Makayla Sabino, dançarina de IZA, critica vídeo de Reynaldo Gianecchini dançando VogueReprodução / Instagram

Rio - A dançarina Makayla Sabino, que faz parte do ballet da cantora IZA, rasgou o verbo e detonou o vídeo em que Reynaldo Gianecchini aparece ensaiando Vogue para o musical "Priscilla, a Rainha do Deserto". Nesta quinta-feira (6) a bailarina usou os Stories, do Instagram, para tecer duras criticas à professora de dança e aproveitou para questionar o motivo de não terem escolhido alguém que faça parte da cultura LGBT para as aulas.
"Me entristece muito ver pessoas comentando e incentivando algo que está errado. Não está errado ele [Gianecchini] querer aprender, não está errado ele estudar, mas está errada a forma com que aconteceu. A pessoa que 'deu aula' para ele ou que 'montou' aquelas sequência ou algo do tipo, não sabe absolutamente nada da cultura ballroom, não sabe que a Madonna foi uma pessoa que se apropriou da cultura, ela não somou com a cultura, ela se apropriou da cultura. É é muito ruim ver isso sendo compartilhado de forma positiva", iniciou ela.
"Me expliquem como uma pessoa branca elitizada, que nunca apareceu numa ball [locais onde o Vogue é dançado], que não conhece nada sobre o Vogue, porque está nítido ali em todas as movimentações que ele fez, como que uma pessoa dá uma aula de uma cultura que foi criada por e para pessoas trans e pretas e latinos? Porque é que as pessoas acham que elas conseguem ensinar Vogue se elas não sabem o que é que estão fazendo? Elas não conhecem a cultura, não conhecem a história, a movimentação. É muito complicado", seguiu.
"As pessoas estão se apropriando do que é nosso e não estão pagando a gente por isso. Isso é muito sério. A ballroom, Vogue é sobre a nossa vida, nossa história, nossa vivência, sobre o nosso dinheiro. E aí chegou uma pessoa branca para fazer uma coisa dessa, que é absurda. Eu não estou falando do Reynaldo em em específico. Eu falo muito mais sobre a profissional que dá uma aula daquela, que não sabe o que está fazendo", criticou.
Nesta sexta-feira (7), Makayla, que é uma mulher transgênero, continuou o assunto e revelou ter recebido muitas críticas e comentários transfóbicos por seu posicionamento. Nos Stories, ela reforçou que seus questionamentos não foram direcionados a Reynaldo Gianechini e sim à professora, que, segundo ela, não estaria habilitada para dar este tipo de aula.
"A minha crítica não é ao artista. Eu não estou criticando o artista, ele está fazendo o trabalho dele. Realmente, ele é um ator incrível, nunca falei o contrário disto. A questão que eu estou dizendo é sobre como as coisas são feitas. A crítica é para a professora, que deu aula de algo que ela não sabe, porque está nítido que aquilo ali não é Vogue", iniciou ela.
"Alguém acharia certo eu dar aula de balé clássico, ou de jazz, ou de contemporâneo se eu não sou formada em nenhum desses três estilos? É correto? Eu não vivo dentro de sala de balé clássico, contemporâneo ou de jazz, essa não é a minha vertente. Se eu for contratada para fazer uma aula de clássico, eu tenho que aceitar? Claro que não, se eu aceitar eu estou errada, porque esta não é a minha vivência", comparou a dançarina.
"É sempre alguém fazendo por a gente. Sempre há alguém fazendo por nós o que nós podemos fazer. Por que vocês não dão oportunidade de a gente fazer o que sabemos fazer? O que a gente criou? Se ele [Gianecchini] está fazendo um papel onde vai representar o Vogue, ele não tem que representar a Madonna, tem que representar a cultura ballroom. E aí ele vai aprender isso com uma pessoa que não está dentro da comunidade, que não faz Vogue, que não sabe o que ela está fazendo?", questionou.
"A questão não é ele. A questão é o que ela passou para ele, que foi errado. A movimentação está errada, não está dentro da musicalidade, a música da Madonna não representa a cultura ballroom. Vocês entendem que poderiam ter pegado uma travesti da cena ballroom, que dança Vogue, que performa e representa a comunidade, e colocado ela para dar uma horinha de aula para ele aprender realmente o que é o Vogue? Ter uma base do que realmente é a cultura", disse.
Nas redes sociais, internautas ficaram divididos com o posicionamento de Makayla. No X, antigo Twitter, alguns perfis opinaram sobre a polêmica. "Ser bailarino nesse país é uma merd*, não falta gente fod* na cena ballroom no Brasil e só quem é artista sabe o quão frustrante é você perder oportunidades, para pessoas totalmente despreparadas. Ele pode aprender e fazer aula, mas um musical fazer esse descaso é muito fod*!", concordou uma pessoa. "Tem gente que pensa pequeno demais. Imagine o tanto de trabalho vai surgir para a galera da cena se essa peça explodir. Uma das pizzarias mais requisitadas da Itália que tem fila todo dia é uma em que Julia Roberts gravou uma ceninha em um filme. Tá falando besteira", discordou outra.
Entenda a origem da polêmica
Nesta quinta-feira (6), viralizou nas redes sociais um vídeo em que Reynaldo Gianecchini aparece ensaiando para o musical "Priscilla, a Rainha do Deserto". Nas imagens, o ator, que interpreta a drag queen Mitzi na peça, faz alguns passos da dança conhecida como Vogue ao som da música "Vogue", de Madonna, enquanto usa salto alto. 
Na publicação, ele ainda flou sobre os desafios do papel. "É Vogue que vcs querem? Tbt das minhas primeiras aulas e coreografia com a mestra Mari Barros, que é a coreógrafa de 'Priscilla, A Rainha do Deserto'. Fazer uma drag tem sido um desafio gigante e que bom poder contar com tantos profissionais incríveis! Venham ver, está muito lindo tudo", escreveu na legenda da publicação.
O musical "Priscilla, a Rainha do Deserto", estreia nesta quinta-feira (7), no Teatro Bradesco, em São Paulo, e fica em cartaz até o dia 1º de setembro. A peça ainda conta com Diego Martins, Verónica Valenttino e Wallie Ruy no elenco.