Maria Mariá, Mayara Lima e Andressa Marinho estão preparadas para brilhar na SapucaíReprodução

Rio - Ocupar o posto de rainha de bateria de uma escola de samba é uma das maiores honras do Carnaval. À frente dos ritmistas, elas vivem um momento de grande destaque, com todos os olhos da Marquês de Sapucaí atentos aos seus passos. Mas, se engana quem pensa que a vida da realeza é apenas o glamour do desfile. Em entrevista ao DIA, Maria Mariá, de 22 anos, Mayara Lima, 28, e Andressa Marinho, 22, revelaram a rotina de preparo e dedicação que começa muito antes do dia mais importante do ano para elas.


Rainha da Swing da Leopoldina, Maria Mariá descreve o posto como "um sonho cheio de agitação, samba e realizações" e diz que viver cada momento com a comunidade e com a escola "é muito especial". 'Cria' do Complexo da Alemão, na Zona Norte, começou sua vida no samba ainda criança, como passista mirim da Imperatriz Leopoldinense, até alçar voos maiores. Ela conta que sua rotina para o desfile começou quando a agremiação também iniciou seus trabalhos, em meados do ano passado.
"A nossa rotina de vida está diretamente ligada a agremiação que pertencemos, o nosso calendário pessoal e profissional precisa caminhar junto em todos esses processos. Então, quando a nossa escola inicia os trabalhos, automaticamente nossa vida segue esse curso", diz Mariá. Faixa preta de Taekwondo e estudante de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio (UFRJ), ela revelou que nesse período, é necessário abdicar de algumas atividades.
"A preparação é feita durante muito tempo e, como seres humanos, precisamos fazer escolhas com o que direcionar o nosso tempo e energia por todo esse período. E sempre será nossa escola. Com isso, acontece de perder festa de família, reunião de amigos, aniversários. O: "não posso, tenho ensaio" faz parte", brinca a rainha.

Em sua estreia, em 2023, a Imperatriz conquistou o título do Carnaval. Maria atribui a uma boa preparação física, mental e uma alimentação balanceada, as condições ideais para cruzar a passarela do samba. "Academia, alimentação e uma boa gestão de tempo. Para além da estética, estar bem emocionalmente e fisicamente é fundamental. Sempre prezo pelo que traz mais energia e melhora meu desempenho, mas não faço nenhuma 'dieta maluca'. Além disso, é importante estar cuidando espiritualmente da nossa vida e isso não seria diferente no Carnaval", pontuou.

