Vocalista do Sorriso Maroto, Bruno Cardoso vibra com o novo trabalho do grupoArthur Rodrigues / Divulgação

Rio - Um resgate às raízes. Este é o pilar do novo álbum do Sorriso Maroto, intitulado 'Como Antigamente', com 13 faixas inéditas, compostas durante a trajetória de quase 25 anos do grupo. Em entrevista ao Dia, Bruno Cardoso, vocalista da banda, vibra como novo trabalho, fala sobre a nostalgia de revisitar as canções, que em sua maioria são autorais, brinca ao falar sobre a escolha do repertório e não esconde o quanto está apaixonado pela filha, Maria Eduarda, de apenas cinco meses, fruto de seu casamento com Isabella Bruno.
O cantor sorri de orelha a orelha ao relembrar a trajetória de sucesso do grupo. "A música do Sorriso Maroto é cíclica. Esse é o grande barato, a gente conseguir girar, olhar pra trás, se recriar, reconectar. Tudo isso é fascinante, o tempo vai passando e você vai virando a chave pra outra coisa. Isso faz a gente não querer parar e criar essa atmosfera de novidade, ter satisfação de sair de casa, trabalhar e fazer com gosto. Cada projeto que a gente elabora tem que ter um gostinho de prazer, de estarmos felizes. Esse projeto traz tudo isso pra gente. Mexe com um lado emocional nosso, de uma forma nostálgica. A gente conseguiu olhar pra trás com muito orgulho do que construímos ao longo desses quase 25 anos", afirma Bruno. 
A escolha do repertório foi feita a dedo. O vocalista dá boas gargalhadas ao contar o motivo do trabalho ter apenas 13 faixas ao invés de 25, em referência aos anos de carreira. "A gente discutiu muito sobre isso. É interessante esse olhar sobre o repertório do Sorriso. A gente mexeu em um baú sagrado do grupo. São músicas que a gente construiu ao longo da carreira. Elas são inéditas, mas foram compostas há 10, 15 anos. Por falta de espaço, elas não puderam estar em trabalhos anteriores, era matemático. Hoje, a gente olhou pro nosso repertório e viu um acervo enorme de coisas que a gente gosta, acredita, que condiz com nosso propósito de fazer música. Esse é o Sorriso Maroto raiz. Essa coisa do 'como antigamente' nada mais é do que a gente criar um novo movimento, com um ar de novidade, mas com todo sabor nostálgico. A gente conseguiu encontrar o equilíbrio certo do desejo do público e do nosso", acredita o músico. 
Revisitar as músicas foi emocionante para Bruno, já que a maior parte delas são composições suas. Ele ainda reflete sobre as mudanças musicais que ocorreram ao longo da trajetória da banda, que começou com uma linha romântica, mas já embalou e conquistou um novo público ao som de "Assim você Mata o Papai", com uma pegada mais dançante e se tornou até da trilha sonora da novela "Avenida Brasil" (2012), da TV Globo. "A gente entra em um conflito ao longo da nossa timeline de banda que é interessante. Aí vem essa mudança interessante, que a gente tem na nossa construção de ser humano. O Bruno do início da carreira é um, o Bruno do 'Assim você mata o papai' é outro e o Bruno do 'Antigamente' é outro, porém continuo sendo eu. Sou Bruno Baptista Cardoso dos Santos, cantor do Sorriso Maroto. O grupo de hoje acumulou experiências. O momento do Sorriso e do meu, em particular, trouxe a gente pra esse lugar de conseguir falar de tudo que a gente já falou sem nenhum pudor. Falar de um primeiro amor, de uma traição, separação e também falar sobre gravidez, acabei de ter uma filha. A banda tem um papel de ser contadora de histórias. A gente fica feliz e realizado de ver que a música do grupo chegou até a casa de alguém e fez uma transformação. A música do Sorriso Maroto tem o papel de transformar vidas pra melhor". 
Bruno exalta o amor em suas músicas. Ao ser questionado se é movido por esse sentimento, o músico filosofa. "Sou o amor. Nós somos amor. Todos nós temos uma chavezinha, que a gente vira e deixa o amor entrar de forma especial. Tenho uma capacidade um pouquinho maior. Além de receber, consigo transmitir cantando ou escrevendo. Faço muito bom uso desse dom. Gosto de falar de amor, me vejo no papel de intérprete de músicas românticas, é o que me motiva, move, arrepia. Fazer música, subir no palco, cantar, ver as pessoas entregues, naquela sinergia, me dá energia", ressalta. 
