Kelzy Ecard - Sergio Baia
Kelzy EcardSergio Baia
Por BRUNNA CONDINI | brunna.condini@odia.com.br

Rio - Com 25 anos de uma carreira bem-sucedida e premiada no teatro, Kelzy Ecard experimenta, aos 53, a experiência de ser conhecida do grande público. A atriz está no ar como Nice, em 'Segundo Sol', seu primeiro trabalho na TV. "Estou amando fazer. O convite veio do Dennis (Carvalho, diretor), ele foi me ver no teatro em 'Tom na Fazenda'. O convite para viver a Nice veio um tempo depois", conta.

Kelzy vive na ficção a maternidade amorosa de Rosa (Letícia Colin) e Maura (Nanda Costa) e a opressão do casamento com Agenor (Roberto Bonfim). O núcleo familiar na trama vem protagonizando cenas fortes e emocionantes, como quando a matriarca descobre que Maura é lésbica, ou ainda quando Agenor expulsa Rosa de casa porque descobre que ela é garota de programa.

"Essa família da ficção é incrível. Desde a primeira vez que nos encontramos, nos reconhecemos", constata. "Tem troca, carinho, como por exemplo, quando movimentamos cenas agressivas, nos abraçamos muito, antes e depois. Eles me ajudam com a experiência em TV. Roberto já fez 40 novelas e Letícia, tão jovem, mais de 14, acho. Nanda também".

TALENTO NA COZINHA

Fora da novela, Kelzy é mãe de Pedro, 15 anos, e diz que o filho está curtindo a recente notoriedade da mãe nas ruas: "Temos uma relação muito bacana, de mãe e filho, e somos amigos, parceiros. Ele vibra com a minha felicidade. Está se divertindo".

Como a personagem, ela também gosta de cozinhar. "Adoro fazer pratos, receber os amigos. Digo que o meu filho fica mal acostumado, querendo todo dia algo espetacular para jantar", brinca. "Acho que é uma forma de doação. Você cozinha pra que alguém desfrute. Alimento é afeto, fico feliz na cozinha".

IDENTIFICAÇÃO

O comportamento da Nice, que é submissa e tenta não se abater com a rudeza do marido, não gera identificação na sua intérprete. "Tive que encontrar como atriz meios disso reverberar em mim, porque o que reverbera muito em mim é a quantidade de afeto que ela é capaz de doar. Isso encontra eco dentro de mim. É uma personagem linda", define.

"Lembro que fiz uma cena em que ela dizia que cozinhava com tanto amor que, se ela pudesse, dava a comida pros outros. Ela está ali para doação. É linda, independentemente de atitudes contraditórias e preconceitos, que tem mais a ver com a cultura em que vive do que com a essência. Faço uma mãe brasileira e sinto que as pessoas se aproximam de mim com muita intimidade", diz.

A atriz afirma que as inspirações para viver a dona de casa são bem reais. "Já conheci muita gente na vida. Sou do interior, de Santo Antônio de Pádua, estado do Rio. Em criança, me lembro de mulheres que eram como a Nice", diz ela. "Conheci muita gente casada com marido machista. Aquela coisa do homem provedor. Então, se algo dá errado na criação dos filhos, foi a mulher. Na minha casa nunca foi assim. Minha mãe sempre trabalhou, teve opinião. Ela e meu pai dividem as coisas até hoje", completa.

RETORNO DO PÚBLICO

Kelzy acha que a reviravolta da personagem está para chegar logo. Nos próximos capítulos, Nice vai começar a trabalhar no restaurante da Cacau (Fabíula Nascimento) e vai fazer sucesso com seus pratos. "Ela dá pistas de mudança. É o 'segundo sol' da Nice", aposta.

A atriz comenta as manifestações que vem recebendo nas redes sociais. "O maior feedback que estou tendo é de meninas gays, sobre a descoberta materna disso. Uma disse que assistiu à cena de Nice descobrindo sobre a Maura, lembrando da própria história, abraçada à mãe. É uma história de superação", diz.

"Tem também os filhos que falam das relações de sua mães com seus pais. Um menino me falou que um homem como Agenor existe e é assim mesmo, machista e quer fazer a mulher acreditar que é incapaz. No fim, ele disse que o personagem parecia ter sido inspirado no pai dele e que torcia pela virada da Nice, pra que ela pudesse inspirar a mãe dele e outras mulheres", conta.

Envolvida pela repercussão, ela frisa: "É comovente pra mim, pensar que um trabalho seu pode inspirar positivamente a vida de alguém. O sonho de qualquer artista é que sua arte seja transformadora. E isso também dá uma dimensão da realidade, não é brincadeira".

REVIRAVOLTAS

Kelzy acredita em uma segunda chance para sua personagem, como propõe o mote do folhetim. Até porque ela mesma já se reinventou algumas vezes.

"Tenho verdadeira paixão pelo ofício, pelo teatro, mas não foi minha primeira profissão. Me formei arquiteta aos 21 anos", lembra. "Não acho que demorou para eu entrar na TV, acho que o momento é esse. Para viver isso desta maneira, com uma equipe extraordinária, numa história linda. Não suspeitava que ia gostar tanto de fazer novela. Me sinto sortuda de estar nesta", diz.

Ela constata, feliz, os benefícios de colher os louros do trabalho de mais de duas décadas na maturidade.

"Estar vivendo isso hoje é diferente. Fui precoce em muitas coisas, fiz faculdade aos 16. E em outras áreas da vida, as coisas aconteceram mais tardiamente. Me formei atriz aos 28, fui mãe aos 38, estreei em novela aos 52. São fatos marcantes. Acho que era no tempo que eu podia. É sempre no tempo certo", reflete. "Acho que temos segundas, terceiras chances. Eu já tive muitas, mudanças e reviravoltas. Dependente muito de darmos oportunidades às chances".

E ela deixa um recado para as mulheres que estão vivendo situações similares à da Nice: "Vocês são maravilhosas, acreditem nisso de verdade. Não deixem ninguém dizer o contrário".

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