Othon Bastos no palco do monólogo ’Não me entrego, não’Renan Areias / Agência O Dia
Escrita e dirigida por Flávio Marinho, a peça, que estreia nesta sexta-feira (14), no Teatro Vannucci, na Gávea, Zona Sul do Rio, resgata os principais momentos da trajetória de Othon. A ideia surgiu do próprio artista, após assistir à montagem de "Judy: o Arco-íris É Aqui", na qual Luciana Braga interpreta a lendária atriz e cantora Judy Garland (1922 - 1969).
"Eu vi a Luciana, linda, falando dela e da atriz (Judy), ao mesmo tempo. Então, percebi que esse 'duo' pode ser uma coisa bem feita e bonita. Aí eu falei com o Flávio, ele ficou olhando para mim... E resolveu fazer", lembra o ator, que, em meio a tantas memórias, traz para esta obra algo inédito em sua carreira.
"É o primeiro monólogo que eu faço na minha vida. Eu acho uma loucura, porque a coisa mais difícil que tem é você falar de você mesmo. Para mim, o teatro sempre foi o contracenar. E eu acho que é lindo isso, essa união de almas e atores. E também não consigo falar de mim, a verdade é essa. Talvez o Flávio tenha conseguido", reflete.
Com o acordo feito, o ator entregou um "calhamaço de histórias" para Flávio, que ficou com a missão de condensá-las em alguns minutos de espetáculo. "À primeira vista, o que temos é o próprio Othon Bastos quem estará em cena contando histórias divertidas e dramáticas da sua vida pessoal e profissional. Isto seria, digamos, o esqueleto dramático da peça. Só que este esqueleto é recheado de diversas reflexões", adianta Marinho, que já foi crítico de teatro e escreveu diversas peças, livros, roteiros para TV e até novela.
Uma das grandes preocupações de Othon ao estrear em um espetáculo solo é não torná-lo "ególatra". "Existe uma coisa chamada simplicidade. Quanto mais simples você for, mais forte você será. Entende? A simplicidade é uma coisa incrível. Porque as pessoas duvidam que você não seja aquilo. Que você sempre é alguma coisa a mais. E você vai provar que você é tão simples como qualquer outra pessoa", explica.
Longe de biografias
Flávio confessa que, no final, a peça ficou mais rica do que ele mesmo imaginava. "É um pouco a biografia dele, mas é uma peça sobre a vida em geral, sobre todos esses assuntos que todo mundo tem, que é o trabalho, o amor, a relação com a fé, política, tudo que faz parte da vida de todo mundo", expõe o escritor.
Questionado se a peça se encaixaria em uma biografia, o ator responde de imediato: "Eu jamais permitiria ou permitirei que alguém faça uma biografia a meu respeito. Eu não tenho nada a dizer para os outros. Eu não quero falar de minha mãe, de meu pai, de meu avô, do meu bisavô... Não me interessa nada disso. Isso é meu, quer dizer, é uma coisa comigo que eu tenho que um dia jogar fora, né? Mas não no palco para as pessoas. A quem interessa saber que o meu avô foi isso ou que meu pai foi aquilo? Se quiser saber alguma coisa a meu respeito vai no Google. Eles sabem muito mais do que eu".
A única pessoa da sua vida pessoal que Othon leva para o texto da peça é sua mulher, a atriz Martha Overbeck, descrita pelo marido como sua companheira de batalha e que é vista como importância pelo autor na narrativa. "Depois que ele encontra o amor da vida, com quem está casado há 57 anos, o texto passa a refletir o sentimento do amor através de diversas referências e citações”, destaca Flávio, a quem o ator deu a tarefa de incluí-la no roteiro.
Memória no palco
O autor descreve o formato da peça como um "monólogo híbrido", já que o ator contará com uma "memória" em cena. A atriz Juliana Medella acompanha o artista como um apoio para trazer observações às suas falas para que ele não precise sair do personagem. "É uma personagem simbólica, pois não tem um perfil psicológico. Eles discutem, discordam. Enfim, é igual a própria memória. Isso deu um colorido e um charme à peça", esclarece Marinho.
O intérprete, por sua vez, comenta sobre o papel de Julinha no espetáculo com um pouco mais de humor. "Achei que seria interessante ter uma espécie de Alexa em cena”, diverte-se, fazendo alusão à assistente virtual desenvolvida pela Amazon.
'Deus e o Diabo na Terra do Sol'
Othon tem um extenso currículo na TV, onde deixou alguns personagens eternizados, como o protagonista Júlio Abílio de Lemos na segunda versão da novela "Éramos Seis" (1994), no SBT, e o mordomo Silviano, de "Império" (2014). No entanto, o espetáculo evidencia mais o teatro, através de peças como "Um Grito Parado no Ar" (1973), de Gianfrancescco Guarnieri, e de trabalhos no cinema, dedicando grande parte do roteiro a um dos principais momentos da carreira do veterano: "Deus e o Diabo na Terra do Sol".
Patrocínio
Os desafios da peça não ficaram restritos em transformar história em espetáculo. Flávio acrescenta que tentou patrocínio, mas acabou "bancando do próprio bolso" para tirar o projeto do papel. "A gente fez várias tentativas de conseguir um patrocínio, e não houve jeito. O Othon é um ícone da nossa cultura, é o maior ator brasileiro vivo. Não encontramos nem através de edital, nem através de empresas privadas, não houve jeito".
O ator adiciona outros importantes contribuintes para que ele chegasse a esse palco. "Meu patrocinador é o público. E eu espero que vocês preencham esse teatro", encerra Othon, com um recado para a plateia.
Serviço:
"Não Me Entrego, Não!"
Temporada: 14 de junho a 28 de julho (No dia 5/07 não haverá espetáculo)
Horário: 6ª feira, às 20h; Sábado, às 20h30; Domingo, às 20h
Ingressos: Sexta-feira e domingo: R$ 50 (meia / R$ 100 (inteira); sábado: R$ 60 (meia / R$ 120 (inteira)
Local: Teatro Vannucci
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 52, 3º andar, Shopping da Gávea
Tel.: (21) 2274-7246
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 90 minutos
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