Já Mayara Lima diz que as rotinas de dia a dia e para o Carnaval são uma só, porque esse período é parte fundamental da sua vida. "Não há nada que eu deixe de fazer, porque a minha vida é o Carnaval. Tudo que eu faço é voltado para esse momento", contou ela. "A única diferença do pré-Carnaval para as outras épocas do ano, é que eu intensifico os ensaios e exercícios físicos e tenho uma alimentação mais balanceada, para que eu consiga ter resistência e passar na Avenida da melhor forma possível".
A rainha do Paraíso do Tuiuti chegou ao posto em 2023, depois que um vídeo sambando em plena sincronia com os ritmistas da Super Som viralizou nas redes sociais, no ano anterior. Mas, o samba no pé vem de muito antes, quando ainda criança iniciou sua trajetória na Aprendizes do Salgueiro, escola mirim do Salgueiro, seguindo para a agremiação de São Cristóvão na adolescência e se tornando destaque de chão, musa e princesa.
Mãe, professora de samba em aulas presenciais, online e até de famosas, Mayara diz que conquistar o posto de rainha foi como realizar um sonho de infância. "Estar à frente da Super Som é a realização de um sonho de criança, de estar aqui e viver esse momento ao lado do mestre Marcão, ao lado do Marquinho e de todos os meus ritmistas que se dedicam diariamente por amor ao Carnaval. Eu fico muito feliz de fazer parte disso e poder representar o Paraíso Tuiuti". 
Lima revela ainda que parte importante de sua preparação para encarar a passarela do samba passa também por um momento de devoção. "Sou muito devota de Nossa Senhora Aparecida e, não só no Carnaval, mas toda semana, acendo velas para ela e para meu anjo da guarda. Nos dias de ensaio e de desfile, que são momentos que preciso ainda mais de proteção, também acendo minha velinha, pedindo que Nossa Senhora me ilumine, me guarde e me proteja – no Carnaval e na vida inteira". 
Para uma estreante no posto, a preparação tem sido bastante intensa. Andressa Marinho vai desfilar pela primeira vez como rainha de bateria da Unidos de Padre Miguel, que retorna ao Grupo Especial após 52 anos. Entretanto, sua história com o Boi Vermelho começou muito antes, já que fez parte da ala das passista mirins e depois se tornou musa da agremiação. Para fazer bonito na Sapucaí, ela vem se dedicando a aprimorar o samba no pé, além de ter aumentado os treinos e ensaios. 
"A rotina começou assim que encerrou o último Carnaval, com cuidados com o corpo e mente. Precisei abrir mão de alguns hábitos para focar no que eu trabalhei a vida inteira para conquistar, então, hoje não bebo socialmente, evito perder noites de sono", contou a jovem, que revelou não abrir de um bom açaí em sua dieta. "Eu tenho um metabolismo muito acelerado devido a muito esforço durante os ensaios, então só adicionei suplementos para manter a estrutura. Mas, não consigo ficar sem comer besteira, adoro açaí e sempre que tenho vontade como".
Moradora da Vila Vintém, na Zona Oeste, desde que nasceu, Marinho relata que tem equilibrado a rotina como professora, coreógrafa, mãe e futura estudante de Educação Física com os preparativos para sua estreia como rainha da Guerreiros da Unidos. A parte espiritual também não foi deixada de lado e Andressa diz que tem buscado equilíbrio e força para a nova fase.
"Tem sido mágico e especial, cada momento é único e sempre uma novidade para mim, mesmo estando há muitos anos no Carnaval, chegar ao posto de rainha de bateria da minha escola é um sonho que está sendo incrível viver (...) Preciso estar em sintonia com o universo e pedir a proteção do sagrado. Fiz minha iniciação em Ifá e cuido do meu espiritual e mental", declarou a rainha da UPM.
Frio na barriga e expectativa nas alturas
Mesmo experientes em desfilar pela Avenida e acostumadas com os milhares de olhares voltados para elas, as rainhas contam que o frio na barriga e o nervosismo retornam todos os anos nos minutos antes de pisarem na Sapucaí. Maria e Mayara destacam que o sentimento está incluído no pacote de representar uma escola e brincam que quando deixarem de ter essas sensações, o Carnaval não terá mais sentido. 
"Sempre (fico nervosa)! Se esse frio na barriga, ansiedade para que tudo aconteça da melhor maneira possível, e o nervosismo passarem, é porque a magia foi embora. Não tem jeito!", brinca Maria Mariá, que volta pelo terceiro ano como rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense, para desfilar o enredo "Ómi Tútú ao Olúfon - Água Fresca para o senhor de Ifón". 
"É sempre um frio na barriga, um nervosismo. O dia que eu não sentir mais, já não vai mais fazer sentido. Cada ano é um ano, cada experiência é uma experiência. Estou pronta para viver mais um desfile da escola que sou incrivelmente apaixonada. O Tuiuti vem com tudo para fazer história, não só na nossa escola, mas no Carnaval como um todo. Vamos dar ainda mais visibilidade à luta, à voz e à história das mulheres trans e travestis", completou Mayara, que também vai para seu terceiro ano como rainha, desfilando o enredo "Quem tem medo de Xica Manicongo?".
Já Andressa não escondeu a ansiedade em atender as expectativas do público e orgulhar a escola e a comunidade que a escolheram para o posto. "A expectativa está sendo de muita ansiedade, pois é um sonho sendo realizado e realizar na minha escola de coração está sendo ainda mais especial. Espero corresponder a expectativa de todos que me acompanham e surpreender na Avenida". Marinho cruza a Sapucaí desfilando o enredo "Egbé Iyá Nassô". 
Confira a ordem dos desfiles e os enredos das escolas
Na primeira noite de desfiles do Grupo Especial, no domingo (2), vão passar pela Sapucaí a Unidos de Padre Miguel, com o enredo "Egbé Iyá Nassô"; a Imperatriz Leopoldinense, com "Ómi Tútú ao Olúfon"; a Unidos do Viradouro, com "Malunguinho – O Mensageiro dos Três Mundos"; e a Estação Primeira de Mangueira, com "Mangueira À Flor da Terra - No Rio da Negritude entre Dores e Paixões". 
Na segunda noite, na segunda-feira (3), a Unidos da Tijuca dá início às apresentações com "Logun-Edé: Santo Menino que o Velho Respeita"; depois a Beija-Flor de Nilópolis virá com o enredo "Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas"; seguida pelo Acadêmicos do Salgueiro com "Salgueiro de Corpo Fechado"; e a Unidos de Vila Isabel, com "Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece".
Fechando os desfiles do Grupo Especial, na terça-feira (4), a Mocidade Independente de Padre Miguel levará o enrendo "Voltando para o futuro, não há limites para sonhar"; em seguida o Paraíso do Tuiuti com "Quem tem medo de Xica Manicongo?"; a Acadêmicos do Grande Rio com "Pororocas Parawaras: As Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós"; e encerrando, a Portela com "Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol - Uma homenagem a Milton Nascimento". 
As escolas e os torcedores vão conhecer a vencedora do título de 2025 na Quarta-Feira de Cinzas (5). A apuração das notas acontece durante a tarde, na Cidade do Samba, na Gamboa, Zona Portuária do Rio. A vencedora e as outras cinco melhores colocadas retornam à Marquês de Sapucaí no sábado (8) para o Desfile das Campeãs. Já a agremiação quer ficar na última colocação será rebaixada para a Série Ouro.