Erika JanuzaRamon Rodrigues / Divulgação
Erika Januza mostra realidade das rainhas de bateria do Rio em programa no GNT: 'Significativo'
Apresentadora, que reina na Viradouro, mergulha nas histórias das majestades do Grupo Especial e fala sobre o posto: 'Tudo tem seu tempo'
Rio - Atriz consagrada e rainha de bateria da Unidos do Viradouro há quatro anos, Erika Januza assume um novo desafio como apresentadora do programa "Rainhas Além da Avenida", que estreia nesta sexta-feira (14), no GNT, às 21h. Na atração, a artista promove conversas com as majestades das escolas de samba do Grupo Especial do Rio sobre desafios, vitórias e a intensa preparação para carnaval. Ela ainda acompanha as rotinas pessoais e profissionais de cada uma delas, incluindo Paolla Oliveira, Sabrina Sato, Viviane Araujo, Maria Mariá, Evelyn Bastos, Lorena Raíssa, Mayara Lima e Andressa Marinho.
"Não queria ser protagonista disso. Queria ser uma observadora, olhando de fora e também como uma pessoa de casa que as observa. São mulheres que quando a bateria para e a luz apaga, vão para casa, têm problemas, sofrem com comentários maldosos. Queria aproximar o público dessas mulheres tão enaltecidas no Carnaval", pontua Erika.
Criadora do programa ao lado de Vitor Carper, a atriz comemora a aceitação das personalidades em se mostrar de "cara limpa" e maneira real na atração. "Conseguir que as rainhas do programa se desmontassem, mostrassem seus rostos sem maquiagem e tivessem coragem de se apresentar dessa forma foi muito significativo. Não estamos fazendo uma disputa, estamos falando sobre a vida. Ver cada rainha chegando de cara lavada foi uma alegria, porque essa é a mulher real que eu queria mostrar. Acho que conseguimos quebrar algumas amarras importantes", frisa.
Essa realidade 'nua e crua' gerou até algumas surpresas e momentos especiais durante as gravações. "Gravamos na casa da Paolla Oliveira e o Diogo Nogueira chegou lá. Ela se surpreendeu porque não estava contando com aquela chegada dele. O programa me deu oportunidade de ver pequenos momentos pessoais como esse. Com outra rainha, gravamos com a mãe dela fazendo empadão enquanto a gente entrevistava. Esses pequenos fragmentos de vida foram muito importantes", acredita ela, que se sente mais íntima de cada uma das entrevistadas.
"Eu conhecia essas mulheres, mas não as conhecia. Não tinha intimidade, era cordial. Hoje me sinto um pouco íntima de cada uma delas e ouvi histórias muito profundas relacionadas a saúde, abuso e até de relacionamentos tóxicos de uma pessoa que não esperava, mas aprendi a admirar cada uma delas".
Grávida do primeiro filho, Lorena Raíssa, de 17 anos, foi a rainha que mais impressionou Erika. "Lorena Raissa é a rainha da autoestima. Isso para mim foi muito enriquecedor. A potência da autoestima dela é surpreendente. A gente (mulher negra) não foi criada para falar que 'sou bonita'. A mais bonita nunca era eu. Ouvir a Lorena, preta retinta, falar isso, me ensinou muito. Aprendi muito nesse lugar", revela.
Pressão estética e mais ícones do carnaval
A pressão estética enfrentada pelas rainhas é um dos assuntos abordados no programa. "Eu tenho uma ideia do que é esse lugar, do que é estar com o pé doendo e a sandália arrebentada. Pode parecer bobagem, mas, para uma mulher que vive sob pressão e quer dar o seu melhor, é muito difícil. Quando ela chega em casa e vê na internet apenas críticas ao seu corpo, à sua roupa, à sua dança, ao seu jeito de ser, se não tiver uma mente forte, ela pira", destaca Januza.
Além das majestades, a atração também retrata histórias de pessoas que se tornaram ícones do carnaval e que encantam ao ritmo da bateria das comunidades em que foram criadas ou que foram escolhidas e coroadas.
Rotina Intensa
Aliar as gravações do "Rainhas Além da Avenida" com os ensaios da Viradouro não foi tarefa fácil para artista. "Estou exausta, mas muito feliz de concluir todas as coisas ao mesmo tempo, e não faltar ao ensaio da Viradouro. Já disse que não vou ser a rainha gostosona, porque não é minha meta. Viajei de São Paulo, de carro, para o Rio passando mal, e Junior (o noivo e produtor) dizia para eu não ir ao ensaio. Mas coloquei no GPS do carro e fui para o ensaio da Viradouro. Entre malhar e estar no ensaio, vou para o ensaio."
Para Erika, ser apresentadora foi uma experiência inesperada. "Nunca imaginei estar nesse lugar e muito menos no Carnaval, que era um lugar muito distante. Eu sei como a mulher negra é invisibilizada. Ela não tem protagonismo nem na sua própria história. Eu e Vitor, como pessoas pretas, temos a possibilidade de falar para um canal tão importante como o GNT sobre um assunto que durante muito tempo era marginalizado, o samba e hoje a nossa festa é uma das maiores do mundo. Conseguimos a oportunidade de mostrar a festa do povo preto."
A atriz explica que reinar à frente da Furacão Vermelho e Branco foi crucial para ser parte desse universo. "Ser rainha me agrega muito. Estar no carnaval é trabalhar em coletividade, o trabalho do ator também você estar junto, jogar junto. E levo muito do meu universo de atuação para Sapucaí. O Carnaval te agrega como pessoa. Essa coisa da coletividade é muito forte mesmo, de você entender que não é só pegar a fantasia em fevereiro, dar pinta e fazer fotos… para quem respeita o Carnaval, não é sobre isso".
Mudanças?
Questionada sobre a possibilidade de ser rainha de outra agremiação, Erika reflete: "Tudo tem seu tempo na vida, e, sinceramente, nem gosto de pensar nisso. O Carnaval é algo que quem ama entende, não dá para explicar. Amo tanto estar ali, me encontrei na Viradouro de uma forma tão intensa, que não sei se seria capaz de ir para outro lugar. A dedicação que tenho à escola, ao cargo, ao convite que recebi, vai além de mim. Carrego o sonho de muitas meninas que gostariam de estar ali, e a história de tantas que vieram antes. Por isso, me esforço para sambar o melhor que posso, ser o mais presente possível e honrar essa oportunidade."
Há cinco anos imersa no Carnaval do Rio, a mineira trilhou um caminho de conquistas, desde sua estreia como musa do Salgueiro, em 2020, até alcançar o posto de rainha de bateria da Viradouro. "Não sei se conseguiria simplesmente sair da Viradouro e ir para outra escola. Acho que, quando esse ciclo se encerrar, vou precisar me afastar um pouco do Carnaval, viajar, respirar novos ares. Sei que esse momento vai chegar, mas prefiro não pensar nisso agora. Talvez eu precise voltar a assistir pela TV, como fazia antes".