Rio - Ao completar 80 anos, o diretor mineiro Eid Ribeiro retorna a um dos mais conhecidos textos de Samuel Beckett, "Fim de Partida", com uma nova encenação no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Centro, entre esta quarta-feira (5) e o próximo dia 30. A peça será exibida no Teatro III, com apresentações de quarta a sábado, às 19h, e domingo, às 17h30.
Um dos mais respeitados artistas do teatro brasileiro, Eid traz à cena dois palhaços da Trupe Garnizé, interpretados por Victor e Francisco Dornellas. A peça, inclusive, já foi levada aos palcos pelo diretor mineiro na década de 1980. No entanto, desta vez, Francisco faz um personagem de 79 anos que contorna suas dificuldades motoras e cognitivas, ocasionadas por dois AVCs recentes. Para superar os desafios, ele conta com recursos tecnológicos e o auxílio do filho.
fotogaleria
A primeira vez que Eid montou essa peça foi em 1988, mergulhando no mundo sombrio e angustiante de Beckett. A diferença, agora, é que ele quis partir para a diversão pelo olhar do palhaço, resolvendo "rir do fim do mundo".
O diretor explicou sobre a adaptação. "Queremos mostrar que Samuel Beckett é um escritor e poeta visionário. À medida que o tempo passa, sua criação se torna cada vez mais atual diante do mundo em que vivemos. Esperamos, assim, que o nosso Fim de Partida seja uma ode de amor ao teatro, como também demonstrar a possibilidade de enaltecer a vida através da arte", disse.
Escrito num contexto pós-catástrofes, após duas guerras mundiais, Beckett desloca o olhar deste plano de destruição e envenenamento social e escreve, entre 1954 e 1956, essa peça sobre as relações tóxicas no espaço fechado de um bunker.
"Enquanto o mundo caminha para a extinção, no premonitório planeta Beckettiano, onde os seres humanos não conseguem se comunicar mesmo falando pelos cotovelos, o humor e o riso fazem parte dessa nossa tragédia. E nada melhor que ter ao lado a companhia de dois palhaços", finaliza o diretor.
Eid Ribeiro
Eid José Ribeiro Aguiar é um dos artistas mais relevantes da cena artística mineira e nacional. Nascido em Caxambu, em 1943, o dramaturgo, roteirista e diretor teatral já dirigiu e escreveu para coletivos como Grupo Galpão, Grupo Teatro Delle Radici (Suíça), Grupo Trama, Cia Acômica e Grupo Armatrux. Foi ainda fundador do Grupo Geração, coletivo teatral que atuou na resistência à ditadura militar no Brasil, repórter e colunista de diversos jornais mineiros.
Um dos artistas veteranos mais atuantes do cenário mineiro, Eid marca sua obra com um estilo inconfundível, que traz referências que vão do teatro moderno norte-americano e europeu aos circos mambembes do Brasil, do experimental ao popular, do grotesco ao sublime, do existencial ao político.
Como dramaturgo, seus primeiros textos foram escritos durante sua internação no Sanatório dos Bancários, por decorrência de uma tuberculose, onde fez teatro com outros internos. Ingressando posteriormente no Teatro Universitário, em 1965, passou a fazer parte de uma geração importante de autores que inclui nomes como Alcione Araújo e José Antônio de Souza. Desde então, seus textos já foram encenados por diversos grupos e diretores espalhados pelo país, vencedores de vários concursos e prêmios.
Serviço
- CCBB: Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro - Valor do ingresso: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) - Estudantes, maiores de 65 anos e clientes Ourocard pagam meia entrada. - Ingressos adquiridos na bilheteria do CCBB ou antecipadamente pelo site - Duração: 135 minutos, com 10 minutos de intervalo - Classificação: 16 anos
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.