O álbum 'Como Antigamente' foi gravado em julho no Rio, com uma pegada mais minimalista e sem público. O vocalista explica a decisão. "É mais fácil gravar sem a presença de pessoas no sentido de você trabalhar em um ambiente mais controlado. Quando você trabalha com o público você não controla. É uma faca de gumes. Com as pessoas tem a emoção diferente, é mais quente, emotivo na troca, o olhar muda, a temperatura é outra. Mas ele traz coisas que você não calcula, que nem sempre é bom o suficiente, que são as emoções do dia. Já teve show que cantei e embarguei minha voz. Fiquei emocionado demais. Não gosto tanto do resultado de voz, por exemplo, daquela música porque estava mais emocionado do que precisava. No estúdio, essa emoção é mais contida. Então, você tem um resultado mais perfeito nesse sentido. Isso me seduz um pouco mais, porque gosto de fazer uma entrega bem amarrada. Eu amo a emoção, mas quando ela perde o controle eu fico pensando 'não gostei tanto'", confessa. 
Na sequência, Bruno assume que é autocrítico. "Sou. Costumo dizer que sou um produto da minha própria crítica. O Sorriso acompanha essa métrica, se a gente sente que não foi bom e que não supriu nossas expectativas, ninguém vai perceber, mas a gente sabe e se cobra. A gente é uma banda que tem uma autocrítica, eu, particularmente, como cantor tenho. Procuro sempre estar em constante evolução, não me permito acomodar. Se sinto que estou ficando descansado, é hora de mexer. Procuro estar sempre ativo nesse sentido, em todos os campos". 
Ao longo dos 25 anos, o convívio entre os integrantes do grupo, Bruno, Sergio, Cris, Vini e Fred, só melhorou. "Esse disco traz à tona essa coisa do tempo e convívio. A gente tem mais tempo vivendo entre nós  do que com nossas famílias. O Sorriso Maroto é mais duradouro que muito relacionamento", afirma ele, que revela como é feita a divisão de trabalho para que todos consigam também ter uma vida pessoal 'saudável'. "Hoje temos um fator complicador que é meu tempo de descanso, por conta de saúde. Depois que tive o problema no coração, tive que ter um tempo de descanso regular de 7h, 8h por dia. A outra coisa é benefício, resultado versus qualidade de vida. Preciso fazer 30 show por mês, por exemplo? Não. Isso vai mudar na nossa vida? Não, não vai mudar. A gente apenas vai ter mais trabalho e consequentemente uma receita financeira melhor devido a quantidade de entrega. Mas felicidade não está baseada nisso hoje em dia. Ela está na qualidade da entrega da banda, da minha saúde, Bruno, e na minha família. Preciso ter uma harmonia dentro de casa. Com 30 shows ao mês você não para em casa. Isso é uma conta pra todos nós. Hoje conseguimos equalizar de forma saudável todos esses pontos". 
E a volta pra casa após o período de trabalho se tornou mais especial. É que ao chegar, Bruno pode babar bastante a filha Maria Eduarda, de apenas cinco meses. "A paternidade vem me mudando. Estou numa fase de transformação diária. Me vi sem função como pai, no primeiro momento, porque quem dá de mama é a mãe, se ela chora, quer a mãe, muita coisa está focada na mãe e o pai fica aqui assim: 'e aí?'. Então, estou descobrindo meu papel dentro dessa nova realidade, meu lugar. A cada dia é uma transformação e vou ficando mais apaixonado. Ela está na fase de começar a interagir mesmo", comenta ele, com um brilho especial nos olhos.
O cantor ainda opina sobre os memes que surgiram após o nascimento da bebê, já que sua vida pessoal não é tão exposta. Poucos sabiam que a esposa estava grávida, por exemplo, já que é mais reservado. "A minha vida é tão careta, que ela fica desinteressante. A minha filha, que foi um grande acontecimento, foi um momento que me senti confortável de compartilhar com as pessoas. Mas é um pedacinho da minha vida e tá bom. A minha vida é a minha vida, meu espaço, o que é o do mundo é minha música", frisa.