Carnavalesco João Vitor Araújo promete três versões do símbolo da escola, o beija-florRenan Areias
Essa devoção estará representada entre as seis alegorias e três tripés, com menções a Xangô, ao Sagrado Coração de Jesus e à Iemanjá, por exemplo. A imagem da Rainha do Mar vai relembrar um episódio em que Laíla, então diretor de harmonia do Salgueiro, levou a escultura de 3 metros à Praia de Copacabana em agradecimento ao campeonato de 1969. Essa é uma de tantas histórias míticas do gênio de temperamento forte que será contada pela agremiação de Nilópolis.
"Todo mundo o criticava. A Beija-Flor era tida como a escola da macumbaria. Hoje todo mundo faz igual. Todo mundo coloca seu bom despacho antes de entrar [na Sapucaí] e evoca Exu. Não tem como negar que o cara era pioneiro", destaca o carnavalesco.
Outro gesto marcante do mestre, a entrega de rosas brancas será lembrada no desfile. "Isso é lindo. Em uma reunião que eu tive aqui no barracão com a família, eles pediram que não deixasse de falar desse ritual. Era uma espécie de pedido de desculpa, depois de tantas broncas que dava nos componentes. No último ensaio, a Beija-Flor distribuía essas flores como um ato de carinho", explica.
Para abordar o lado musical do diretor de carnaval, João Vitor Araújo resolveu trazer à tona um lado pouco conhecido do homenageado. Com o dom do ouvido absoluto, Laíla era apaixonado por música clássica.
"O estúdio, a quadra da Beija-Flor e o barracão eram tudo para o Laíla", conta o carnavalesco. No desfile, um carro será retratado como um grande teatro, inspirado no Theatro Municipal e no Scala de Milão, onde a orquestra será composta por ritmistas. "Teremos ali uma bateria cenográfica caracterizada com músicos eruditos. Nossas bailarinas na escadaria terão peruca black e tchutchu de LP", revela.
Para essa alegoria, foram providenciados 18 lustres de cristal. "Estamos com um cuidado danado para não quebrar aqui dentro [do barracão]. A proposta é mostrar que aquele cara bronco, gordinho, de aparência um pouco rude é um cristal", explica João Vitor.
Coração pulsava folia
Em sete décadas de dedicação à cultura popular, a biografia do mestre abrange diversas co-irmãs. O enredo, portanto, vai fazer referência a Carnavais icônicos de Nilópolis, mas também de outras agremiações.
"O Laíla já foi da União da Ilha, da Unidos da Tijuca, da Vila Isabel e da Grande Rio. Com 8 anos de idade, fundou a escola mirim 'Independente da Ladeira' lá no Salgueiro. Isso está mencionado no nosso desfile", explica João Vitor Araújo. Os grêmios recreativos por onde o artista passou serão homenageados em alas.
Sem entregar a surpresa, o carnavalesco da Azul e Branco de Nilópolis conta que todas as alegorias terão algum efeito especial. João Vitor também faz mistério sobre como o principal símbolo da agremiação participará do desfile. "Temos beija-flores para todos os gostos, em três tipos diferentes. O último é muito inusitado", comenta.
"Todo ano me perguntava o que eu estava achando. Eu falava assim: "Ih, Laíla, tá um Carnaval bonito para competir", relembra. Questionado sobre o barracão de 2025, Sorriso se mostra otimista: "Está excelente. Graças a Deus, uma maravilha", comemora.
Responsável pela ala das crianças, a aderecista Valéria Rosa conta que conviveu com o homenageado. "O verso do samba fala: 'Sua presença ainda está aqui' e está mesmo. Não tem como não lembrar dele em cada detalhe. Aprendi muito sobre harmonia, adereço. Era uma pessoa que sabia fazer de tudo um pouquinho", conta Valéria.
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