Dani Talamoni e o filho Enzo
 - Rafael Peixoto/Divulgação
Dani Talamoni e o filho Enzo Rafael Peixoto/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Capacidade de gerenciar melhor o tempo, maior flexibilidade e clareza na definição de prioridades, mais organização e disciplina. São características que a maternidade pode proporcionar e que ajudaria muito no dia a dia das empresas. Mas, levante a mão a mulher que, depois da gravidez, teve dificuldade para encontrar uma recolocação profissional. "Há pelo menos um intervalo forçado de dois a três anos entre o nascimento do bebê e a volta ao trabalho. E pior: quando retornam, 2/3 das vezes isso ocorre para uma vaga inferior ou para receber um salário menor em comparação à situação que se encontrava antes da gravidez", aponta Dani Talamoni, mãe do Enzo, de quatro anos. Quando era coordenadora de conteúdo da TeamWorker, estava em busca de projetos inovadores, com enfoque sociocultural, bem além do marketing, ela e Mateus Oazem, responsável pela empresa Gira, sentiram que deveriam dar uma força para essas mães.

SITE

"E por que não, ajudá-las a encontrarem vagas em empresas que valorizam a maternidade como um grande aprendizado para qualquer profissional? Foi assim que nasceu a nossa plataforma", explica Dani em referência ao portal 'Contrate Uma Mãe' (www.contrateumamae.com.br), banco gratuito de currículos que foi lançado em maio do ano passado e que acumula mais de 4.700 currículos de mães de todo o país. "Nós nunca tivemos a pretensão de trabalhar como recrutadores – não é nossa expertise. Estamos em busca de um parceiro para impulsionar e maximizar o potencial da ferramenta, mantendo a gratuidade e apoiando o retorno das mães ao mercado", planeja a profissional, que hoje está à frente do setor de conteúdo e estratégias de comunicação da empresa Gira.

GRÁTIS

Mamães e empresas se cadastram sem custos. Da empresa, o Contrate Uma Mãe só pede que deixe o logo no site, como demonstração de apoio ao projeto. "Infelizmente, nem todas aceitavam deixar suas marcas expostas. É por isso que estamos atrás de um parceiro", lamenta Dani, que é natural de Tambaú (SP).

A jornalista conta que a baixa contratação de mães tem uma explicação. "Muitas empresas ainda atuam seguindo uma cultura organizacional machista e retrógrada. São incapazes de darem liberdade à área de RH para adotarem metodologias de seleção e recrutamento mais modernas. E que acompanhem as evoluções do mercado tanto nas formas de trabalho (home office, horários mais flexíveis, jornada que leva em conta a qualidade de vida) quanto nos perfis dos profissionais (mais criativos, dinâmicos, com capacidade de equilibrar vida profissional e pessoal, bem diferentes dos workaholics que não se importam de fazer uma reunião às 20h)", destaca ela, que tem 41 anos. "As mães que deixam clara no currículo a informação de que têm filhos já são excluídas antes mesmo de o recrutador passar os olhos na parte das experiências", acrescenta.

PRECONCEITO

Na pesquisa para a elaboração do projeto, Dani e Oazem perceberam que o primeiro preconceito começava com a própria mãe, que tinha vergonha e não sabia como explicar aos recrutadores a razão de tanto tempo parada (dois a três anos, pelo menos). "Deixamos claro para elas que esse tempo dedicado à maternidade pode ser mais rico em aprendizado – eu como mãe e profissional posso assinar embaixo – do que qualquer MBA. E todos esses aprendizados podem ser excelentes para qualquer empresa", diz Dani.

Ela afirma que isso não é papo sobre o lado maternal, o amor ao próximo ou aquela velha história de que as mães dão conta de tudo. "Em nossas pesquisas, vimos que o cérebro feminino, quando se prepara para o parto e após o nascimento do bebê, tem um aumento nas atividades neurais do lado direito, aquela parte responsável pela criatividade, relacionamento interpessoal e controle e percepção das emoções. E está lá no Fórum Econômico Mundial, no relatório de 2014, sobre o futuro do trabalho: farão sucesso os profissionais que se destacarem em três pontos: inteligência emocional, gerenciamento de pessoas e trabalho colaborativo", ressalta."O colaborador de sucesso nas empresas do futuro – e já hoje, com certeza – é alguém tipo...mãe", completa.

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