue fazer ao longo desse ano."
Depois da vitória e da comemoração, o foco será nos preparativos para o próximo ano, garante Raphaela. "Nossa missão agora é se estruturar, voltar com tudo para à Sapucaí e fazer um grande desfile, honrando a comunidade de Campinho e Madureira. Queremos primeiro permanecer no grupo, para aí sim irmos em busca de um acesso ao Grupo Especial", ressalta.
Procurada, a IPTM não teve nenhum de seus representantes localizados para comentar as declarações da presidente da Tradição. O espaço segue aberto para manifestação.
 
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Raphael Perucci