Vilma Melo na peça 'Fulaninha e Dona Coisa', em que dividiu o palco com Natalia Dill - Divulgação/Nana Moraes
Vilma Melo na peça 'Fulaninha e Dona Coisa', em que dividiu o palco com Natalia DillDivulgação/Nana Moraes
Por O Dia

Rio - Meio século de vida! Quantos espetáculos, personagens, emoções e aplausos cabem em 50 anos de história? Segundo a atriz Vilma Melo, a resposta seria infinitos. A artista, que está no ar na série 'Segunda Chamada', da TV Globo, desconhece a palavra descanso, e só quer saber de trabalhar.

"Nunca me permiti muito sonhar. Mulher preta, há 30 anos atrás, você fazia o que dava pra fazer. E eu sempre fui fazendo tudo, com seriedade e muita disciplina. Faço comédia, drama, musical, espetáculo intelectual e por aí vai. Meu desejo mesmo seria viver em um país onde todos pudessem trabalhar de forma democrática e que não nos olhassem diferente por conta da cor da nossa pele", afirma.

Além do trabalho na TV, Vilma também está no cinema com o filme 'Três Verões', estrelado por Regina Casé. "Fiquei muito feliz de fazer parte dessa obra. A Regina Casé é uma aula. É incrível vê-la em cena. Com ela, coisas pequenas se tornam enormes. Você aprende muito observando", enaltece Vilma que além de atuar, também é professora do município do Rio e já trabalhou em escolas de Bangu e Realengo.

E como ela não para, a atriz também está na web série 'Onde Está Mariana?', que fala sobre feminicídio, no curta 'Prefiro Não Ser Identificada', além de ter estreado na última semana, o espetáculo 'Noite do Sorriso Negro', na Arena do Sesc Copacabana, uma comemoração pela mês da Consciência Negra. "O curta é uma obra que fala de uma mãe que perdeu seu filho provavelmente para o poder público. Ele tem o lugar de alerta, pois é uma mãe preta, tem um filho preto e a maioria de nós que morremos pelo poder público atualmente somos pretos".

Primeira mulher negra a vencer o Prêmio Shell de teatro de melhor atriz com o espetáculo 'Chica da Silva', em 2017, Vilma avalia o cenário da arte atual. "Eu tenho 32 anos de carreira e acho que ainda estamos bem lentos nessa questão da igualdade. Mas a gente consegue ver uma cena preta muito presente, principalmente nos últimos dois anos. Esse ano a gente tem um cardápio variado de peças. Os pretos estão se unindo e não estão precisando dos brancos para trabalhar", conta.

"Hoje, eu penso que o prêmio Shell coroou não só a Vilma, mas toda uma determinada classe artística que não tinha pisado naquele palco até então. Uma classe que não era só preta, mas também os trabalhadores operários de teatro. Foi uma comoção geral. O palco do Copacabana Palace ficou pequeno na noite da premiação. A minha premiação acabou sendo uma atitude política", continua Vilma emocionada.

Vilma quer mais que um mês que trate das questões negras. O que a atriz deseja é que os artistas negros possam sair do lugar estereotipado. "Tem dois espetáculos que fiz que deixam essa situação bem clara. Um foi na peça 'Quando a Gente Ama', com canções do Arlindo Cruz. A peça era composta por oito atores e cinco músicos, todos negros. Uma vez, perguntaram para o diretor por qual motivo escolheram só pessoas negras para este espetáculo. E o diretor respondeu: 'Por quê não?' Quando um espetáculo é composto só por pessoas brancas, não chama atenção de ninguém. Mas quando a gente tem vários pretos em cena, isso deixa as pessoas sobressaltadas", diz.

"A outra situação foi em 'Fulaninha e Dona Coisa', uma peça que tinha eu, uma atriz negra, sendo a patroa. E uma menina branca, quase loira de olho azul, que é a Nathalia Dill, sendo a empregada. Isso deu um nó na cabeça do público. Quando a gente estreou em São Paulo, as pessoas cutucavam umas as outras e a gente vê tudo do palco. Na cabeça delas, era óbvio que eu era a empregada e a Nathalia, a patroa. Por isso que eu digo que a gente só vai caminhar pra frente quando a gente parar de estereotipar os papeis", finaliza.

 

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