Cantor Theus e família de Kathlen RomeuReprodução

Por O Dia
Rio - "Dias ruins Complexo do Lins. Mais uma preta morre com bebê nas suas entranhas, bala perdida estranha", é assim que o cantor e compositor Theus Costa anuncia sua homenagem a Kathlen Romeu e todas as outras vítimas da violência no Rio de Janeiro, logo nas primeiras linhas de sua nova música, 'Operação Quilombo'.
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Grande defensor da bandeira da igualdade racial, o artista lamentou a morte precoce e trágica da designer de interiores Kathlen Romeu, de 24 anos, em um tiroteio no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio na terça-feira, 8. A indignação virou protesto, que estreia nas plataformas digitais em formato de canção, a partir desta quinta-feira, 17.

Kathlen, que estava grávida de quatro meses quando foi atingida por um tiro de fuzil no tórax, era amiga de faculdade da irmã do cantor que também tem parentes morando na comunidade onde tudo aconteceu. O local, aliás também serviu de cenário para o clipe da canção, composta pelo próprio cantor, que destinará metade dos direitos da música à família da moça.
"Eu não quero dinheiro, mas aceitei porque iremos destinar esse valor para serviços sociais voltados doar a comunidade. Se minha filha estivesse viva, ela também gostaria que fosse dessa forma", explica Jaqueline de Oliveira Lopes, mãe da vítima, que recebeu a homenagem de Theus com muita emoção.

Uma das partes mais tocantes da música é quando o cantor faz referências ao dia a dia dos moradores de comunidade, que segundo ele vivem reféns do medo e desacreditados. "Andam falando por aí que nós se vitimiza. Não nasci em berço de ouro eu soo a camisa. De esquina em esquina é uma adrenalina, matança e chacina. Mas não chega vacina", protesta o cantor. "Essa música me toca muito, porque eu consigo sentir a dor dessa família. Já perdi familiares vítimas de bala perdida também. Sou preto e fui criado em periferia, convivo com o preconceito e a violência desde sempre. Já calei muito a minha voz, e hoje vejo que precisamos falar, gritar se for preciso", pontua Theus.

E continua: "Temos que parar de ver casos como o da Kathlen Romeu, ou do George Floyd, ou do menino João Pedro, entre tanto outros que acontecem diariamente, como um caso. É mais um caso no meio de muitos que acontecem todos os dias com nós pessoas pretas, que não são vistos pela sociedade. Nós temos feridas que carregamos por muitos anos sozinhos, precisamos cada vez mais levantar nossa voz. São feridas na nossa história e na nossa cultura que ainda precisam de um certo tempo para serem entendidas, e transformadas. Temos que lutar agora, para que isso seja uma realidade num futuro em que os meus filhos vão viver. Eu ficaria muito feliz em ver eles vivendo um mundo tendo o privilégio de saber que nenhuma dificuldade que vão passar na vida, tenham a ver com a cor da sua pele", conclui.